Poemas : 

O Homem De Lã

 
E na cidade de céu em chamas
Uma orquídea vicejou no asfalto
E o que era semelhante ao vidro
Simplesmente não se quebrou.

Lembranças de antanho de algo que não se viveu.

Quando passou aquele cometa
Algumas senhoras caíram de joelhos
E pediram aos deuses, em suas orações,
Que o trigo não fosse mais feito de pão.

E os cabelos do príncipe,
Não o de Maquiavel,
Nem o de Exupéry,
Mas do Enola Gay,
Lembraram à atmosfera do porvir do aloirado cogumelo que nunca foi azul.

Quem se lembra da menina do diário nazista?
Quem, além de mim, lamentou a morte de Brecht?
Nenhum de Nós cantou David Bowie
Quando o Biquíni era Cavadão.

O homem de lã parecia ao rei nu.
Porém todas as crianças estavam mortas.

Os carros pararam na contramão.
Os pássaros voaram até morrer.
As mãos fizeram orações
E no céu um novo sol foi impedido
De conceber um novo aeon.

Não pude conter o meu grito de horror.
Não pude sequer segurar com as mãos.
Tentei sorrir, mas de tristeza eu chorei.


E o homem de lã apertou o botão.
A cidade de céu em chamas caiu
E a única orquídea que brotou no asfalto morreu
Negando ao futuro o legado de nossa existência.





Gyl Ferrys

 
Autor
Gyl
Autor
 
Texto
Data
Leituras
677
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
0 pontos
0
0
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.