Poemas : 

luto por lutar

 
o sabor cru de um corpo furtado
que se engole e se cospe termo a termo
é tão acre quanto um coração ermo
tão frio como uma jarra vazia
desse sussurro à espera em cada brado
na viuvez do meu voo, cotovia
fútil a capitular
em mudez

 
Autor
benjamin
Autor
 
Texto
Data
Leituras
578
Favoritos
2
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
32 pontos
8
4
2
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.

Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 15/12/2022 11:28  Atualizado: 15/12/2022 11:28
 Re: luto por lutar
Poesia mais que encanto, verdadeira maravilha


Enviado por Tópico
Abissal
Publicado: 17/12/2022 23:03  Atualizado: 17/12/2022 23:03
Membro de honra
Usuário desde: 27/10/2021
Localidade:
Mensagens: 558
 Re: luto por lutar
tenho pena que não escreva mais, gosto sempre muito de ler os seus poemas, como já lhe disse.
bom fim de semana.
Abraço


Enviado por Tópico
MarySSantos
Publicado: 19/12/2022 14:46  Atualizado: 19/12/2022 14:46
Usuário desde: 06/06/2012
Localidade: Macapá/Amapá - Brasil
Mensagens: 5735
 Re: luto por lutar
às vezes o contexto que se apresenta
não incentiva o respirar.
a coragem de continuar é do instinto de sobrevivência.


Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 26/01/2023 11:02  Atualizado: 26/01/2023 11:02
Usuário desde: 06/11/2007
Localidade:
Mensagens: 1938
 Re: luto por lutar
Este título é muito enganador.
Tem uma das figuras de estilo (adoro criar coisas) mais estranhas, um defeito de linguagem, a ambiguidade. O autor, na sua capacidade que já nos habituou, poderá chamar de polissemia, se quiser.
A ambiguidade pode surgir em palavras. Aqui o “Luto...” é a prova mais clara disso. Ela pode ser do verbo, que não carece de significado, ou do nome.
Assim o leitor já tem duas hipóteses: ou luta, ou está de “luto...”.
Um dos sinónimos mais improváveis e estranhos que conheço para luto é nojo.
Portanto, e fazendo uso novamente da ambiguidade, meter nojo, é estar de “luto...”, perder alguém para a morte.
Por isso, lutar ou enojar podem ser o mesmo! Como podem reparar, também me agradam silogismos. Nem sempre concordo com eles, por exemplo, eu gosto de um poema e um poema é bom, logo eu sou bom. É capaz de não ser bem assim...
Acho que um poema é quase sempre uma revolução, um brinde à indiferença. Um anti-vazio.
O título enquanto frase é também ambíguo. Porque ele é uma declaração de quase indiferença. Ou seja, o “fazer por fazer” é carente de objectivo, de ambição. É mecânico, envolve pouca paixão, quiça pensamento.
Pode-se lutar para dignificar a luta, por desporto ou por dinheiro, como os boxers. Ou os gladiadores.
Além de ambíguo é uma antítese.
Quem faz um poema assim? Não este autor.

De uma só estrofe, estamos perante uma esparsa de oito versos sem métrica declarada e com rima onde lhe apetece.
Assim o que nos é proposto é ignorar a forma e reparar no conteúdo.
Cheio de imagens ricas e variadas, o que salva o leitor é uma palavra que aparece no sexto verso que associamos ao luto, a “...viuvez...”. Talvez aí consigamos decidir qual o “luto...” a usar no título.
Atenção, que existem outros versos cheios de significado que também nos levam por esse caminho, mas exigindo uma certa normalidade, de todas as expressões e palavras usada, apenas o viúvo faz o luto.
Se começarmos pelo começo há no “...corpo furtado...” um indício de morte, no primeiro verso. Sendo a mesma um “...termo...” como nos diz o segundo.
Não é difícil imaginar uma “...jarra vazia...” cheia de cinzas de crematório, em vez de flores.
Sendo o sujeito poético uma cotovia fútil, ave cantadora que encanta, que dizer da sua mudez. Porquê muda? Porquê este adjectivo de superficialidade?
Que morte é esta que atormenta o sujeito poético? A verbo capitular também pode ter vários sentidos, sendo que como estamos perante perante um exercício de escrita tem a graça de ser uma forma de fragmentar um texto longo (o capítulo), como o render-se, bem mais sério. Assim havendo uma rendição, o “luto por lutar” pode ser bem diferente.
Ambíguo?
Sem dúvida. Eliptíco?
Certamente.
Mas também áspero, com um sabor a rude, no limiar do prosaico, mas com uma qualidade que me deixa sempre desconcertado e raramente indiferente.

Obrigado pela leitura

Abraço irmão