Poemas : 

noves fora

 
nada para dizer digamos
que abri o espelho na página
certa e é certo e sabido
que de todas as vezes
que fiz dezassete anos
estive no topo da torre eiffel
a comer tremoços e a olhar
do cimo do céu
para o princípio de tudo
para ti

é assim
que se faz quando o mundo
inteiro tem a nossa idade

mas hoje querida jeanne
é dia de natal
(ou uma manhã de maio
no bosque de bolonha)
já não estás sob o meu peito
mas continuo deitado
faz bem alongar a quem
ganhou peso ou perdeu
verticalidade

só tu sabes por isso
volto à noite
está bem? para te contar
de novo do novo
do mark lanegan a ti
que nunca gostaste do pó
dos discos
nem da estrada

não é por veres
o verdadeiro hemisfério
deste rosto que tens
de fugir mas tudo bem
talvez seja esse o fim
de quem não sabe
de anéis lunares ou lá essas coisas
que se arrumam na última
estrofe de um poema

 
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benjamin
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 12/11/2021 12:38  Atualizado: 12/11/2021 22:02
 Nada, fora o novo …
























































Nada, fora o novo,
Sempre o mesmo,
Digo de mim pra
Mim, sem sentido,

Não é tragédia,
É a vida em que
Vivo, quotidiana,
À nona dimensão

Dum outro, tendo
A consciência como
Escarro, crosta do
Que se sente, do

Que se vê, se conhece,
Como crivo obstruído
De um lado apenas,
Presente amargo



































Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 12/11/2021 14:06  Atualizado: 23/02/2024 18:37
Usuário desde: 06/11/2007
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 Re: noves fora
Quem é que come tremoços na Torre Eiffel?!
É mesmo coisa de poeta.

Mas esse alto que serve de lugar ao sujeito poético tem antes algumas metáforas que importam destacar: Teres um livro cujas páginas é um espelho está destinado aos predestinados. Por mais óbvio que depois se torne não deixa de ser imensamente belo até pela imagem que um leitor mais imaginativo possa ver duma figura masculina a esfolhar um calhamaço de espelhos e a rever-se em cada uma delas, ou será deles (espelhos).
Um convite ao reflexo dum ponto alto.
Isto de contar ao número de vezes que se faz 17 anos é uma tabuada difícil. Mas dá para tentar calcular a idade do sujeito poético.
Como é no plural deve ter 34? Acertei?

O fim da primeira estrofe marca a dedicatória, e o
"...para o princípio de tudo
para ti..." toma proporções gigantes.

Depois em três versos voltamos a ter todos 17 anos, a idade em que o mundo inteiro tem a nossa. É o que chamo a média adolescência (15-17). O limite máximo da igualdade e da fraternidade.

Faz bem alongar, prolongas. E o nome Jeanne, tão afrancesado leva-nos novamente à Torre, como se nunca de lá tivéssemos saído.
Nessa terceira baralhas-nos a noção de tempo de Natal à Páscoa, num regime muito religioso (lol).

O tom de promessa da estrofe seguinte marca o poema de intimidade, serena, sem dor, grata.

E deixa-se numa última, gloriosa. Cheia de falso desdém, num tanto se me dá que nos dá tanto.
"... ou lá essas coisas
que se arrumam na última
estrofe de um poema..."

Achei graça ao "...de um..." sem contracção, valorizando o Um e o Poema, vincando ainda mais a antítese com que terminas.

Já a palavra "...coisas..." sabe-me a estranho, mas um poema tem se ser imperfeito, e assim, foi.

Num poema com tanto ficamos com a dúvida que pode suscitar o título: nove fora, nada!?

Abraço irmão

Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 12/11/2021 19:41  Atualizado: 12/11/2021 19:41
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 Re: noves fora
embora seja de uma geração mais nova, penso ter percebido bem o poema. gostei da leitura.

Enviado por Tópico
Migueljaco
Publicado: 12/11/2021 22:16  Atualizado: 12/11/2021 22:16
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 Re: noves fora
Boa tarde benjamin , parabéns pelos vossos inspirados versos narrando fatos da vida humana, um abraço, MJ.