O olhar desviado estava.
As flores caíam, mortas
Das galhas velhas, tortas,
Setas caídas de aljavas.
Parecia que ao chão perfurava,
Trazendo lembranças esquecidas,
Reabrindo as antigas feridas
De um tempo de águas paradas.
Nenhum luminar no horizonte
Ausência de eflúvios nas rosas
Entre o Hades e Aurora
Sorriso infernal de Caronte.
Eu caminhava entre as sombras,
Pisava crânios nos escombros,
Da natureza que assombra
A Fênix de mim entre monstros
Entre ministros e mistérios
Dentro das almas reclusas
Vivida em dois hemisfério
Das mais cruéis criaturas.
Tudo parecia suspenso.
O tempo estava parado.
E dentro do imenso silêncio ,
Um vulto surgia de fato .
Vindes a mim, seres patéticos!
Sejais o martelo e o cajado
Deste momento não raro
Dos meus martírios poéticos!
Vinde, ó seres! Me chama!
Habitais o sopro e o verbo,
Dai-me o fardo e o Inferno
Que o destino aos poetas proclama!
Sede a centelha que inflama,
O eco que em mim reverbera,
A voz que em sombras impera
Quando o silêncio me chama.
Que eu seja a vossa esperança
O arauto do tempo moderno
A dor que ao acaso se lança
Epígrafe em cemitério!
Vindes, ó sombras do eterno,
Musas do fogo e da dor!
Tragai-me o sopro etéreo
Raiz arrancada da flor.
Dai-me o fardo e a sentença,
O dom e o castigo juntos;
Que eu cante entre os defuntos
A glória da minha presença.
Pois no abismo me ergo
No suplício não me desespero.
O Hades é o meu desejo
E o verso? O túmulo que quero!
Gyl Ferrys