Aqui jaz…
Às vezes caem-me sorrisos das mãos
quando sei que não vens ver-me
Não sei bem se é o fogo do nascer do sol
a queimar-me as pálpebras
ou se são as lágrimas a teimarem em cair
Sei apenas que amanheço
e ao longo do dia esqueço-me de viver
porque explodem solidões aqui tão perto…
Ouço-lhes os gritos funestos
e nada posso fazer…apenas escuto.
Já perdi o norte da voz amiga
por entre as músicas que tocas sem parar
e que escuto através da janela aberta
Já não sei que perfume têm as tuas mãos
ou se sabem a beijos ou à última bala
cravada no meu coração
Já não procuras a fogueira acesa do meu sorriso
e não atiças aquela gargalhada na minha escuridão
de barro (quebrado)
Desconheço as rimas dos teus passos
na calçada do dia-a-dia
e ignoro os nomes das ruas por onde passas…
Entendo todas as letras que a distância deposita
paulatinamente nos degraus da minha moradia
mas não percebo de que é feito o vaso
perfeito do amor…
Creio mesmo que plantaste uma rosa de plástico
junto ao pontal da tua praia para homenagear
a melancolia
É de pedra escura a epígrafe que escreveste
na sepultura do terror:
Aqui jaz um grande amor.
Mais um dia morreu
MAIS UM DIA MORREU
Segue minha alma sózinha
Cansada de mais um dia
Estranha esta vida minha
Ora feliz, ou feita de melancolia.
A tarde caíu!
È noite fria, escuridão cerrada.
Chora a saudade,
Que em mim sentiu
Hoje ser lembrança pouco amada.
Escondem-se as estrelas
Também elas sentidas
Choro eu e choram elas
Lágrimas p'las nossas vidas.
Meu coração está em pranto
Saudoso de claridade
Seu desespero é tanto?!
Que já nem cabe nele a saudade.
Triste anda a Natureza
Tão cansada quanto eu!
Andam nuvens desesperadas no céu
Em mim por perto a tristeza.
Porquê? Porquê tanto desespero!?
Nesta noite a horas mortas,
A escuridão me tráz o frio
Já à saudade fechei portas.
Deixei seu lugar vazio.
Já não sei o que quero
Nem tão pouco o que não quero.
Agora já só espero
Vencer da vida as revezes
Sorrir-lhe, ainda que em segredo.
Mas sorrir-lhe muitas vezes.
O recomeço é a força de viver.
Enfrentarei o amanhã se vier!
Cansei do escurercer.
Encontro o repouso me deito.
Se ao repousar morrer?!
Será um morrer perfeito.
rosafogo
COM DEUS
COM DEUS
Erigi no coração um monumento
Onde tudo guardo com tamanha doçura
Onde conduzo com gosto o pensamento
E onde pouso o olhar com ternura.
E como tudo é infinitamente pequeno!?
Perante os sentimentos que nele guardo
Tenho a fé redrobrada e o espírito sereno
Ainda que o Mundo fique cinzento pardo.
Ainda que na vida surja dificuldde
E o caminho me pareça estreito
Sigo levando comigo a saudade
Neste período da vida fecundo, sigo direito.
Sempre com renovada vontade
E é assim que escrevo no presente
Que de bem estar estou fartamente.
A melancolia? Essa faz parte da Vida
Empenhada às vezes, teimosa,na sua tentativa
E nos lábios se encontra ou se perde um sorriso
Que o tempo avaramente devora
Mas só de Paz eu preciso!
E de DEUS comigo a toda a hora.
rosafogo
Vida Assombrada
Um dia a mais aqui
o que é para ti?
Estou cansada de viver
já não tenho que crescer
Canto a musica da morte
Sempre me achei com sorte
Um dia não há mais o que fazer
vou ter que desaparecer
Confio que existe o paraíso
porque sem ele o que sou eu?
Faço ainda o que é preciso
O meu corpo já muito sofreu
Inspiro-me na tua doença
Pode ser diferente da minha
A mim me resta a crença
que ainda não estou perdida
Insultaste-me sem saber
e agora aguentas a dor
O sangue tens de beber
Para encontrares de novo o amor
Lembrança melancólica
Lembrança melancólica
Quando o passado
é nostalgia
e os pensamentos comoventes
Surge em nós um estado de melancolia.
E então és como folha morta!
Já nada te importa!?
é isso o que sentes.
rosafogo
Suco de Jabuticabas
Suco de Jabuticabas
by Betha M. Costa
As jabuticabas e lágrimas que brilhavam nos meus olhos caíram de maduras ao chão. Esmagadas pelo desprezo das tuas mãos rudes, são o suco que degustas com prazer até a última gota...
Sinto que tu tens gozo em minha cegueira e desgosto. Mas, eu carrego melancolia (alegria na tristeza) em ser o suco que me cegou os olhos e tirou-me o brilho, por que me bebeste e mantenho-me (ainda que não queiras) dentro de ti.
