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Misericórdia

 
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Já sinto a força
Que me vai chupar
Cada gota de sangue,
Que me vai roer a carne...

Vão ficar os ossos,
E o fluído necessário
Para ser ossada viva
De um passado morto.

Vai-me sugar delicadamente,
Chupar-me continuamente,
Matar-me metaforicamente
Para acordar numa nova vida.

Quando eu for pouco mais
Que ossos e unhas a mais
Não foi roído o que resta,
Fica para me lembrar
Onde foi parar o que se foi,
Onde anda, onde corre,
Quente e intenso,
O outrora meu sangue
Que agora é um número a mais
Num corpo estranho.

Custa deixar acontecer,
Parecia inevitável e no entanto
Havia tantos caminhos a tomar
Quantos aqueles que não tomei.

Fica a esperança na piedade,
A visão de justiça distante
De tal forma que não a vejo.

Não rezo a Deus se a piedade
Só pode vir da pessoa.

Não é Deus,
Não é pessoa,
É visão de piedade
Depois da culpa.



1 de Dezembro de 2008
 
Autor
AntonioCarvalho
 
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