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Sofia e o vilão do mosteiro

 






......- “ Você pode ouvir a minha confissão?”, indagou Sofia revelando finalmente o motivo de ter ido até o lava rápido self service, surpreendendo o operador da retro escavadeira que não estava entendendo o que havia por trás daquela aparição repentina.
...... -“ Meus negócios não andam bem sem mim, você deve saber. Afinal, é a dor de estomago do dono que tange a boiada.” disse o maestro aproveitando-se para dar uma rápida olhadela no decote da trapezista.
...... - “Uma alma penada pode fazer vigília durante o dia para provar seu valor. E se eu pudesse ter esses flocos de espuma plaxiglass sobre o gramado, sempre brilhando através da névoa, os olhos mortos da hidra de Lerna se fechariam como uma lagarta”, retorquiu Sofia, aparentemente lisonjeada.
......Porém, o vilão do mosteiro realmente existia. Tanto quanto aparecia e pouco a pouco passou a mostrar-se mais e mais. Mais dia ou menos dia iria aparecer, se bem que só meio a meio ou de quando em quando. Quase tanto poderia se dizer que foi só então que a lei foi aprovada pela providência divina com uma ajudazinha da mão do céu. Maradona que o diga quão providencial pode ser uma manopla celestial! Mas, ela permaneceu inflexível e deixou-se cair na espreguiçadeira da varanda.
......-“ Sei... sei que tenho hora marcada. Queria ser atendida logo. Tenho outros afazeres e compromissos “ ela justificou, gesticulando muito para os três mariaches ao som das guitarras.
...... - “ Então! Até agora, toda a minha vida oscila entre o sombrio e a parede. Deus sabe onde passei minha infância! O movimento pendular vem até mim como um sonho, alternando alegria e sofrimento ímpares. Vou abrir a porta para que a penumbra possa ressuscitar”, começou ela, diante do seminarista.
...... E continuou falando enquanto apanhava o troco estendido pela bilheteira do metrô:
......-“ Gostaria mesmo de poder dizer mesmo mantendo o silencio total. Sou livre e bem sei que Michael Jackson esta vivo em algum lugar do planeta Vênus. Saiba que não sou sua irmã e jamais iria desprezar a madrugada, mas admito que devesse agradecer antes de amaldiçoar. “
......Desapontou-se ao perceber que toda a garagem estava vazia. Sequer um piloto havia ali. Fechou a burca de repente, sem mais nenhuma palavra. Jamais poderia imaginar que aquela bilheteira que estava a sua frente era a mesmo jovem com quem trocara figurinhas há cinco anos. Juntas completaram um álbum da Lollypop. Mas estava ali, numa frescura sem par e terrivelmente sofrendo de gastrite, evitando repetir as palavras que não tivessem pelo menos uma vogal tônica. Em meio às cinzas do que mais tarde seria apenas um pó comum, desprovido de graça e vida, reconheceu o valor da tentativa.
......Não se preocupou por muito tempo. Um frade pode lamber o dedo na panela de chocolate e por certo, mais de uma pessoa já havia fracassado tentando atravessar aquela parede sem um aríete eficaz...





 
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FilamposKanoziro
 
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