O poeta sem horário nem jorna,
Trabalha ou faz greve se lhe aprouver,
Escraviza-se ao malho da bigorna,
Ao coração e à alma, sua mulher.
Um pingo que dos olhos lá se entorna,
Ou um suspiro que de si lhe vier,
Fundem-se e dão-lhe uma estranheza morna,
Que o aconchega se ele assim quiser.
Porque o espaço é circular, não se oculta,
Tanto dá e ama como fere e insulta,
Nada faz por esconder o que o anima…
Nenhum trivial sentimento o exulta,
Há quem não o cultive, eu faço-o em rima;
Dos homens banais o poeta está acima.
31 de Março de 2011