Poemas : 

Plumeria

 
Estavas tu em teu leito, em repouso.
A tez tinha a cor de um sonho nevado.
Os lábios espessos em tons avermelhados
Se ajustavam às maçãs edênicas do teu rosto.

E assim, como que num desejo posto,
Depositei minhas esperanças tardias
Nos alicerces do Templo do teu corpo
Para realização das frutíferas fantasias.

A luz solar beijava-te a face docemente
Reverberando uma espécie de magia
Que, num passe, sumia, assim, de repente,
Enchendo meus grandes olhos de alegria.

Esboçavas um suave sorriso, sozinha.
Quem seriam os anjinhos dos sonhos teu?
Ah! Quem me dera um deles fosse eu!
Nos castelos dos sonhos serias a rainha!

Mas se não eu, quem pelo lúdico estava?
Ah! Como morde o dente siso do ciúmes!
Quem, além de mim, possuir os tais perfumes
Que tu, da plumeria, simplesmente furtavas?

Pela veneziana vinha um vento matinal
Que fruía nos novelos dos cabelos teus.
Recostado, eu observava tudo do portal,
Sentindo-me como um ser imortal. Sentindo-me semelhante ao próprio... deus!



Gyl Ferrys

 
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Gyl
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Enviado por Tópico
ZeSilveiraDoBrasil
Publicado: 20/09/2023 18:37  Atualizado: 27/09/2023 22:15
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 Re: Plumeria
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...seu poema me arremessou num sopro para um passado longínquo mas que pôs minha memória em ebulição... para mim soou uma imagética xerocópia de um momento vivido, apaixonado... muitas vezes me deu prazer, antes ou depois do amor, admirar os encantos da mulher amada enquanto ela dormia ou quando se banhava; muito sensual. Olhares furtivos viciantes e inflados de um misto de desacerbada libido, euforia descontrolada, liberdade abusiva... sentia-me assim. O perfume aspergido pelo poema me fez bem na alma, meu caro. Grato!
Meu abraço caRIOca!


Enviado por Tópico
Sergius Dizioli
Publicado: 21/09/2023 17:12  Atualizado: 21/09/2023 17:12
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 Re: Plumeria
Magnífico! Se no dia que me apresentaram os poemas de Álvaro de Campos ou de Alberto Caeiro este poema estivesse entre Aniverário e Quando vier a primavera ou entre Poema em linha reta ou Se eu pudesse trincar a terra, eu pensaria tratar de mais um desses heterônimos de Pessoa: a exaltação à musa em descrições elaboradas, as condições do dia e local, um certo desdém ou cinismo muito velado e por fim as interpolações de ideias entre a descrição e o pensamento. Parabéns. No mais o poema fala por si. Saudações.