Poemas -> Amor : 

Espiava-se a solidão

 
Não havia refulgência, nem desbotado Sol
Nem luar escondido no ventre altero da Lua
Nem sequer no zimbório areal
a insipiência galopada. Nem o médão
se aquietava em cardos, por fim adormecido.
Não havia vontades competentes
a erguerem, a cada setentrional madrugada,
pálpebras dolentes. Prostradas, submersas
na sede cansada d’alma olvidada.

Não mais que esconsa casa, continuamente assombrada,
perpetuamente sombria.

Espiava-se a solidão.
No sangue branco dos astros
Na juba flor que, arrebatada ao caule,
capitulava, pisava o chão.
Não havia mais que chuvas
que se choravam desacompanhadas
em voos de aves sem asas.

Nada brotava, nada se enformava.

Por ti se encheu o dia em luz de prata, roubada à Lua.
Por ti a noite se embriagou no néctar alaranjado do Sol.
Por ti o mar se abraçou à falésia dor, em prantos e risadas.
Por ti as dunas são agora capitulares varandas,
seios pomos de mulher a florir açucenas,
no rir canário d’alvoradas.
E as bridas agasalho, veladura branda do suor,
dos corpos desfilados em galardões de passados atentos,
desgrenhados a cantarem-se nas entranhas e nos
braços dos ventos.
Em sinos tangidos, no arco-íris dos nossos comuns sentidos.



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Autor
Mel de Carvalho
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 11/05/2007 21:49  Atualizado: 11/05/2007 21:54
 Re: Espiava-se a solidão
Mel, nunca mais comento um poema teu!!
Este poema é arrebatador!
Li e vi-me obrigado, compelido, tele-guiado a dizê-lo para mim, na voz mais alta que conheço, que é aquela que te seca a garganta se a não dizes.
A tua inspiração é rio transbordante e é foz de um dom maravilhoso que te acompanha, pelo que sei e vejo, diariamente.
Que a manhã continue a trazer o teu sorriso edificado sobre o mais belo poema.
Concordam ou não?


Enviado por Tópico
Sunny Lóra
Publicado: 12/05/2007 00:41  Atualizado: 12/05/2007 00:41
Participativo
Usuário desde: 25/07/2006
Localidade:
Mensagens: 22
 Re: Espiava-se a solidão
Mel, fiquei parada e tive que reler seu poema, que para mim é uma prosa poética maravilhosa, sem limites na beleza, fervor, amor, dor, lua, sol... parabéns! Abraços de Sunny


Enviado por Tópico
Carla Costeira
Publicado: 12/05/2007 13:46  Atualizado: 12/05/2007 13:46
Colaborador
Usuário desde: 16/02/2007
Localidade: Sintra
Mensagens: 918
 Re: Espiava-se a solidão
Olá querida e doce Mel,
Tal como aqui já foi dito, também admiro muito o teu trabalho, inspiração e vocabulário riquíssimo!
Bjs amiga

Enviado por Tópico
Valdevinoxis
Publicado: 12/05/2007 16:23  Atualizado: 12/05/2007 16:23
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Localidade: Aguiar, Viana do Alentejo
Mensagens: 2097
 Re: Espiava-se a solidão
Limitaste-me o vocabulário a um UAU!
Quase que te ultrapassas a cada texto que leio teu. As palavras que parecem não caber, encaixam na perfeição, as frases que parecem não ter fim, acabam redondas, prontas a dar à luz a próxima e as imagens, que toda a gente projecta no abstracto enquanto desce pelo texto... isto tudo dá um conjunto fabuloso e muito próprio de alguém que escreve com a força da palavra.

Valdevinoxis

Enviado por Tópico
Mel de Carvalho
Publicado: 12/05/2007 21:58  Atualizado: 12/05/2007 21:58
Colaborador
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Localidade: Lisboa/Peniche
Mensagens: 1562
 Re: Espiava-se a solidão p/ CarlaCosteira e Val
Muito grata, amigos, pelas vossas sempre calorosas e tão motivadoras palavras!

A ambos, um abraço fraterno e sentido!

Mel