Textos : 

como quem diz adeus.

 
penso: estás sentado no meio do quarto com as luzes apagadas e as paredes a ferver-te nos dedos, hoje dizes adeus, não para sempre que daqui ainda levas muitas memórias, é aqui que te sabes vivo ainda que aqui tenhas morrido tantas vezes que até lhe perdeste a conta. ficas a escutar o eco das lágrimas sobre o soalho. dizer adeus custa, parece que te dói nos ossos, na carne, como se um cão já morto te mordesse ainda o corpo todo.hoje pensas no quanto foste feliz aqui, ainda que aqui só tenhas vertido muitas lágrimas e chorado outra tanta solidão, foi aqui que apareceste a ti próprio, empurraste o teu corpo contra ti e te sentiste vivo, tão vivo que desejaste estar morto, ao ponto de te matares noite dentro em poemas que escreveste na pressa de uma tristeza qualquer.e as tristezas conheces tu bem que é delas que se enche o teu tempo. ficas a fumar os últimos cigarros, do cheiro do tabaco preso em todos os móveis chegam-te recordações de madrugadas doentes, o cancro dos dias a sequestrar-te a esperança que ainda tinhas, não acreditas em nada agora e se o fantasma da tua mãe te aparecesse à frente morrias nele, sempre, que há fantasmas que nos perseguem tanto que nos levam à morte.


. façam de conta que eu não estive cá .

 
Autor
Margarete
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