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Entretanto chove, e ainda bem

 
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Entretanto chove, e ainda bem
 
Parti. Deixei a cama por fazer. Há sangue no lavatório e paredes da casa de banho. Não me sinto em condições para te explicar o motivo. Ficou um livro aberto, na página 100, o teu número preferido, em cima da mesa da sala. Estão cadernos por estrear dispostos, sem qualquer ordem, de forma aleatória pela casa. Fiz uma festa no cão, que sempre me ignorou em tua preferência. E ainda passaram alguns segundos, para que te mirasse, nua, em cima dos lençóis da cama de corte medieval que talvez tenha sempre sido o nosso maior tesouro. Pensei em artefactos, na vontade de mestre em alisar a nossa rotina com constantes inovações de originalidade. Voltar ao passado, quando nos conhecemos, e tu me convenceste a sujar as mãos com frequência, nas coisas que até ai nunca tinham sido da minha rotina. Levo a tua música a tocar na aplicação. A que fora escrita quando o tempo era plano, e ainda não tinha ganho as curvas que só nós sempre soubemos descrever. Se tivesses acordado, far me ias desistir desta ideia sem sentido, e pintada a cobardia. Mas as certezas aquecem se a si mesmas, e sao o nosso maior alento. Talvez volte um dia. Quando ja não fizer falta ao mundo, e para ti for a nota musical única do teu acordar, que eventualmente me agarrar à tua memória.
Entretanto chove, e ainda bem

 
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morrisey2025
 
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Enviado por Tópico
Benjamin Pó
Publicado: 13/08/2025 07:04  Atualizado: 13/08/2025 07:14
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Mensagens: 847
 Entretanto chove, e ainda bem p/ morrisey2025
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The rain falls hard on a humdrum town...



Enviado por Tópico
AlexandreCosta
Publicado: 13/08/2025 09:47  Atualizado: 13/08/2025 09:47
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Usuário desde: 06/05/2024
Localidade: Braga
Mensagens: 1293
 Re: Entretanto chove, e ainda bem
A mim parece-me, em tudo, um tom acusatório a culpabilizar o outro pela ruptura e despedida.
As imagens que ficam são o exemplo, como o sangue no lavatório e paredes, a página preferida como o indício de que do lado de cá tudo se fez para agradar, os cadernos em branco a dizer do que poderia ter sido escrito, a preferência do cão (entendo como uma inversão, não é o cão que prefere o outro, mas o outro que prefere o cão...), o corpo nu na cama, tesouro que afinal nada vale.
Um perfeito cenário montado para o outro sofrer com a culpa.
O fecho com a chuva é o acto de purificação e libertação!

Gostei muito, um abraço