Poemas : 

Pai José - Violencia e medo XII

 
XII
Violência e medo

Após o nosso "banquete", , fomos deitar. Sr. Faim no tapete e eu, um pouco bêbado, amarrei a rede perto da sacada. Acordei quando o sol frio da tarde veio acariciar meu rosto e ouvimos uma discussão entre dois homens na rua: - "Tu é um ladrão, um ladrão" - gritava um moreno magro com uma faca pequena ameaçando um rapaz loiro, rosto esticado e desdentado, encostado na parede de um predio em ruínas, onde os viciados se drogavam . - "Eu quero meu dinheiro. Eu vou te matar, ladrão! " Levantei e corri para a sacada para assistir a conversa. O Sr. Fome foi para a outra , começou a ladrar alto. O moreno magro da faca aberturava o outro pelo pescoço. Mordia os lábios nervosamente cuspindo violentamente entre os pés descalços do loiro desdentado, murmurando entre os dentes: "Tienes muchas suerte, hijo de la puta". Cuspiu novamente, e entrou no prédio abandonado. O loiro tremulo olhou para mim com seus olhos tristes e sem vida. Observei-o até dobrar a esquina da rua. O silêncio voltou a reinar novamente. A rua deserta, sem carros, apenas papéis voando sobre as calçadas e pombos bicando entre as fendas dos paralelepípedos ... Voltei rede, peguei o livro "Cândido" de Voltaire e deitei para lê-lo. Adoro este livro, é a segunda vez que leio. O Sr. Faim, meu bom amigo, voltou ao seu canto e ao tapete afegão. Por volta das seis horas da tarde, os sinos das igrejas do centro começaram a tocar, chamando os fiéis à massa. Havia um belo crepúsculo, um sol avermelhado descia por trás do bairro de Bonfim, do outro lado do rio Bacanga. Levantei-me da rede, deixando o livro na pequena mesa de madeira. Na outra mesa, a panela ainda estava cheia! Era hora da nossa ceia. Acendi uma vela e Faim se aproximou. Depois do jantar, cheguei à varanda, fumando um baseado e olhei para a linda paisagem, as lâmpadas iluminadas, os carros e os ônibus que circulando pela avenida. Os casais passeando abraçados e beijando-se. Um cão vagabundo deambulava procurando comida no lixo empilhado nos sacos da esquina. Uma gata brincava com seus filhotes, mas atenta ao cachorro. Os ratos nervosos corriam de um lado para o outro. Ouvi os gritos de uma coruja voando sobre os telhados enegrecidos pelo tempo sob aquela linda lua de inverno que iluminava um céu estrelado. Senti a delicada brisa vinda do mar. Liguei o pequeno rádio e sintonizei num programa de jazz. Embora eu ame a música clássica, também adoro o jazz dos anos 50. Comecei a ouvir o saxofone do grande músico americano Charles Parker, "o pássaro" - uma melodia bonita que carregava minha alma. Sentei-me na cadeira coloquei a vela ao meu lado. Abri meu caderno, apertei o resto do baseado e comecei a escrever.

 
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efemero25
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