Poemas : 

regressa-me o esvoaçar do cheiro das tílias

 
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Infalivelmente com a alba,
regressa-me o esvoaçar do cheiro das tílias,
eliminando alguns impossíveis de tão longínquos,

vertentes deste mar sem fim, ou destino.

Existirá sempre mais uma maré, mais um horizonte,
além, ali, aqui,
e quando miro as ondulações símiles às pétalas espalhadas em desalinho,
tocam-me as tuas mãos sossegando-me em sorriso.

Nadas.

E digo-te;
os ventos alísios serão sempre os desejados,
como uma prece regateada de tão longe,
um cais algures, um destino nenhures, tanto deserto em volta.

Quedam-se os corpos antes expectantes,
que se encabritavam em metamorfoses pelas síncopes do dia em versos liquidados,
sem remissão,

e o orvalho de antes converte-se em tempestade,

regressam procelas pelo ocaso,
acolhe-me em sussurro breve, eliminando estes impossíveis imparáveis,
insepultos,

eu.

Sobrevive-me.



(Ricardo Pocinho)


"Quando me instalo na aldeia - e nunca será para menos do que os três meses de Verão - hei-de levantar-me infalivelmente com a alba", Aquilino Ribeiro


"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno:veio o vento desfolha las..."
(Camilo Pessanha)

http://ricardopocinho.blogspot.com/
ricardopocinho@hotmail.com

 
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Transversal
 
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Enviado por Tópico
Nilsson
Publicado: 25/07/2013 19:35  Atualizado: 25/07/2013 19:35
Muito Participativo
Usuário desde: 09/07/2013
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 Re: regressa-me o esvoaçar do cheiro das tílias

a tua alba é um fruto atingido pela perfeição das pedras

um abraço, poeta


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/07/2013 20:25  Atualizado: 25/07/2013 20:25
 Re: regressa-me o esvoaçar do cheiro das tílias
no curto tempo dum verão, quão maravilhosas são imagens, os gostos que nos impregnam do palato a alma, e os sentires e que se vão harmonizando as benfazejas palavras. e assim sobrevive-se.

ao amigo e poeta Ricardo o meu abraço caRIOca.


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 25/07/2013 23:32  Atualizado: 25/07/2013 23:33
 Re: regressa-me o esvoaçar do cheiro das tílias
sim.

eterno,
direi,
como
as pétalas que nunca vestiram
os sorrisos perdidos em noites de maré
o doce murmurar do vento nas rochas
do mar tão amantes

inútil

o rigor das estações
dos dias,
impossíveis ou não,
das pedras chorando
nuas das tuas, nossas,
as palavras

pois

[não há
nunca houve
deserto
apenas silêncio
de espera]

... e como é bom este regresso às palavras
pelo teu, pela tua mão de Poeta

Sorrio-te


Enviado por Tópico
Srimilton
Publicado: 26/07/2013 00:28  Atualizado: 26/07/2013 00:28
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 Re: regressa-me o esvoaçar do cheiro das tílias
Falar da beleza, delicadeza e inteligência desse poema,
é sine qua non uma competência... que, confesso, não tenho.
Bravo!

Um abraço!