Pianista de mim.
Quando a alma povoa-se na ilusão, em vão meu coração vagueia, sonho-me sereia com o dom de enfeitiçar, sonho-me gaivota com o poder de galgar o mar. Mas sou gente, perene, carente, com todos os defeitos de uma terra poluída. Sou gente, sou vida. Sou guarda em guarita de guerra, que berra, insano berra, e ninguém escuta. E morre no pavor mesmo sem luta, apenas vislumbrando moinhos de ventos, cavaleiros que povoam os pensamentos, apenas os pensamentos... E morro tísica aos "relentos" da vida, estertorando o sangue, esquecida, em hemoptóico fim, sem um músico, um pianista para tocar um requiém de mim.
E vivo assim, tal borboleta louca, com asas carmim, voando neste pasto de gente, sem início e sem fim...
O velho sábio e as crianças burras
Tem certas coisas que acho engraçadas na vida. Fico imaginando um físico, sim, um físico aero espacial da NASA, em um parque de aeromedolismo.
Isso que vêm-me à cabeça.
A cena:
Ele em cima de um caixão,desses engradados velhos de cerveja. Muito bravo e furioso com as crianças que deixam os aeromodelos cair por não saberem das correntes ascendentes térmicas, ou muito menos entenderem que os ângulos de inclinação que influenciam na velocidade das pequenas naves.
Imagina ele, vociferando, em cima do caixão de madeira velho, gritando aos altos brados que é um dos projetistas mais famosos da NASA, a agência aeroespacial americana, que projetou a Apollo XI aos 20 anos de idade, que um gênio como ele "não pode com" gente que não sabe as leis da aerodinâmica. Enlouquecido, de olhos injetados, escabelado, continua a ofender as crianças, que invariavelmente deixam os foguetes explodirem antes de atingir seu ápice de altura. Irrita-se profundamente. Grita, verbigera, pula, esganiça, ofende...
Até que um menina de cinco anos de idade, chega para ele e diz:
- Tio, o senhor "tá" atrapalhando nosso brinquedo. porque o senhor não pula a cerca e tenta entrar lá no campo da NASA? Lá talvez alguém entenda o que o senhor está gritando. Ah...já sei, o senhor não tem crachá! Sim, eu vi!-lembrou-se a menina- O senhor foi aquele que atiraram na bunda quando tentou pular a cerca para o outro lado, e depois saiu na ambulância do hospício. Porque o senhor não volta para lá? Lá talvez alguém também entenda o que o senhor diz.
Aqui apenas há crianças brincado de voar e ser feliz, não é lugar para um físico como o senhor.
Pena que não deixam o senhor entrar na NASA...Mas quem sabe no hospício ou no asilo o senhor tenha público. Nem gritando alto os seus palavrões lhe dão mais atenção por lá? Pois aqui, se não fosse pela sua feiura e pelos gritos em cima deste caixão de bebida, ninguém mais daria...
O pobre velho olhou com ódio a pequena criança, frágil e vociferou.
- O miúda! Olha bem como falas comigo, eu sou um grande projetista...
A menina interrompeu:
- Desculpa vovô, o senhor pensa que é um grande projetista, porém na medida que sobes neste caixote de madeira para gritar com as crianças, não passas de um velho frustrado e bobo, que não consegue pular para dentro do mundo dos foguetes de verdade e fica aqui importunando as crianças que querem brincar de voar.
Resmungou o velho:
- Não posso com a verdade!
espera
Minha vida é esperar
(e o mundo sem razão)
minha vida é contar
quantas tábuas tem o chão.
E sol nasce
e sol se pôe
enquanto gente nasce
o amor depõe,
Redime
Todas as culpas
e desculpas
sem regime,
sem culpado.
[perdoa]
do pecado
de não ser-te ao teu lado.
por, apenas por:
A razão não ser pouca
embora a vontade, louca.
Ciúme
Ciúme, gume que corta e fere
negrume e força à loucura confere
na escuridão do coração sem altivez
na certeza da traição, não há talvez
E se destrói o ser sem perceber
a maior dor que se pode conceber
Auto-flagelo com elo de crueldade
dor fundamentada em irrealidade.
Violenta força, ferida sem cura
Verte sangue do peito sem razão
hemorrágica mente em loucura
Amor transmutado em dor, dissolução
berçário carcerário, nasce agrura
petrifica a mente em dor, ódio, ebulição.
Poema concebido como comentário ao poeta mestre em sonetos Aquazulis
"Tentação do diabo" Vale a pena ler.
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=156903
Quero ser feliz do meu jeito
Quero ser feliz
não sentir mais cicatriz
entender a falta de ar
ter o peito a palpitar
quero entender o envelhecer
não me desesperar ao entardecer
ficar à rua
amar à lua
dançar nua
ao sol nascer
deixar o vento lamber meu corpo
perceber que o mundo é vivo
e que não sou morto.
Quero ser feliz
encenar esta peça
chamada vida
e bem depressa!
