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Urna

 

Já sinto o cheiro da madeira
de carvalho e o lençol de cetim

junto da pele
macilenta, cinzenta-arroxeada
descolorada, vazia de mim

meu coração parou de bater
e o cérebro, antigamente carmim
não pensa em nada

e o rigor duro e puro
espalha-se pelas pálpebras,
pescoço e membros

é o fim

putrefação, decomposição
alimentando-se de dentro
das minhas entranhas

explosão que este habitat
não protege da purga
a acontecer

fecha a tampa e as chagas
tamanhas que fiquem
nesta cova funda a secar, sem sofrer…


 
Autor
Nininha
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/07/2017 13:37  Atualizado: 01/07/2017 13:46
 Re: Urna
...te vejo como o sol, a morte a cada dia é festejada com calor e fogos dourados dos seus raios, amanhã é um novo dia, a cada novo dia é dia de renascer. Parabéns.


Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 01/07/2017 13:38  Atualizado: 01/07/2017 13:38
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: Urna
Fúnebre. Mas com beleza poética que te acompanha seja cantando a vida ou a morte. Beijos, querida poetisa amiga!


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 01/07/2017 13:42  Atualizado: 01/07/2017 13:42
 Re: Urna
Olá! Nininha,

Sombrio mesmo... até arrepia...

Mas não menos poético, eu vejo a urna se abrindo e as cinzas sendo derramadas sobre as montanhas e o mar...
Impressionante!

Bjo


Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 05/07/2017 12:00  Atualizado: 05/07/2017 12:00
 Re: Urna
Desencantos que vi nos descipando aos poucos de um jeito que nossos corações gritam as amarguras onde os ecos morrem


Enviado por Tópico
Semente
Publicado: 08/07/2017 13:11  Atualizado: 08/07/2017 13:11
Membro de honra
Usuário desde: 29/08/2009
Localidade: Ribeirão Preto SP Brasil
Mensagens: 8560
 Re: Urna/ PARA NININHA
Ninhinha, alma boa e querida!

Este poema é algo indizível. Qualquer coisa que eu
escreva será uma tentativa frustrada de te passar o que senti. Contudo, ouso aqui, respeitando todas as diferentes maneiras de crer, para tecer algumas considerações baseadas em minhas convicções de espírita kardecista que sou...
Leitora assidua de livros com teor de vida e morte e imortalidade do espírito, posso te dizer sem medo de errar: seu poema transcende a barreira da matéria densa para falar das sensações da alma, vivíssima , que ainda não desencarnou do corpo morto.
Um poema digno de figurar na literatura poética do Espiritismo, pela mensagem viva que a autora grafou...

Mil parabéns. Beijinhos com admiração!



Enviado por Tópico
Eureka
Publicado: 09/07/2017 18:14  Atualizado: 09/07/2017 18:14
Membro de honra
Usuário desde: 01/10/2011
Localidade: Lisboa
Mensagens: 4297
 Re: Urna P/NININHA
Olá Menininha adorável,

Teu poema replecto de sensibilidade versa a morte no respeito que também o versar a Vida nos merece.
Mas, o que para uns será macabro, para mim é apenas um momento de vida e amor, quando respeitamos as duas coisas, sem deixarmos de falar na que menos nos agrada.

Este teu poema tem assim, um valor muito superior para mim, pela forma essencial como tu o versaste, no embalo que deste aos versos com os vocábulos que escolheste.
Tudo verdade, tudo parte da Vida, não vale a pena fingir que não existe - a morte. Será ela a nossa última etapa nesta Terra, porque não versá-la?

Todos nascemos e todos morremos, são essas as duas prorrogativas que ninguém poderá alterar, por muito dinheiro ou poder que tenha.

Parabéns querida amiga, és um monte de surpresas e eu adoro-te
Beijos

Maria/Eureka