Poemas : 

O tempo e a beleza

 


















A beleza contempla-se
com tempo.
Enquanto o tempo,
de modo inútil,
se apressa
a toca-la.

































Zita Viegas















 
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atizviegas68
 
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Enviado por Tópico
Rogério Beça
Publicado: 18/05/2023 08:41  Atualizado: 18/05/2023 08:48
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 Re: o tempo e a beleza
Falando em sublimes e subjectivas, sendo que ambas se confundem tão facilmente e, com a mesma facilidade, se excluem.

A beleza é um delas.

Sublime porque dá cor à vida, diverte-nos, deixa um sorriso connosco, faz-nos escolhê-la, procurá-la, desejá-la.
Subjectiva, porque pode ser universal, como uma paisagem da natureza, ou particular como a nudez do nosso cônjuge. E todas as hipóteses nesse intervalo.

O outro, e terminamos o título com ele, é o tempo.

Esta pura ilusão, discussão desde filósofos a cientistas, e poetas já agora, que podemos contar e descontar, medir com ampulhetas, e sombras, e relógios digitais.
Sublime porque nos domina. Agendamos a vida em volta dele. Futuramos. Passamos. Capaz de ser o maior monstro do pensamento.
Subjectiva, também, porque para dois na mesma posição, podem vivê-lo de modo díspar.
Individualmente ele pode levar uma eternidade a passar, e passar num repente. Na mesma medida\contagem.

“...A beleza comtempla-se...”
A observação é uma das formas de conhecer a beleza, e re-conhecer.
Mas com-templar tem o génio da autora que é conhecida pela excelência e correcção, contudo tem um erro ortográfico. O uso de M antes de uma consoante apenas acontece antes de um B ou P.
Sobre a palavra templo e o uso da primeira pessoa do indicativo presente “eu com-templo”, tem o duplo sentido da devoção, e do local onde pode ser feita.
Contemplar é também algo que devemos fazer demoradamente.
Os dois primeiros versos, então, fazem parte dum requintado pleonasmo.

“...com tempo...” para mirar, ver, rever.

Ao contrário, o horroroso, o feio foge do olhar. Num micro-segundo. E de surpresa.

Falando em tempo acelerado, antecipado: a pressa.

Chegamos ao resto do poema, que podia ter tido uma quebra de verso do segundo para o terceiro. Mas também há graça nisso porque, assim, o “...tempo...” enquanto sujeito poético, na forma também se torna menor.
Tocar a beleza é um prazer raro.
A personificação enquanto figura de estilo foi procurada para “...o tempo...” para evidenciar ainda mais “...a beleza...”.

Há um certo frenesim em possuir. Consumar o desejo.
Tocar é um dos verbos associados ao tacto com mais universalidade.
Sendo um sentido que se explora menos a nível de escrita. Comparado com a visão, ou o olfacto, por exemplo.

Contudo e se o ardor se apagar?

Não será o risco que se corre quando se toca, em vez de se com-templar?