O que fazer da tristeza
Que me assola
Numa bela manhã.
Que te amola
A qualquer instante?
Quem sabe tenhamos
Força suficiente,
Para guardá-la
Em algum baú velho,
Esconderijo predileto
De solitários e discretos cupins.
Escondê-la no coração
De algum tristonho artista,
Para que o vigor de suas lágrimas,
Façam, em cores belas,
A alegria do inoportuno presente.
Dispersá-la nas barrentas águas
De algum córrego poluído,
Onde peixes angustiados
Pela loucura humana,
Encontrem um bálsamo fatídico.
Alguém me sugeriu:
Leve-a daqui,
Para um passado fabril;
Distribua-a no chicote do patrão,
Esconda-a no vil porão,
Ou quem sabe,
Sirva na refeição
De algum escravo morto,
No sonho de não ter no futuro,
Meu inaceitável presente.
Reparta-a com amor,
Num presídio qualquer,
Num prostíbulo qualquer.
Em algum lugar empoeirado
Por tristezas tão vastas,
Que este presente a ninguém espante.
Essa tristeza,
Não fará diferença ao desterrado mendigo,
Ao andarilho de pés corroídos,
A amante despojada e emprenhada
No amor de algum imbecil viajante.
Esconde tua tristeza
Nos vivos que ficaram a chorar,
Na terra deserta dos que se foram.
Darei minha tristeza,
Sempre que me for insuportável;
A quem receber,
Não peço lágrimas,
Antes um sorriso de compreensão
Ou que a sepultem,
Em algum lugar seguro,
Para que não me volte jamais.
tristeza/social
Re: O QUE FAZER DA TRISTEZA?
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