Dimanche, 14
- Vá com Deus e que Jesus o abençoe – desejou umas das vovozinhas sentadas na porta da Igreja do Carmo, assim que o poeta saia. O largo do mesmo nome no centro antigo de São Luís, Ma.
Na rua de Nazaré, a lembrança vivida e pujante dos momentos fogosos com Madame Rameaux nos quartos ar refrigerados com defeitos, camas pulguentas e cheias de buracos na velha pousada Nazaré, onde outrora funcionou o Hotel Nazaré, propriedade de seu padrinho Seu Pinheiro, um português da velha cepa e que toda vez que tomava-lhe a benção, ganhava o equivalente hoje a dez reais. As araras barulhentas nas copas das palmeiras imperiais da praça Benedito Leite – palco de seus furtivos encontros nas noites de sexta-feira, antes de se enfurnarem na pousada para o fim de semana. Reformam o prédio do antigo Hotel Central – outrora nos finais das tarde de domingos, em companhia do velho Bamba e irmãos após passearem pela avenida, tomavam o delicioso sorvete de ameixa, servida em taças de aços inox por gentis garçons de gravata borboleta.
Uma urinada no mictório do terminal da Praia Grande – alguém deu uma descarga na privada – nenhuma bicha de plantão para curiar você urinando.
Na plataforma C outro grupo de escoteiro evangélicos, ainda pouco um grupo maior embarcou atabalhoadamente. Yeltsin comigo, naquele olhar de russo durão que derrubou o regime comunista.
O ônibus exalava o fedor de borracha queimada. Os mangues margeando o rio Anil por trás da Liberdade, debaixo da ponte Bandeira Tribuzzi a entrada para o Vinhais – na época da fundação em 1612 – eram os principais meio de transporte, que levava os jesuítas para catequizar os índios dentro da ilha. Na parada do Renascença, em frente ao velho shopping Tropical, um irmão de infortúnio ainda dormia estirado no banco. Na beira mar, a maré seca e as garças tranquilas mariscavam em sua lama.
Um taxista conhecido deu-lhe uma carona até o Anel Viário. Uma entrada rápida no movimentado entreposto de pesca do estado – peixes da água doce e do salgado a preços módicos
- Uritinga a dez reais! – gritou um peixeiro.
O café simples na rodoviária dos ônibus da baixada ocidental. Entrando no seu amado Desterro pelo Dique – “Cadê o Dique?/ Emendou lanchas velhas/ Consertou vidas novas/ Cadê o Dique?/ Morreu no entulho do anel viário” – uma de sua perolas de seu Itinerário Poético Espiritual do Desterro que pretende reedita-lo ano que vem – um passeio de volta as reminiscências de seu passado infantil – a casa do escritor João Mohana.
Não se faz poeta, nasce-se poeta – ele foi outorgado naturalmente.