=====================================
**Jabuticaba ou jaboticaba - fruto silvestre arredondado, de cor que varia do roxo ao negro (cor dos meus olhos). :)
o pulsar do tempo
como não inventar sonhos
se o sol desceu à terra e trouxe
harmonia,
e a linguagem das flores
espalhando alegria?
o olhar perde-se na vastidão
enquanto o sol entra pela cortina
ilumina a terra e meu coração
afasto o rumor da memória
borboletas felizes levam-me as palavras
as fragrâncias no ar dão sinais
abandono os ais
recolhidos no coração
quanto tempo de vida daria
para evitar todas as marés
de melancolia!
ficam memórias em páginas
não escritas,
enquanto o rio corre e deixa lamentos
em palavras aflitas,
que são confidências de pensamentos
de quem lavra uns versos,
e sonha a cada linha
e chora por dentro, enquanto caminha.
natalia nuno
Um perfeito dueto
Uma noite chuvosa,
recai sobre mim.
Ensopando-me das suas pesas.
Num deambular cautelosa,
cobre-me assim,
inundando-me das suas emersas.
Uma chuvada
arrastada pelo vento.
Deformada,
por entre as pausas do meu tempo.
Eu apenas envolvida num velho lençol,
vagueio sobre estes aguaceiros.
Sentindo-me uma clave de sol,
sinto os ‘Dós’ dos seus pioneiros.
Uma melodia se dispõe,
destas ruas desabitadas.
Uma esfolia se decompõe
por entre as minhas descobertas insaciadas.
Como te sinto minha mãe natureza.
Só não sei porque tanto choras…
Aguentarei toda esta frieza,
até as mais secas auroras.
O quão é pesada a tua dor,
como te lanças daquele céu pardo,
sem piedade, sem esplendor
e escolhes esta noite para teu resguardo.
Não chores mais…
quero tanto entender-te,
dá-me sinais,
espero não mais rever-te.
Rompendo a madrugada,
lá estava eu,
num banco sentada,
à espera de à chuva ver aparecer Romeu.
No fundo escoavam badaladas
como se algo anunciassem.
Será que se sentem maltratadas?
Como se estas lágrimas já não bastassem…
O sol espreita,
os raios luminosos reflectem naquelas gotículas.
É então que galanteio
o nascer de um lindo arco-íris.
A chuva agora estreita,
cai em suaves partículas.
E sem ser preciso tirar ao sorteio,
dilata a minha íris.
Agora eu percebo,
que aquela melodia
lacrimejante,
era da noite um servo,
aguardando pelo dia,
para se evaporar naquele
recebo flamejante
aquela triste sinfonia.
O amor entre a chuva e o sol,
um perfeito dueto,
acompanhado de um rouxinol,
termina assim este quarteto.
Imagem retirada do Google.
Nos regaços da melancolia
Sentada feita moribunda
à porta da catedral
num vestido branco que me desnuda
choro segurando um castiçal.
Uma pequena luz que abafo
com um suspiro de melancolia
nos meus lábios um agrafo
depois de contigo levares toda a magia.
De vestido rasgado
de maquilhagem escorrida
de rosto apagado
estava na hora, na hora a tua partida…
O vento sopra-me os cabelos
a chuva, chora-se no meu regaço
neste tempo voam os belos
deixando um coração em despedaço.
Não te lembras do nosso primeiro olhar?
Dos nossos quereres e sentires
apaixonados?
Porque não me canso de te procurar
depois de partires
com tons irados?
Rasgo este vestido
desmancho rosas negras
em pedaços de vida…
Musgo outrora atrevido
agora um despacho de prosas, pedras
numa montanha esquecida.
Deambulo, acabada
de rastos ou não!
Levito sonâmbulo
de alma chorada
de coração na mão.
Imagem retirada do Google e editada por mim. Video do Youtube.
Um peito aberto à fome
O sol irrompe por entre as nuvens, a chuva cai copiosamente a anunciar a chegada do Inverno, o vento no seu movimento enlouquecido arrasta as folhas inertes deste outono que se despede demoradamente, como se algo o fizesse demorar-se neste rodopiar e escutasse todos os sons da emoção na despedida.
A Melancolia deixa no rosto alguns laivos de tristeza esculpidos na expressão por um breve instante, só uma fração de tempo para que de rompante o pensamento a sacuda e ganhe asas num voo alegre a celebrar uma nova estação.
Há ninhos de andorinhas nos beirais dos telhados, paisagens de Araucárias a crescerem altivas, um campo de margaridas a suster a respiração e na alegria que brota do meu peito, o regozijo das vontades acesas a afastar as nuvens que pairam, há ruídos que se silenciam para resgatar a esperança.
Na ilha encantada dos meus sonhos, ouço o grasnar dos patos do lago, num vaivém constante, levanto os olhos para a direita e vejo uma mãe aproximar-se amamentando seu filho, e aquele momento borda no meu olhar uma emoção à flor da pele, um peito aberto à fome, um bocejo no aconchego dos braços e a saciedade estampada nos olhinhos que a fitam.
Quem me dera ouvir o som dos sentidos misturar-se em abandono nas emoções, ouvir o cio dos dias abrir-se no resgate à paz, dissolvendo a angústia no ventre imaculado das mães e das avós, para que a alegria abra as portas à felicidade e se sinta a lúcida presença dos afetos em verdade e consciência.
Quem me dera.
Alice Vaz de Barros