(O tempo não para
ser feliz é coisa rara)
Quero viver a felicidade
perder-me em qualquer cidade
beber até cair
subir no palco
falar alto,rir
quero ser feliz
mesmo que para isso
precise ser atriz
sorrir ao invés de chorar
soltar todo o ar
jogar-me no mundo e voar.
Não acredito no último eclipse
vivo hoje o apocalipse
cavalgo neste negro cavaleiro
planto uma flor no coração do guerreiro
e sou luz!
Esta é minha felicidade
num mundo só meu
que feliz me produz!
Este texto foi inpirado no poema FELIZ DE QUALQUER JEITO, de Gê Muniz.
A isto que refiro-me quando falo de interação literária. De escrita criativa. Para mim este é o principal sentido do site, inspirar-me e poder inspirar.
Se por acaso houverem erros, caros amigos, por favor corrijam. Sou médica, não escritora.
Lágrima e causas
Uma gota salgada,
neste ocenao de mágoa.
Uma trégua, uma régua (passada)
uma folha amassada,
Lágrima,
um maço no fim, escasso,
um soluço sem espaço,
um laço,
um apagar de um traço,
uma negra linha em esfumaço.
um soco no meio do baço,
um distanciar (sem abraço)
um límpido líquido
em que me desfaço,
(e me refaço).
Uma vida,
(triste e amputada)
amargurada.
Uma família distante,
distanciada,
pela diástase assexuada.
Lágrima,
uma página,
(virada)
arrancada,
triste apagada
amassada,
em forma de água
na minha face rasgada
de mágoa,
vermelha, pletórica,
edemaciada.
Melhor água lavada
do meu coração
uma gota no oceano
da desilusão.
Lágrima,
uma álgebra
quebrada,
soma errada,
eu, tu e minha alma calada.
Mas com lágrimas, minhas mágoas, são lavadas com essas águas tristes e salgadas, que serão desaguadas bem no fundo, do oceano do mundo.
Postagem original: http://www.worldartfriends.com/module ... article.php?storyid=11034
Alma ao vento
Nos alimentamos de tão pouco
as vezes um verso rouco
é o bastante para saciar.
Pensamos tanto, um pensar louco
que as vezes um ouvido mouco
é muito bom para acalmar
A alma, esta velha senil
que de tão vivida e gasta
já não lembra dos portos que já partiu.
Muito menos dos destroços
de uma vida que há muito ruiu.
Velha alma modorrenta
senil e atenta
em busca de algo que ainda não viu.
Quem sabe uma pandorga de cor
com cauda de versos de amor
de um amor vivo que ainda não sumiu...
Agarra-se a velha alma
na esperança de voar junto
mesmo que apenas presa por um fio.
Cansaço
Apenas me desfaço
pedaço por pedaço
em pequena dissolução.
Apenas despedaço
pelos parcos traços
feitos pelos dedos
de minha mão.
Apenas estilhaços
jogados ao espaço
em versos loucos
sem razão.
Apenas cansaço
neste mundo em que me gasto
sobrevivendo
sem paixão.
Apenas me refaço
em cada verso
em que confesso
minha pequena
revolução.
Apenas o cansaço
de seguir passo a passo
esta estrada
na contra-mão.
Essa ética sem estética
essa conduta mimética
embalada no compasso da desilusão.
Apenas esfregaços
de células mortas
pela ausência
de solução.
Levando-me sempre ao cansaço
repetido tecido que esgaço
no tempo sem evolução.
A quem importa?
Insistem, as réguas, em retificar o caminho,
mas as curvas que boleiam a compasso o orgânico
rebelam-se dentro de mim. A ponta seca "re-sente-se" da vil métrica destas paralelas numéricas, réguas ,que insistem em retificar e quantificar o que organicamente se constitui curvo e imponderável.
Que eu digo disto tudo?
Ao de pensamento quadrado, régua e esquadro.
Aos outros, a orgânica liberdade poética, de mesmo, se quiser, ser merda, disforme, porém original. E que meçam a metro a qualidade das letras, e depois me digam: A quem importa?
Talvez pudessem pesar, se merda for.
O pássaro e a rosa
Velo teu despertar
em manhã flogosa
tal túrgida rosa
vívida viçosa
lançada ao ar.
Mas aguardo-te
silenciosa
bela e cheirosa
vestida de prosa
para te agradar.
Anseio manhã
airosa
terna e preciosa
sem resfolegar.
Apenas olhar teus olhos
profundo mar de abrolhos
um mundo inteiro a desvendar
Submerso em teu verso
oculto em teu olhar
neste controverso
universo
onde loucos
beligeramos a amar.
Mas hoje quero
ser flor rosa
mansa e sedosa
sem espinhos,
sonhando ninhos
para se entregar.
Inteira nua
todinha tua
boca, pernas,
ancas ao ar!
E tu meu amor?
Um pássaro selvagem
Condor
bicho selvagem
caçador!
Devorando minha rosa
por ti sequiosa
de enfim ser-te tua
desabrochada flor.
tatuar-te eternamente
com sua cor!
Povoar-te docemente
invadir-te com seu odor.
Enfim, poder chamar-te
AMOR!