quis desenhar um poema, um poema triunfal,
   ora com letras miudinhas 
   ora com letras garrafais 
no mar 
quis desenhar um mundo novo de gestos 
francos 
    simples
        títeres 
            amplexos
mas os braços colaram-se sempre nas minhas laterais
(quais gémeos siameses) 
curvas perigosas
sinuosas
em que eu própria m'amordaço e m’esbarro 
    muda
quis desenhar um olhar
        um ortográfico olhar
paladino de um amor
    maior
cavada ao vento do meu próprio desalento 
num interpretar d’olfactos
incensos,canela, laranja, jasmim...
num  atentar na rosa-dos-ventos 
e voar
    voar
mas as asas ainda antes de romperem a tenra pele
já se manifestavam enfermas moribundas
(frágil, renasci assim, de novo aqui, em tela...)
quis encher a vida 
como se enchem as precoces rugas de péptidos
microfragmentos de proteínas
mas concluo
concluo por fim
que permaneço estanque e m'entorpeço na minha própria
matriz celular.
é nu o olhar 
com que me vejo planta, areia, vaga, coral e alga 
em mar de mim.
                
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