Antiguia: Dicas infalíveis aos nobres comentadores do Luso-Poetas para melhorar a qualidade dos seus comentários.
ANTIGUIA: Dicas infalíveis aos nobres comentadores do Luso-Poetas para melhorar a qualidade dos seus comentários.
Como disse Plubius Syrus (ou teria sido o saudoso Dr. Sócrates, o grande boleiro corintiano em alguma roda de samba? Pouco importa...): "Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado”. Convenhamos: quem quer saber de qualquer forma de silêncio aqui no Luso-Poemas? Não estamos aqui para isso. Afinal, somos escritores sempre com algo importante a dizer guardado logo aqui, debaixo da manga. O negócio então é publicar e comentar.
Mas, principalmente, comentar - a mais freqüente e numerosa forma de expressão literária deste site. – Foi justamente pensando em melhorar esse importantíssimo passatempo da vida dos Lusuários que, baseado nas minhas experiências como comentador assíduo e bem sucedido deste espaço por um bom tempo, humildemente achei por bem dividir minhas conclusões com os companheiros de escrita. São 10 importantes dicas de como se redigir um comentário com propriedade e decoro sem incorrer no trágico risco de ter a opinião devidamente deletada por algum autor - e, ainda mais - partindo-se do princípio que os comentários são a mola mestra que sustenta a criatividade dos Lusuários neste sítio, seja lendo-os ou propriamente comentando, ser incensado à condição de um grande e respeitado comentador do site. Leiam com toda a atenção e aproveitem essas pérolas:
1 – Da importância da ignorância (ainda que falsa): Mesmo seja o seu português castiço e de muitos recursos léxicos, é de muito bom tom distribuir em seu comentário uns poucos erros gramaticais. O motivo é simples: erros reforçam no autor comentado a idéia de que ele próprio é superior em conhecimentos sobre a língua em relação ao comentador. Isso em si já provoca certa simpatia e tolerância. Dois errinhos tais como justapor “concerteza” (um erro muito em voga aqui no Brasil atualmente), ou grafar azia (pirose) com “h” ou trocando o “z” por um “s”, são daqueles tipos de erros muito bem quistos quando percebidos na escrita dos comentadores cuidadosos que aspiram ao sucesso. Pequenos erros de concordância nominal ou verbal naturalmente são bem-vindos.
2 – Das comparações: Jamais compare um poema ou texto lido com o estilo de um grande poeta ou escritor. Isso é tremenda falta de educação com o autor, motivo sério e justo para biquinhos e birras. Afinal, onde já se viu alguém ter a pachorra de identificar os maravilhosos versos dos nossos Lusuários com os versos de um reles... sei lá, só para citar: Fernando Pessoa ou Drummond, por exemplo? Realmente é situação de magoar o nosso prezado autor e com total razão. Todo autor do Lusos é um universo “incomparável” de criatividade.
3 – Da abrangência do texto: Uma conveniente e bem trabalhada dificuldade para se definir o texto comentado aumentará em muito a sua abrangência e poderá causar uma excelente avaliação do seu comentário. Veja o exemplo: “O seu poema tem um quê de nonsense, um extraordinário ambiente emocional que me tira os pés do chão...” Ou seja, palavras que elevam o texto a uma categoria diferenciada, inexprimível, porém, a rigor, dizem absolutamente nada. O bom comentador deve ser mestre nesses artifícios, pois mecanismos como esse permitirão a ele comentar ‘ad infinitum’, apenas variando e combinando uns poucos desses elementos. Aquele que fizer isso bem, jamais precisará repetir o conteúdo de sequer um único comentário e, ao mesmo tempo, sempre terá algo de diferente e indefinível a dizer. Afinal, queremos ser mais originais do que o tradicional “maravilha”, pois não?
4 – Da importância da inexatidão: Nada mais irritante do que aquele comentador que busca exatidão matemática na escolha das palavras para justificar alguma passagem do texto lido. Para que diabos agir assim? Toda compreensão consistente é totalmente desnecessária e até nociva ao comentário. Pior ainda se for fundamentada e real. Há de se entender que, na grande maioria das vezes, nem o autor sabia direito o que pretendia dizer com o raio do escrito. Como poderia um simples comentador ter a pretensão de o saber? Olhe lá: Evite a prepotência e a arrogância.
5 – Das conjunções adversativas: Nunca diga “interessante, mas...” Conjunções adversativas devem ser totalmente banidas de qualquer texto comentado, sob pena de justíssima deleção.
6 – Das perguntas ao autor: Jamais termine uma opinião sua com “você também não acha”? Ai, ai, ai. Erro fatal. O autor não é obrigado a achar nada do seu próprio texto. O texto já é um achado em si. Não coloque o autor em maus lençóis. Por que defender inutilmente as próprias convicções num comentário e ainda por cima buscar alguma explicação com um provocador “você também não acha?”. Um comentário do Luso não é lugar para se pedir posicionamentos, mesmo de maneira sutil. Onde já se viu? Isso beira à falta de escrúpulos.
7 – Da recreação: Desde os tempos do Império Romano qualquer homem de ardil sabe que não é a verdade que segura uma argumentação, mas a recreação. Diversões e pândegos nunca são questionados. Seja leve e divertido.
8 – Das citações: Evite quaisquer tipos de citações de autores consagrados para alicerçar os seus comentários. Soa demais arrogante. Prefira exemplificar com situações cotidianas, tais como “o cachorro da minha tia”, “o gato amarelo da minha irmã” ou “o papagaio do meu primo”. Eis aqui ótimas citações. Lembre-se, quanto menos seres do gênero humano envolvidos na sua exemplificação, melhor, ou seja: diminui o risco do autor se identificar negativamente com algo ou alguém no seu comentário.
9 – Do desenvolvimento de idéias próprias: Não trace paralelos sobre o texto lido com outros textos ou livros, com filmes de cinema ou peças de teatro vistos ou revistos. Importante: Não compare nada no texto lido com os seus sonhos. Comentário não é divã de psicanalista. Ah: não escreva considerações pessoais de cunho universal ou filosófico sobre o tema em questão: texto de outrem não é lugar para você mostrar conhecimento e idéias pessoais sobre o assunto, mas só para enaltecer as idéias do autor. Francamente, advirto: isso é erro primário.
10 – Da sinceridade e dos questionamentos: Por fim, o mais importante: jamais seja escrupulosamente sincero e detalhista a ponto de questionar cada pormenor do texto ou corrigir qualquer impropriedade lógica ou incongruência textual. Sinceridade é coisa para comentadores amadores. Aquele que preza o comentário como um veículo de interação com o autor, diz apenas o que ele precisa ouvir. Lembre-se da velha premissa: uma mão lava a outra.
Portanto, aqui foram elencadas algumas dicas de ouro para todos se darem muito bem na feitura dos comentários, agradando incrivelmente aos autores. Em pouco tempo colherão excelentes frutos se seguirem as recomendações, quem sabe até, ainda hoje. E agora, o que estão esperando? Mãos à obra! Seus amigos autores os esperam de braços abertos... Bons e felizes comentários a todos.