Prosas Poéticas : 

Carta a um Silencio Prolongado ...

 
Carta a um Silencio Prolongado ...
 
Évora, 01 de Fevereiro de 2016

Meu amor adorado ...

Meu coração, não sei porquê, 'inda bate por ti.
Meus olhos cor das ventanias parecem dois lamentos,
dois poços de amargura, dois eternos vendavais.
Como pode o tempo passar e tu não?!
Como pode a idade penetrar meu corpo e não te apagar?!
Como pode separar-nos o destino e unir-nos por indiferença?!
A tua fria, funda e prolongada indiferença ...

Lembras-te daquelas horas de ternuras e olhares?
De quando os nossos corpos como orquestras se fundiam?
De como dos nosso beijos se faziam recitais?
Não acredito que te esqueças!
Ainda sinto o cheiro do teu corpo no meu corpo,
o toque da tua pele na minha pele,
o teu intimo silêncio, nas entrelinhas
das palavras que não dizias, quando me sussurravas ao ouvido ...
De ti, há muito que nada sei, só das saudades que te tenho,
que embora trazendo dor, vazio e solidão,
são o único que tenho de ti.
Aceito essa dor só para não perder as saudades, e por isso,
não te perder para sempre!
Amo-te tanto que aceito que partas!
E o Poeta que em mim vibra, vibra ainda mais ...

Tal o tamanho da minha dor!
Sabes, às vezes, sinto que o destino não me quer mal, que não me odeia!
Só precisa de mim para escrever, como aconteceu pela vida fora,
com tantos outros que me antecederam!
E tanto que escreveram! Tanto!...
Mas como sofrer é indispensável à escrita,
de quando em quando, nascem alguns "privilegiados-condenados"!
Sinto tristeza e alegria, amargura e êxtase por me saber um deles!
Êxtase por ser eleito, tristeza por ser um condenado! Um Rei sem trono!...

Ah, se tu pudesses ler estas palavras,
se as pudesses tocar, sentir, aconchegar nas pupilas dos teu olhos,
saber-me-ia cumprido! ...
Mas para nós já nem isso! Nada há! Somos dois tristes impossíveis,
eleitos p'lo destino, marcados p'la poesia.
Dois mártires dos versos. E quem poderá compadecer-se do meu holocausto?
Quem?! ... Alguém?! ... Ninguém!!!!
Se assim não fosse, o Poeta que há em mim, que nunca quis nem pedi,
já não vivia ...

Foi assim a minha vida inteira , um "campo-de-concentração-de-mágoas", dores
angústias e lamentos...
Porque acreditaria eu que tu serias diferente?!
Que ingénuo que fui, tolo, tonto, imaturo ... um crédulo!
Não em ti mas no meu falhado desejo de felicidade!
Estou cansado de estar só, acompanhado em solidão,
um estrangeiro em casa, sem casa. Estou magoado!
Sou magoado! Vou magoado! E alguém se importa? Nunca se importaram!
Nunca!...
Começam a faltar-me palavras para poder expressar tudo o sinto neste momento.
E tremo enquanto penso em ti, enquanto te escrevo...

Talvez se te não amasse tanto me fosse mais fácil exprimir com discernimento
este pensar que me arrasa e que tanto me avassala ...
Que bárbaro destino viver longe de ti sem de ti nada saber!
Partiste, e eu, fiquei só e desesperado sem saber se alguma vez tornaria a viver!
Sim! Estou morto! Acredita! Contudo, não choro, esgotei todas as lágrimas de meus
olhos!
São hoje dois poços frios e secos de uma amarga solidão causada pela ausência
dos teus!
Adeus ... adeus ... adeus!!!
E não duvides de mim. Foste o único amor que ousou perpetrar meu coração ...
E como tudo, - na vida da minha vida - acabou!
Não em mim mas para mim! D'hora à vante não mais te tornarei a escrever! Adeus ...

Despeço-me de ti para sempre
ausente e triste, junto a uma lareira
que embora quente já não me aquece!...

Do sempre teu,
Richard

P.S./ Desde que partiste - gelei!

... carta para alguém que morreu, ou, que,
pelo menos, já deveria ter morrido dentro de mim...


Richard Mary Bay
"o Último Romântico"

 
Autor
SirRichard
 
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