Sabado, 06
Tudo começou quando despertou quase no final da tarde de ontem e premido pela necessidade, decidiu que tinha que recorrer ao seu agente – o cartão ainda não chegara – Desceu até o mestre Ed e gentilmente pediu-lhe que entrasse em contacto com o agente – e por incrível que pareça deu tudo certo – Ele estava no carrinho retornando para a Vila Embratel. E não deu outra – foram ao caixa eletrônico da Farmácia Socorrão na esquina da rua 15 com a avenida Sarney Filho e sacaram um terço do recurso a ele destinado e o poeta foi as alturas com tamanha quantia no bolso – Aleluia! Aleluia! Viva Papai Lula!
Dos mil e quinhentos sacados, deixou mil nas mãos da Sra. Vince, a sua senhoria para os reparos necessários e urgentes – retelhar a pensão, tirando as goteiras e limpar a fossa asséptica. Adiantou o comandante, os riscos chegavam ao astronômico sete castanhas e meia – ou seja setenta e cinco reais – deu-lhe cinquenta. Seguiu para o ED quitou-se – de volta a pensão a pensão gorgeteou a pequenina e noventa para a insaciável Sra. Vince, a senhoria – o resto colocou entre as paginas de seu pequeno Novo Testamento e guardou numa das gavetas da sexagenária cômoda, era patriarcal da pensão.
Desse substancioso recurso resta-lhe a singela importância de oitenta reais.
No sábado a noite, entornou dez latas de Glacial enquanto assistia uns filmes no You Tube.
No dia seguinte começaria a sua abstemia etílica para encarar a ultrassonografia na quarta-feira.
Terça-feira, 09
Seu Sabonete, uma afro descendente correu literalmente para apanhar o Piancó que parou rente a fachada do frigo Lucio na Praça das Sete Palmeiras, Vila Embratel. Uma dorzinha chata no canal peniano. A noite finalmente terminou “A Chave de Vidro” do mestre Dashiel Hammett e o colocou junto a sua companheira Lilian Hellman.
Little fat o chamou para pegar o café, estava de saída para marcar um exame cardíaco para o Pai Cardin que continua internado. Antes das nove tosquiou a juba, mas deixou a sua espessa barba branca – o atencioso barbeiro que por sinal é seu vizinho aparou as sobrancelhas, os pelos do nariz e o excesso do bigode que caia sobre sua boca.
No meio da manhã concluiu “Armadilhas da Mente” do benemérito mestre Augusto Cury. Voltando a releitura de “Sem Olhos em Gaza” de Huxley. Nos anos 80 tinha “Contraponto” que nunca leu e aqui na vila Juvan sênior emprestou-lhe “Admirável Mundo Novo”.
Devolveu Cury ao Comandante. Comprou um sabonete bem cheiroso “Senador” no Jogador, que ontem lhe negou vender por que faltava um e cinquenta reais. Uma saboneteira na irmã do mercado.
Depois do almoço, um cozido de uritinga e como sobremesa as goiabas do quintal. Colocou a outra calça social caqui e a camisa polo Hugo Boss – made in Ceará para pegarem um vento e descarnar o fedor de mofo. A calça tem quase trinta anos, do tempo que era funcionário do Tribunal de Justiça – presente de sua ex-amada Sra. Van nos bons tempos dos amores. Usará amanhã quando for fazer a ultrassonografia.
Para comparar recomeçou a reler Proust “A Sombra das Raparigas em Flor” – segundo volume do épico “Em Busca do tempo perdido” – Huxley confessa que foi influenciado por ele em “Sem Olhos em Gaza” – No meio da tarde, depois de uma boa barrigada começou a destrinchar “Justine” de Durrel, amigão do grande Henry Miller.
Qual foi surpresa ao chegar ao meio-dia na pensão e constatar a limpeza da fossa, agora falta retelhar a pensão antes que caiam as chuvas.