Enviado por | Tópico |
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Alemtagus | Publicado: 12/01/2025 18:35 Atualizado: 12/01/2025 18:35 |
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Re: O retrato do retratado p/ atizviegas68
Tentei lê-lo num só fôlego... missão impossível! Respirei mais uma vez e quase consegui, mas com três paragens... copiei-o e deixei que navegasse na minha página a seu bel-prazer, mas com rédea curta, com as minhas vírgulas e exclamações. Vou reler!
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Enviado por | Tópico |
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Rogério Beça | Publicado: 12/01/2025 20:27 Atualizado: 13/01/2025 16:27 |
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Re: O retrato do retratado
[Em atenção ao Almtagus, e ao comentário que fez acima, resolvi comentar duma forma que podes achar estranha, Zita:
resolvi pontuar o belo texto que enviaste para lermos. Espero que não te ofendas e recomendo a outros a fazê-lo à sua maneira, de preferência, diferente da minha.] Inquilino. Um rosto, um busto de lábios retilíneos, olhos guardiões de cor, claro pela sépia argentada do tempo. O pó exilado na moldura recorta, em silêncio, as memórias, reflexo d`outras ossadas, longe do alcance. O coração, os tons, as vozes, os pensamentos desenham epitáfios com pecados, paixões, virtudes. Ficam a nu na história dos erros, saem da fundura do chapéu esmaecido pelo sol. Entre palavras segredadas no poente, que caíram sobre a mesa que mendiga, o centro do momento, no retrato, o exílio das veias em debrum, entram no sereno da noite, vagueiam como tigre. Com o coração na garganta em golpes fincados nas rugas, nos suspiros, sopro interior no exterior, o corpo gasto pelas batidas das pálpebras nos abismos do vento. Nos ocos olhares, frémito a vida tocada na dor, na carne, na cadeira, onde tece o lugar à roda do pensamento. Distante do rosto que outrora fora o retrato dos olhos, sonhando brilhos, espumas, abismos, olvidos enlouquecidos, ignoram cárceres, amarras, cicatrizes, pés que caminharam sós, nas feridas que os caminhos levaram ao finito de cada um. Abandono acolhido nas mãos trémulas como sismos, ao ritmo do incansável relógio que descreve solidão em incesto. Com noite erguida, no retratado do retrato, a máscara bolorenta da inocência das estrelas, de deus, do pião. Um emaranhado como a velha silva, a que ninguém olhará, nem ao ramo decepado a que o pássaro não se aninha, a melancolia da lua nova. Da idade da seda parte-se um dia sem lembrança, como soledade de ilhéu no desfazer de velas brancas. No remoinho do vento, o espelho racha, fecha-se a estrela. Só o corpo lhe pertence e a rosa na hora da morte. |
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