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Queria escrever-te
um poema,
dedicá-lo a ti
fazer sobre ti
para ti,
contigo dentro dele,
mas sem
ser coisa óbvia ou complexa,
palavras ornamentadas
e próprias de ocasião,
sem versos que são versos?!
Dizer-te só que és só um,
mas que estragas as contas à demografia
e baralhas qualidades e defeitos
como num jogo de cartas
em que ganhas sempre
sem fazer batota ou batata!
Notar que os teus beijos
sabem a cogumelos
(eu gosto de cogumelos).
Acrescentar que, ao ter-te,
também eu sou do jogo viciado
dos números errados da vida
pois
não contas para qualquer censo
ou sondagem;
Será que consigo tocar-te com estrofes?
a que sabem as palavras assim escritas num papel?
ordenadas, medidas, pensadas para ti?
poderias tirar letra por letra e ir mastigando ao invés de ir lendo?
que achas do sabor deste poema?
perguntaria.
Mas divago, o poema seria para ler
sílaba a sílaba, até à frase/verso?!
Podia até ler para ti,
à noitinha, no areal
onde vamos sempre que
queremos ouvir falar o mar,
aí, falaríamos os dois
eu e o mar
até que o mar se calasse
quando eu acabasse
de te ler
I got that feeling
That bad feeling that you don't know (Massive Attack)