Fim do mês, a chegar, meu herói temido,
sempre assertivo, despreza meu lamento,
Um monstro a assombrar, sussurra no ouvido.
No escaninho, furtivo, espreita o pagamento
Iludido, sonhei, com um salário abastado,
A realizar desejos, a vida leve e o brio,
O pobre coitado, se arrasta estropiado,
As contas nas costas, castiga o boleto frio.
E aquela prestação? Viu os juros do cartão?
O boleto ri! Estranha alegria e ironia.
Pago o apartamento, o carro, o gás, o fogão.
Dura um dia. O salário se foi, resta o amor
No bolso furado: agonia. Fugiu a euforia
— Mais um mês apertado. Boleto vencedor!
                
Souza Cruz