Contos : 

CIGARRINHO DE PALHA

 
A sicura daquela terra dura no meiado di janêro judiava da tropa mais fraca fazeno as inxada pulá. A pionada andava cum’as cumbuca d’agua dibaxo do subaco - sór quente de istalá mamona.
Os butão da camisa, preguenta de suore, andava tudo fora das casa… já o chapéuzin surrado vivia mais na mão du qui na cabeça banano ligêro a quintura da vorta do dia qui alí num refrescava. Vapor quemante. Lembrava mais a bêra da boca duma fornaia de ingein… E paricia inté qui só afrigia o pedacin di chão do amigo Jão.

Apesá di contemprá com zói piedoso a roça morrê aos -pôco safocada pelo mato e calor, Jão, “meeiro”, num disacursuava da labuita trabaiano duro contra o tempo… Rumpia di cabeça irguida puxano a tuirma bêco-acima como quem tinha qui dá inxempro de pirsistênça e fé prus mais novo.

O mêis das águas tinha chegado difato, mais pur -alí nem chuvisco tinha aparicido pra abrandá. A chuva qui dá vida e faiz a roça crescê e pruduzí delatava mais -duquê o pesssoar tava acustumado a ver ni -época difici déxano todo mundo afrito e disinquietado. O muin d’agua parô, o rêguin secô - as pôca cabicinha de gado já sintia e tinha qui matá a sede nus arto; Galinha, ganso, piru, angola, incrusive os pato di -bico e asa arriada andava sonso cassano inté mémo sombra-de-vaca pramode incostá. O céu azulin cum pôcas nuve branca e munto arta num dava sinár ninhum de chuva. Mémo ansim, nu inredor da tocêra du peito Jão carregava uma migaiazinha di isperança - mei-qui-ispaiada mai –tinha… Divê as inxurrada iscorreno aos montão das incosta daquela terra adorada.

Jão sabia condo e dionde vinha a provisão, o socorro pr’aquele sertão distante e inturriscado - Certeza intranhada diquê Deus num faia, e vai dá- a- mão pá -acudí, pra -ajudá, inhanti mémo du rompê du dia.
- “Éh… ele vê lá dicima a luita di quem trabaia!!!” - Afirmava sisudo, tirano o chapéu e pono ele na artura do peito, oiano pru céu. – Gesto de quem tem munta fé.

De longe, cá da tronquêra num dava pa -reconhecê quem era aquele pião que puxava a cumpanhêrada bem du ladin de Jão, só se sabe qui era bão de sirviço feito ele só! - Tamém, cum -aquela camisa inrolada na cara pa-tapá as-oreia dus musquito burrachudo, male male dava pravê o branco dus -zói e us buraco da venta do moço. Cum a barra da carça quaiada dipicão, ispin-beinzin e carrapicho beiço-di-boi garrado, siguia firme no gorpe - e a inxadinha andava aqui e ali, dum lado e dôtro na capina.
Na troca di -dia era ansim, a madêra deitava sorta e o cabra tinha qui acumpanhá na ida e vorta, subida e dicida nu pé do êito.

Com fé Jão trabaiava bem sussegado, como se tivesse dibruçado inrriba dum carderão de bóia - satisfeito qui-só-veno junto da moçada qui gritava e cantarolava as moda antiga infiado num mataréu doido dano a sigunda capina na roça de miíbra prantada numei -du-bêco da lavôra dicafé. Prantado num ato de fé, há mais de noventa dia. - Jão tinha fé mémo, pruquê lucro aquilo nunca deu.

Já no distampá do cumeço da virada do dia, inhanti do café da tarde butucá - no longe, pru ditrais do ispigão, deu pra -avistá o tempo quente pelano, agora dimudá.

O vento soprano fazia ridimuin rudupiá levantano paia nas baxada e lançante, e isso impurrava as nuve alegrano o sembrante de Jão qui já via a possibilidade de mais tardar, no amanhã, lançá semente no lombo daquela terra moiada. - É que todo ano ele aguarda a época certa da prantação do fejão, é, do fejão das águas.

