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O Nevoeiro

 
O Nevoeiro
 
A cidade de Londres é frequentemente visitada por densos mantos de nevoeiro. Acontecimentos maléficos estão ligados a este tipo de fenómeno da natureza. D. Sebastião ficou muito conhecido, por ter tido a pouca sorte de se encontrar com o nevoeiro.

Algumas histórias, contos e lendas, referem que tiveram consequências fatais para alguns heróis, o facto de estes terem saído à rua num dia ou noite de nevoeiro.

Há muitos, muitos anos atrás, um Alcaide bastante famoso que se encontrava ao serviço do seu rei, decidiu ignorar o estado do tempo e ir caçar. O Alcaide era um guerreiro conhecido pelas bravuras, mas tinha um terrível defeito:
Era muito teimoso. Não aceitava conselhos de ninguém, até mesmo do próprio rei.

O dia estava radioso e o Alcaide decidiu partir de armas e bagagens, para uma caçada. Era perdido por caça. As nuvens pareciam querer transmitir, que o tempo não iria estar tão estável como dava mostras de parecer. Mas como podiam fazer este mudar de ideias, se era teimoso que nem uma mula? As nuvens estavam muito baixas e a temperatura desagradável. O Alcaide pegou no seu cavalo lusitano, na espada, no arco e flecha e lá foi ele todo encantado da vida.

À medida que ia andando, o tempo escurecia cada vez mais. O Alcaide não estava muito preocupado com isso, a sua teimosia falava mais alto. Como já estava a cavalgar a algum tempo, finalmente decidiu parar para dar descanso ao seu cavalo. Aproveitou as ruínas de uma velha casa para se abrigar da humidade do nevoeiro que caíra de repente. Estava tão bem instalado que acabou por adormecer.

Acordou mais tarde com o relinchar do seu cavalo. Olhou à sua volta e o cenário era desolador. O nevoeiro estava tão denso, que não se via um palmo á frente do seu nariz. O tecto estava realmente muito baixo.

Não havia alternativa senão de seguir o seu caminho. Passadas algumas horas, o Alcaide estava completamente desolado. Estava perdido e ainda por cima molhado da água do nevoeiro. Tinha realmente prevalecido a sua teimosia. O tempo tinha-lhe pregado uma verdadeira partida.
Parou e estranhamente, começou por ouvir algo parecido com o barulho do mar.

Não restavam dúvidas, estava muito próximo do mar. Mas onde? Estaria na Nazaré?
À medida que ia andando um pouco mais, o barulho do mar aumentava de intensidade. A situação estava a ficar verdadeiramente feia. A bravura daquele guerreiro, estava desfeita pelo pânico que se tinha apoderado dele naquele momento.
Foi então que surgiu à sua frente saída do nevoeiro, uma criatura vestida de branco com a cabeça coberta de rendas que lhe disse o seguinte:

-Estais perdido senhor? Não temas que vos irei conduzir de regresso ao vosso caminho, mas se antes me prometer que irá cumprir o seguinte:
-Peça o que quiser! Respondeu o Alcaide em tom de desespero mas ao mesmo tempo, aliviado por aquela mulher se ter atravessado no seu caminho e ter evitado assim, que caísse da falésia.
Tens de me prometer que não irás mais ser teimoso.

-Claro que prometo senhora! Respondeu o Alcaide aterrado de medo
Mas atenção! Daqui por uns tempos virei ter contigo para te vir buscar.
Então a mulher começou a caminhar em outra direcção e como por obra e graça do espírito santo, desapareceu por entre o nevoeiro.
O sol apareceu no horizonte e o nevoeiro começou a dispersar como por magia.

O alcaide lá seguiu o seu caminho de regresso a casa. Já podia ver o caminho e estava aliviado por isso. Passados dois anos a senhora tal como prometera, regressou para levar consigo o Alcaide tal como prometido.

E assim acaba esta pequena história, que pretendo dedicar aos meus amigos de Porto de Mós, com a certeza, de que a lenda de D. Fuas Roupinho não caia em esquecimento.•

Gabriel Reis
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reisgabriel
 
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