Confesso...
Neste momento
Olho o espelho,
Assusto-me...
Grito...
Fecho-me, escondo-me.
Procuro-te na escuridão da noite
Não te vejo…
Não sei de ti, de mim, de nós,
Não me conheço.
Assusta-me o nosso encontro,
O teu olhar, o teu beijo, os teus conselhos
Tenho medo deste momento,
Do amor (im) possível,
Tenho medo de tudo o que me rodeia
Medo do mundo.
Então escondo-me,
E no imenso azul do mar
No meu barco à deriva,
Vou sem regresso.
Perco-me
Neste desejo secreto,
Nesta viagem sem fim
Onde deslizo
Divido, partilho emoções,
Quero acreditar mas não consigo.
Em segredo confesso…
Sim, tenho medo.
Depois da Espera
Foi-se o tempo
De noites plácidas
E luas à flor dos telhados.
Foi-se o tempo
Eterno e dócil
Moldado pelos dedos claros do orvalho.
Foram-se também
As metas
Os corvos
E as glórias tão certas…
Foi-se o tempo
De espera e cinza nos terraços
De mar e borboletas…
Hoje…
Hoje não há silêncios
Nem momentos que possam em mim repousar…
Hoje
Dentro de mim
Há uma catedral só
Deitada neste frio
Que nem a Saudade
Habitou…
Hoje
Vieram em arma
Todos os prantos
Que o tempo
Ainda não sepultou…
Manhã
Que importam as pedras do chão que piso,
Os estilhaços deste mundo decadente,
Se no teu olhar sempre brilha um sorriso
E no meu caminhar existe uma flor quente!
Que importa o fracasso, o poder, a glória,
As ruas estreitas de uma vida só…
O que vale a pena é construir a minha,
A tua história,
Sem deixar que os sonhos se tornem pó.
Para lá da Contingência
Tu bem sabes
Como da morte e da vida
Se fala…
Tu bem sabes
O Gesto
Onde os homens e a circunstância
Se dão as mãos e se calam…
Tu bem sabes
Dos desertos e do amor,
Onde a Luz
E os momentos se eternizam,
Porque verdadeiros
E não falam…
Saudades
Vejo-te em tardes incertas
Entre muros e colinas,
Esperando o amanhã que vem.
Vejo-te em sonhos que traçam o horizonte
Do tempo que não tem tempo,
Na beleza do amanhã que há-de vir,
No imenso azul do céu,
Nas marés – cheias que agitam o mar,
Nas gaivotas que pousam na praia,
Nas toalhas estendidas no areal.
Encontramo-nos em tudo o que é belo!
Na espuma das ondas a bater na areia…
Em estrelas que surgiram na solidão….
Nos búzios… nas algas…
Nos desertos que esperam por nós…
Em múltiplos gestos navego entre sonhos… sentimentos… desejos,
Que vão mais além do horizonte
Entre vales e colinas…
E que um dia deram flores…
Através desta estrada sombria
Sigo com gestos de gratidão
As manhãs que se levantam em cada gesto,
No horizonte desta terra que é o nosso lar…
Vejo-te na janela que abri para a vida,
Em tudo que existe para além mar!
Miragem
Os meus símbolos
Tornaram-se dóceis à manhã,
Ao vento que em si
Trouxe os gestos quebrados
Do que não foi nem existiu…
Nos meus símbolos
Foi-se o tempo escoado
Em estar aqui simplesmente…
Porque
Dos meus símbolos
Já não se amena
Aquela vontade
Olhada na bruma
Daquilo que se sonhou…
Para os meus símbolos
Resta a memória
Deste momento
Que ainda ninguém derrubou.
Caminho
Em cada novo
Crepúsculo
O teu olhar é
Encontro,
É palavra redescoberta
Do nascente
Que mora em nós…
Em cada
Silêncio
Está o canto
Por tudo o que amamos,
Todos os sonhos
Por que, lutamos
E também
O que é mundo e sonho
Dentro da nossa voz…
Natal
Por uma flor
Se fez a vida.
Em fogo desabrochou,
Num vaso enorme
Pousado
Numa mesa da nossa casa.
(E é Dezembro…sempre
Que em cada gesto,
Para dar vida a um sonho,
Nascemos…)