Poema para
POEMA PARA (ao estilo de…)
Peguei na roupa de Domingo,
afivelei no rosto uma rosa vermelha
e parti, como quem já viveu.
No caminho, aliviado das estrelas,
guardei uma lágrima de reserva,
sem saber se tu aparecerias pronta
para me receber.
Foi assim que tudo aconteceu
eu acordei tendo a meu lado
o travesseiro húmido e não tinha chovido
naquele dia.
arfemo
--------------------------------------------------
http//asedadaspalavras.blogspot.com
A AMIZADE
A AMIZADE...
transporta-se no bojo
ou na raiz,
e, quando exígua,
está ao alcance
de uma mão,
pura,
é sua irmã,
e mesmo inerte
aperta-nos,
deixando uma marca,
húmida,
de ternura.
Arfemo
--------------------------------------------------
http//asedadaspalavras.blogspot.com
OLHARES...(Haiti)
OLHARES...(Haiti)
olhei para ti,
como um escultor
(que não precisa
de matéria).
basta-me a dor,
para dar corpo
às formas
na memória
arfemo
Os loucos da minha rua
OS LOUCOS DA MINHA RUA
O ar que se respira, carbono negro, denso,
quase impuro, nada tem a ver com a cor,
nem com as guelras (do odor não me lembro),
vem da memória, dizes, talvez do coração,
pois nem o pulmão que o inspira, sente.
Assim se vão passando os dias, indolentes,
aqui no asilo, onde às árvores chamam gente,
e elas murmuram entre dentes, qualquer coisa,
que bem podia tratar-se de sementes.
Mas não, é coisa de doentes…
arfemo
------------------------------
http//asedadaspalavrasblospot.com
Água-forte
ÁGUA-FORTE
Pintei o seu rosto
com a tinta que restava,
diluída,
quase se não via
a minha obra.
mas ainda brilham
os olhos que gravara,
a água-forte, na memória,
e o espelho me devolve,
a toda a hora,
a sua ausência.
arfemo
---------------------------
http//aedadaspalavras.blogspot.com
PAI, PARA QUE QUERIAS QUE EU FOSSE AINDA MAIS FELIZ?
Quando no duro empedrado de basalto inventávamos
campos da bola onde disputávamos campeonatos intensos e eu aparecia todo esfolado mas não doía, tu ralhavas mas eu era feliz,
Quando a menina Júlia, que regressava de táxi todas as manhãs, ao sair do carro deixava entrever um pouco mais da branca pele por sob o rodado da saia, eu também não te dizia que estava lá à sua espera,
Da nossa vizinha, do andar de baixo, essa sabias, que me oferecia livros de que fiquei amigo para toda a vida: O Sandokan, do Salgari, mas também o Júlio Dinis e Os meus Amores do Trindade Coelho, e tantos outros, de que jamais me desfiz,
Também te não falei da minha primeira namorada, que acompanhava à saída da escola todas as tardes, subindo as centenas de degraus, quase até sua casa, de mão dada, e de uma flor que, por timidez, nunca lhe dei,
Quando decidiste – eu crescera – mudar para um bairro novo de prédios grandes (mesmo que para isso labutasses noite e dia), onde se não podia jogar na rua e eu não conhecia ninguém, também não te disse como tanto gostava do bairro que acabara de deixar…
Pai, para que querias que eu fosse ainda mais feliz?
arfemo
-----------------
http//asedadaspalavras.blogspot.com
QUANDO EU ME FOR EMBORA
QUANDO EU ME FOR EMBORA
Quando eu me for embora, levarei comigo
a madrugada e de meu pai, suas mãos rudes,
com que moldava, a golpes incisivos,um tronco
frágil
insubmisso, sempre em sentido vertical.
De minha mãe, não esqueço, a ternura que mandava, disfarçada,
por entre o pão suado e a manteiga. Assim cresci.
Quando eu me for embora, também não esquecerei, os luares
que percorri, envolto em ti, sem precisar de
leito. Assim cresci.
Mais tarde, pouco mais, hei-de lembrar-me daquilo que não fiz.
Mas quando eu me for embora, é porque morri, cá dentro,
por não saber cuidar de ti, amor-perfeito.
arfemo
(rep)
-------------------------------------------
http//asedadaspalavras.blogspot.com
FRUTOS PROMETIDOS
FRUTOS PROMETIDOS
I
De súbito recolho as velas
Ao abrigo do porto, da memória,
Enquanto as águas cintilam prateadas,
Reflectindo as faces desejadas.
II
Seguros são os frutos prometidos,
Que colherás de tanto semeares,
Entre as searas abertas pelos dedos,
Que o vento ondulará quando quiseres.
arfemo
MEIA JORNADA
MEIA JORNADA
Quando a viagem é meia, já tornada,
Impelida pelo vento ou ressentida
Da calmaria ou sede de viver,
Por vezes reaparece a maresia
E tudo pode ainda acontecer:
O perfume agreste, a malvasia,
Ou a loucura de ver nascer o dia
De quem passa o dia sem o ver.
E onde está o Homem está o sonho,
Nem que seja um filho por nascer.
arfemo
(Rep.)
DANÇA DAS CORES
DANÇA DAS CORES
Está de moda, dizes, o fogo de artifício,
cores e efeitos, sob um céu estrelar.
No sentido inverso à direcção do vento,
entre as amuradas dos navios ancorados,
sopra uma inesperada brisa terna e cálida,
que afaga delicadamente os nossos corpos.
Nesta dança de cores e sentimentos,
é a festa da luz, rodízio de ternura,
do azul ao cinzento, forma pura.
arfemo
(rep)
----------------------------------
http//asedadaspalavras.blogspot.com