Poemas : 

Tributo a Catarina Eufémia

 
 



Nas folhas secas do meu ventre
sinto o entardecer da aurora,
vestida de luto

Nas andorinhas que não chegam
conto as rugas
na cera derretida,
que ainda desliza no meu rosto
num pavio, quase ignorado

Ceifaram-me o trigo
num Maio, ainda maduro
a terra petrificou-se
de branco marmórea

Nas folhas secas do meu ventre
a fome ainda chama por ti,
a liberdade ficou esquecida
na sombra, da azinheira
que te viu morrer


Conceição Bernardino



A coragem é a primeira das qualidades humanas porque garante todas as outras.
Aristóteles

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@cartascemremetente

 
Autor
Conceição Bernardino
 
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Enviado por Tópico
Runa
Publicado: 12/09/2012 20:15  Atualizado: 12/09/2012 20:15
Colaborador
Usuário desde: 24/04/2010
Localidade: Santo Antonio Cavaleiros
Mensagens: 1174
 Re: Tributo a Catarina Eufémia
Precisávamos agora de mais mulheres assim, para a liberdade nunca ficar esquecida...

Abraço amigo

Runa

Enviado por Tópico
girassol
Publicado: 12/09/2012 21:02  Atualizado: 12/09/2012 21:03
Super Participativo
Usuário desde: 02/10/2011
Localidade: Lisboa mesmo ao lado...a levo de braço dado.
Mensagens: 194
 Re: Tributo a Catarina Eufémia
O Povo tem memória curta, mas há quem não esqueça nem
a Catarina nem outras mulheres como por exemplo as mulheres
do Couço que são exemplos de coragem.
Gostei de ler-te Poeta

bjs

Enviado por Tópico
Sedov
Publicado: 12/09/2012 21:43  Atualizado: 12/09/2012 21:43
Super Participativo
Usuário desde: 27/08/2012
Localidade: Lisboa
Mensagens: 119
 Re: Tributo a Catarina Eufémia p/ Conceição Bernardino
Por norma não costumo retirar do bolor dos tempos os textos que escrevi há muito tempo. Não é por não me rever neles, eu não sou de renegar o meu passado e sentir orgulho em tudo o que fiz, mesmo as coisas erradas, elas são em parte a base daquilo que hoje sou. Mas não é meu habito usar esses textos porque sinto que eles eram ingénuos (penso que isto é comum à maioria de nós). O teu poema levou-me a recordar uns pequenos textos aquando do assassinato de trabalhadores agrícolas alentejanos contra a famosa lei Barreto. Aqui ficam e valem o que valem e assume como cometário pobrezinho ao teu poema.
(…)
Quando um homem tomba morto
Pelas balas da repressão
A terra não treme
Nem nascem papoilas vermelhas
Os homens olham-se estupidamente olhos nos olhos da terra
E perguntam na raiva dos dentes, porquê?
A sombra assassina pisou o trigo ainda miúdo,
As azeitonas ainda verdes
Foram esmagadas no peito dos trabalhadores alentejanos
As balas, as botas cardadas, as fardas verdes da GNR
Voltaram a matar nesta terra
Onde o árabe com sua mestria irrigou estes campos
Que hoje são pó e desalento.
Neste oceano de terra bravia não há milho rei
Mas há trigo vermelho

(…)

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/09/2012 10:22  Atualizado: 13/09/2012 10:22
 Re: Tributo a Catarina Eufémia
Catarina Eufémia, um dos maiores símbolos da resistência ao velho fascismo. Parabéns, Conceição.