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 Re: Perdi, mas não me perdi
Olhar um morango nunca mais vai ser só olhar um morango. Vamos lembrar daquele que compramos juntos, por engano. caríssimo.
Colocar o pão na sanduicheira vai sempre lembrar a gente. Torrando os pães. Rindo do desastre e, depois, do nada, aquela pergunta séria no meio do cheiro de queimado: “Vamos nos casar assim, em! Duas distrações dividindo o mesmo teto?” E, mesmo assim, tudo fazia sentido.
Deitar num sofá qualquer vai ser sempre voltar naquela noite na casa da sua vó. A música ao fundo, e as memórias dos nossos corpos, um sendo lar para o outro.
Não tem como eu escrever tudo o que vivemos. Tem coisa que só vai dar pra sentir. Do seu ponto de vista, do meu ponto de vista. E naquela parte em que os dois se cruzam, a lembrança vai sorrir pra você.
Você vai guardar detalhes que só você viu. Eu vou lembrar de coisas que só tocaram em mim. Mas vai ter aquele cantinho da sua memória onde tudo é “nós dois”.
É um encaixe incomparável, uma química que não se explica. Tão feitos um pro outro e, ao mesmo tempo, uma bagunça que somos.
E pode apostar: vai ter coisa que vai voltar do nada, sem aviso, e você vai perceber, nunca mais vai ser só um morango, só um pão, só um sofá.
Vai ter coisas que só você vai lembrar. Coisas que vão te encontrar em silêncio, quando menos esperar.
Nunca mais vai ser só isso. Porque nunca mais vai ser só eu, nem só você. Vai ser o que vivemos. O que poderíamos ter vivido. O que você guardou.
E duvidar do meu amor não vai diminuir a dor, porque você sabe que eu te amei.
E se parar pra pensar com calma, vai lembrar que eu dei o meu melhor, mesmo de longe. Mesmo a 1011 km de distância, trabalhando, estudando, fazendo TCC, com a cabeça cheia. Mesmo assim, me entreguei. Fui presente. Fui recíproco. Partilhei tudo: tempo, planos, rotina, sentimentos.
E você sabe disso. Não é possível que esteja presa em algo semelhante à caverna de Platão. Sabe que eu desafio qualquer outro homem, na mesma situação que eu estava, a fazer o que eu fiz por você, do jeito que eu fiz. Você sabe que eu estava escrevendo essa história com você.
Foi tudo dividido. Tudo vivido com verdade. E por mais que você olhe com outra perspectiva, como quem vê um fio de cabelo na sopa — para uns, é muito; e para outros, o fio de cabelo na cabeça é pouco. Essa é a beleza da perspectiva.
Não importa o olhar, não importa a medida, em algum momento você vai olhar para trás e enxergar tudo por outra perspectiva.
Entender o outro. Entender o que o outro fez de bom por você. Reconhecer que você também fez bem ao outro, mas também perceber alguns erros: seja por seus momentos de rompantes, ou por não conseguir conversar quando mais era preciso.
Portanto, Ceará nunca será só um Estado. Flamengo nunca será só o time com a maior torcida do mundo. Paulo nunca será somente o nome de um apóstolo. Verônika nunca será só um nome próprio. Sofia nunca será só um nome qualquer. Aquele assobio que eu ia fazer pra chamar a Sofia nunca mais vai ser só um som. Alexa nunca será só um dispositivo. Química nunca será só uma palavra solta. Tipo sanguíneo idêntico nunca será só coincidência. Vai ser sintonia até no detalhe invisível. 19h nunca será só um horário. Vai ser a média de quando você saía do ACE, e eu perguntava se tinha chegado bem em casa. Beijo sem língua nunca mais será só um beijo inocente. Vai fazer você lembrar daquele dia. Boliche nunca será só um jogo. Anel solitário, aliança, buquê de flores, fotos reveladas, camisas com estampas... Nunca mais serão só presentes. Serão memórias.
Coisas podem ser perdidas. Mas momentos? Momentos vão ser lembrados, mesmo se ressignificados. Vão voltar do nada, associados a cheiros, lugares, músicas, silêncios, sorrisos, sentimento de raiva. E aqui, acredite, eu ainda tô jogando só por cima.
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