Trago uma dor no peito,
profunda e cava,
que aumenta quando me deito,
é mulher, dor doce e brava.
E essa toracalgia,
é moínho de água,
de olhos tamanhos e doía,
sem rancor nem mágoa.
Quando inspiração procuro,
é de vento o moínho.
Quando o ar é mais puro
a dor não passa, nem a vinho.
Sobretudo, falta-me a tua voz.
E que insolência a minha
querer findar esta dor atroz...
Que na carne se me espinha!
Sou fiel ao ardor,
amo esta espécie de verão
que de longe me vem morrer às mãos
e juro que ao fazer da palavra
morada do silêncio
não há outra razão.
Eugénio de Andrade
Saibam que agradeço todos os comentários.
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