Poemas : 

Pedra

 
A vida é um beiral onde equilibro meus largos limites
O vento diz que urge o movimento por arestas azuis
Leves suicídios burilam o amor em plexos longínquos
A inocência cai, eis desnuda, diáfana sem pestanejar
Uma névoa passa, irrecuperável, sêca diante de casa
Onde um último gozo se aguenta em taciturno beiral
Se há lado bom na morte, é que esta nunca se repete
A noite baixa pelo quintal com uma estranha melodia
Uma viola quebrada cerra o tempo, inaugura sombras
E ela? E menina ou mulher, mulher ou ar, ar ou pedra
Pedra dura de máscaras e raízes dessa ferida aberta
Lá no fundo a noite lança pedras de sonhos e cala-se
Será o silêncio a chama que ardeu por todo o tempo?
Sob a poeira da rotina, o chão inquietou meu olho nu


"Somos apenas duas almas perdidas/Nadando n'um aquário ano após ano/Correndo sobre o mesmo velho chão/E o que nós encontramos? Só os mesmos velhos medos" (Gilmour/Waters)


(*sêca. A palavra seca não tem assento, pois este era diferencial,
Usava-se para diferenciar a 3a. pessoa do singular do indicativo do verbo secar do substantivo feminino seca (falta de água, ou não molhada). Discordo que seja desnecessário, pois num primeiro olhar vem a forma verbal seca (é). Usei deliberadamente.
 
Autor
Sergius Dizioli
 
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Enviado por Tópico
Alpha
Publicado: 08/05/2023 23:06  Atualizado: 08/05/2023 23:06
Membro de honra
Usuário desde: 14/04/2015
Localidade:
Mensagens: 1911
 Re: Pedra
Pedra polida da velha calçada
Esculpida por amores e desamores
Ficando para sempre inacabada
Mesmo fazendo ouvir seus clamores!

Os equilíbrios por vezes são tao ténues que as melodias da vida se deixam abafar nas sombras dos sonhos cujo tempo não consegue libertar.


Enviado por Tópico
Gyl
Publicado: 09/05/2023 11:58  Atualizado: 09/05/2023 11:58
Usuário desde: 07/08/2009
Localidade: Brasil
Mensagens: 16075
 Re: Pedra
Poesia completa, com vocábulos rebuscados, de uma leveza macia e prazerosa. Diria que o mundo é um telhado de duas águas, sendo um lado a vida e o outro a morte, onde a água da existência escorre sem se importar por onde escoa. Um forte abraço, amigo poeta!