Poemas : 

Divago XX

 
O homem renasce na palavra tensa
Nascida gente neste tempo sem tempo
De impropérios reflectidos em espelhos
A terra sucumbe à sua fome imensa
Grão após grão, momento a momento
Quando desgasta os seus olhos velhos

A palavra morre esquecida no papel
Não dita, não falada, surda e calada
Mar vai, mar vem e o vento a cantar
O cheiro a rosas secas de sabor mel
Esquece a memória antes enterrada
Mar vai, mar vem de ondas a nadar

O velho corpo serpenteia num olhar
Onde já navega perdida a solidão
Esquecida de si numa outra saída
Silenciada num abraço desse mar
Diluída em gente de tamanha ilusão
Num pedaço de chão sem mais vida

O olhar perde o último horizonte
Eclipsado entre tudo e nada mais
Entre as mãos pedintes e abertas
A água louca e já salobra na fonte
Chora e enterra essas vidas banais
Profanas rezas de religiosas ofertas

O pó nascido do pó morre também ali
Voa como as folhas secas do outono
No ar entre tanta terra e outro mar
Entranhado nas pedras que conheci
Agora silenciadas num profundo sono
Amordaçadas num sonho a definhar

A morte ressuscita ferida de morte
No último suspiro do miserável ser
Que se contorce no chão lamacento
O Sul perdeu noção de onde é Norte
Foi por aí, caminhou sem saber viver
Algures por aí, cada vez mais lento


A Poesia é o Bálsamo Harmonioso da Alma

 
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Alemtagus
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