Poemas : 

Quixote de Dali

 
Eu não tenho orgulho do que sou.
Tampouco tenho brio do que faço.
Eu curto Cubain e o rei do Soul.
Colho flores em campos de aço.

Sou essência desse silêncio circunspecto.
Um misto de Machado e de Meirelles,
E muito de Lygia Fagundes Telles,
E o mais de Clarice Lispector.

Tenho casuarina e preguiça,
Crio ervas que curam meus males.
Tenho livros amigos e hortaliças,
Antigos vídeos sobre o príncipe Charles.

Tenho choupana, adoro chalaça,
Mulheres da vida difícil e fácil.
Tomo garapa, rum e cachaça,
Fumo plantas alucinógenas asiáticas.

Tenho pouco de Deus e de Satã,
Sou uma mistura daquilo que planto.
Sou um pouco de demônio e de santo,
Um tanto de tarde e muito de manhã.

Respeito o trânsito e a macumba,
Misturo sushi com chá e chuchu.
Plagio epígrafes das catacumbas
Erigidas em homenagem a Belzebu.

Pratico natação, maratona e suruba.
Nas noites sem luas, ritual satânico.
Eu mato macacos no sítio de Ubatuba,
Retiro mexilhões em cascos de tartarugas.

Sou assim, sou humano, ocidental.
Na parede trago quadros virados para baixo.
No fundo do sítio tem um bambuzal
Que é banhado pelas águas do riacho.

Meu calcanhar de Aquiles é aquilino.
Rogo a Xangô uma vida em Xangrilá.
Arranco pelas raízes os atobás,
Rego as rosas no terreno pequenino.

Não tente desbravar quem eu sou ou o que vi.
Vou muito além do seu campo visual.
Sou uma mistura de bem e de mal.
Eu sou Quixote sonhado por Dali.


Gyl Ferrys

 
Autor
Gyl
Autor
 
Texto
Data
Leituras
28
Favoritos
0
Licença
Esta obra está protegida pela licença Creative Commons
2 pontos
0
1
0
Os comentários são de propriedade de seus respectivos autores. Não somos responsáveis pelo seu conteúdo.