Poemas : 

Caravelas azuis céu adentro

 
Desconheço as certezas que me atraem ao desconhecido.
Um movimento, causa e efeito, no brilho desta dúvida circular
Não tenho esperança de me encontrar nas perguntas que guardo
E guardo-as religiosamente como segredos esquecidos no tempo.

Desacreditei teorias sobre a dor sem ter sofrido.
Vou em procissão levar toalhas quentes à angústia que me consome
E pelo caminho, idealizar a morte por baixo da terra
Por não acompanhar a gravidez das estrelas todos os dias
Nem assistir ao seu parto anunciado com ardor fora dos olhos.

Esqueci-me de acreditar

Caravelas azuis céu adentro por dois mil anos
Tenho esperado o meu nascer para começar.

Na origem a indiferença onde me guardo sem ambições
Cai o lorpa na arcada por um abraço que ninguém me deu
Cresci e morei sempre à porta sem entrar
Com medo de pisar o mesmo chão, conhecer o padrão e ficar

Esqueçam-me todos, todos os dias em que não voltei
Esqueçam-me os lamentos e as ilusões que emprestei ao mundo
E afastem-me de vez quando chegar a falar de amor.

Esqueci-me de acreditar

Caravelas azuis céu adentro por dois mil anos.
Elevam-se adagas e escudos pela morte de um imperador.
Desenhei um rio com margens e com corrente
Porque só quero uma vista para o Nilo, na tarde da minha derrota.


Viver é sair para a rua de manhã, aprender a amar e à noite voltar para casa.

 
Autor
silva.d.c
Autor
 
Texto
Data
Leituras
967
Favoritos
1
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
12 pontos
2
1
1
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 13/05/2020 01:26  Atualizado: 13/05/2020 01:26
 Re: Caravelas azuis céu adentro
*Estava saudosa de ler algo assim, que me prende o olhar, o peito, a mente. Onde me coloco entrelinhas, ondulo na introspecção exposta.
Especialmente o início, tão eu. Vivo entre questionamentos íntimos, até o que faço de corriqueiro, tornou-se questão filosófica na minha alma.
O fascínio da escrita mostra-se aqui, onde em liberdade as minhas caravelas azuis singram no céu da tua escrita....
Perdoa-me, apossei-mepor uns instantes da tua escrita.
Abraçoska*