Por Vezes
Por vezes não há sol
Apenas claridade
E um vazio preenchido pelo frio
Que nos cerca de saudade
Não há ninguem por ai
Tudo perece tão deserto
E há o cantico do vento
A soar tão perto
Cada ser é distante
E a neve esconde o calor
São cores projectadas
Num dia incolor
Por Vezes...
Às Vezes...
Tantas Vezes...
Por vezes há tanto sol
Tanta claridade
Tantas luzes dinamicas
Transbordando felicidade
Há palavras que confessam
serem bonitas demais
Raios luminosos destacados
Em sorrisos imortais
Tudo brilha nesse jardim
Neste florido amanhecer
Amarela flor que me diz
Como é bom viver
(Nelson Medeiros)
O Grito
Naquelas doces primaveras
Não acreditava na despedida
Queria crescer e transformar-me
Queria viver a vida
Soltava murmúrios internos
Qual abelha em tenra flor
Achava-me dono do tempo
Mas não conhecia a dor
Mergulhava na terra qual escaravelho
Florescia em tapumes renovados
Crescia brincando com o sol
Adormecia em céus iluminados
Em casulos desenvolvia asas
Rastejava por plantas sem fim
Era ouriço de verdes pastagens
Era eu o próprio jardim
Cozinhei-me qual pão caseiro
Em lenhas aqueci meu bem-estar
Em fornos ardia e torrava
Sem nunca me queimar
Rouquejava em pequenas poças
Em pequenas pedras descansava
Nem sequer tinha pulmões
Mas respirava
Mas um dia fez-se negro
Fui baleado numa asa
Um sacho traçou-me ao meio
Uma foice tirou-me a casa
Puseram veneno de rato
Apodreci, pois, mesmo ali
Arrancaram-me pela raiz
E nunca mais cresci
Eu era chá de poejo
E não fui seco até ao fim
Colheram-me sem necessidade
E beberam do alecrim
Agora não há jardim
Não há vida em mim
Mas ainda estou aqui
Seco, rastejando na minha terra
Onde furarei o solo?
Onde tomarei do pólen?
Onde estão as flores?
Os ovos, os ninhos, as árvores?
As chuvas e geadas?
Em minha teia só caem fumos
Meu casulo está caído na estrada
Do jardim não resta mais nada
(Nelson Medeiros)
Ao Amor
A seta lancada ja nao vem
Abre a ferida num so coracao
E este nao pertence a mais ninguem
Senao aquele que feriu em vao
(Nelson Medeiros)
Um sem Nome
Sem saber de onde vinha
Chegou, assombrado com tantas luzes
Eram tantas as visões que,
Abismado, se timidou no beco da rua
Ali, sozinho e escondido da noite
Enrolava-se no frio que lhe tremia
E a noite por ser noite não brilhou
E deu lugar ao dia
Que num breve e cínico açoite
Pereceu, dando lugar à noite
E o pobre ali sozinho, sim, o tal
Que esquecera o seu caminho
Percebeu que havia o dia
E quando este acordou
Tal pobre, pegou uma correria
Até que depressa chegou
Ao fim do dia
Aos tambores da noite
E aos gritos silenciosos da madrugada
Aqueles que afligem de não dizer nada
Aqueles que atropelam a sua caminhada
E o pobre, determinado,
No beco ficou parado
Era o SENHOR da agonia
O PROPRIETÁRIO da má sorte
O PATRÃO da miséria
Era o pobre, o REI da morte
Sem saber de onde vinha
Do nome vagabundo à sua mercê
Do nome pouco que nem tinha
Pereceu sem saber porquê
(Nelson Medeiros)
Esperança
Esperança fugidia
Levada antes de mim
Enquanto minha vida sufocas
Enquanto meus pulsos doem
Vais vivendo por mim
E ditas minha biografia
E...
Não espero alegria...
Esperança pequenina
Crescida antes de mim
Enquanto semeio o teu nome
Enquanto me atas e puxas
Vais fazendo o cultivo
Semeias duma planta desconhecida
E...
Colhes a minha vida...
Esperança em forma de barco
Furado, podre e acabado
Qual bóia a flutuar
Achará terra para descansar?
Mesmo longíqua neste mar
És o horizonte a se estender
E...
És “a última a morrer”...
(Nelson Medeiros)
Partícula de Deus
Eis um colisor de Hadrões
Desvendando o coração da matéria
É a ciência das coisas pequenas
E o fascínio das maiores
Eis uma energia negra desconhecida
Eis-nos aqui
Desvendando os mistérios seus
À busca da partícula de Deus
(Nelson Medeiros)