Aos pôco a aligria inha omentano e Jão cunsiguia inté ver nus barranco ribêiros d’agua brotano. Na cara da pionada havia risadas isprimidas e inté mémo isparramada, e condo as nuve iscura curria fazeno riduvú, os homi brincano e caçuano pulava feito os curiscos qui -riscano cortava o céu iscuro no arto du ispigão bem purriba da capoeirana onde rivuava um bando de urubú.

Mais imbaxo…

De compania com a rapaziada, dileve, bem mais atrais cum inxadinha magrela na mão - quais um cacumbú di rancá minhoca, siguia Sô Adão manco, (que divia chamá Adão Inrola Pito) carregano na cacunda o peso dus quarenta e um ano de pura paciênça - Manco dinascença, tinha uma das perna mais curta qui-a-otra. - Se num bastasse o tamanhe da ferramenta de trabaiá, o cabra aproveitano a pôca sumbrinha fresca d’uma imbaúba qui bobava pur-alí, diveiz incondo, quais -qui -sempre, diitirin, dibruçava a bichinha e sentava purriba pramode inrolá um CIGARRIN DE PAIA… só pa-picá e apolegá o fumo nas puntinha dus-dedo ele cum -aquela corage toda demorava umas meia hora - dispois trançava a paia entre us dedo, alisava, picava, lambia dum lado e dôtro pra dispois deitá o fumin no colo dela;
Com munto zelo e cuidado inrolava bem inroladin e marrava o pito, chuchano este pru-ditrais das-oreia… Era pá –pitár dispois; Aí sim, fazia ôtro cigarrim passano pru mémo processo - acabano, chamava nele o burrai e demororava mai-meia hora pra -dá fim nesse macaia.

Nu fim desta árdua e ixigente pelêja - agora bem mais animado qui inhanti, eirgue a inxadinha iscora no cabo dela, dá uma rapada na güela e uma cusparada di lado e pãe a contemprá di quexo impé o revorto du tempo na cabicêra… Num demorô, lembrô du otro cigarrim; Deu dimão nele e sentô traveiz. - Aaarapois!!!
Inconto isso mais imbaxo no imboque do buqueirão - Rosa, sua cumpanhêra, um imprasto di muié, cum medo medonho du tempo qui arvoraçava ispiava temerosa a forte chuva qui-airmava - filiz, mais percupada com o delongar da noite.

- É qui -tava fartano corosene há treis dia nu bico da lamparina - e Rosa ansiosa temia qui Venanço o derradêro vendêro fechasse as portas da única quitanda inxistente pur -aquelas bandas inhantis du-pocá da noite. Da grêta da jinela du istalêro onde morava, oiava pá –pedreira assustada iscuitano os istalo e as truvuadas… Antão curria e iscondia badacama contano as-hora nus-dedo pramode ver Adão chegar.
- Rosa num facilitava, tinha munto medo mémo de raio - tapava inté us-zuvido pramode num iscuitár.

- Ni -época di chuva a coisa fica preta na roça e o breu da noite assusta; Num tem lua nem istrelas, e a iscuridão nas incosta fica ainda mais sombria, e mete pavores. - Rosa suzinha e afadigada vivia ora dibaxo, ora purriba da cama rezano o terço pulano as conta e tropeçano os mistérios - inconto qui Adão, numa boa, iscorado num tôco e no rabo da largata acindia ôtro pito e sortava mais fumacinhas troceno pra qui a chuva qui airmava viesse logo e durasse ó -menos 40 dia sem cessá.
Jão, o meeiro, quér ver a chuva dibruçar no lombo daquela terra pramode podêr prantár - Adão tamém quér, mais é pra-num-ter qui nu pé eito tão cedo vortár.

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Mandruvachá
 
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