Tão branca quanto o silêncio
que paira depois do que despede-se,
a dança das gaivotas acalenta o cais.
Deslizam coreografias que o mar escreve.
Riscam mapas invisíveis no céu.
Elas dançam como quem sabe que tudo é breve.
Que o voo mais belo precisa terminar em
algum pouso esquecido.
As gaivotas dançam leves e soltas, mas
os olhos...
os olhos carregam sal.
Talvez, ao vê-las, o porto chore
sem que o mar perceba.
Porque a dança das gaivotas é o lamento mais
elegante da partida.
É o corpo da liberdade com a alma
ainda presa no cais.
É meu corpo que escreve os meus poemas.
Minha alma é a sucursal da minha mão.
As palavras me buscam no silêncio.
Palavras são estrelas que reclamam
o papel branco: céu, constelação.
(Os Poemas - Lêdo Ivo)
Um sonho nem sempre cresce no lugar onde nasceu.