Pó de lua
Desfiz-me em mil virtudes
A minha única alma inteira
Fragmentos em fases da lua
Cobiçei ser a única no teu céu
O sorriso que era de lua cheia
Descrevia-te em olhares d’amor
Poesia que palpitava na saudade
Nas horas minguantes d’esperas
Hoje encontrei os versos deitados
No momento em que amanhecia
Sacudi as últimas estrelas da noite
Procuravas em mim o pó de lua…
do teu outro amor que era sol do dia.
CA
Jardim da vida
No vento morno que vem dos sonhos planeados
Sopra a ventania do mundo desejando o amparo
Quando vier a vida trocando planos sem nos dizer
Vem ter comigo… a vida pode ser veloz e tão curta…
As sementes do medo que d’alma possa acontecer
Deixa-me somente humedecer essa dor do sentir…
Ponho sorrisos para colorir as pétalas da esperança
O chão medonho ser o campo de flores em jardim…
Ouvimos longe e perto, dentro do transpirar da chuva
O silêncio de querer das coisas a razão sem razão de ser
Sejamos apenas fadas sem asas que voam no horizonte
Encostadas á beleza da vida poesia de aprendermos a viver…
CA
Real
Sento-me á beira de um banco de balanço
Desejo, instantes, situações, segundos…
O segundo silencioso depois da memória
Á saída, um sorriso teu á minha espera…
“O que dás... É teu para sempre.”
Guardei dois beijos e tenho-os aqui no bolso...
Aproveito o fio do teu sorrir, costuro as feridas
Aguardo o tempo que se chama presente...
CA
Cada gota caída...
Hoje em cada gota caída….
Vejo sem rima nem alento
Falas pelo vento espalhado
Esperam o dia que nos une….
Hoje em cada gota caída….
Vejo a ausência do contacto
Falas que perdi sem entender
Esperam um novo amanhecer….
Hoje em cada gota caída…
Vejo o silêncio dos homens
Falas não ditas nas suas almas
Esperam pelo sorriso de Deus….
Hoje em cada gota caída…
Vejo duas mãos se unindo
Falas de orações suspiradas
Esperam a fé para não desistir….
CA
Pétalas
A primeira pétala caiu,
Beijando os nossos pés.
Os teus passos mansos
Chegaram timidamente
Aconchegando o coração,
Ocupando-o.
Chovia pétalas vermelhas
Que brilhavam sob o sol
Decaindo num murmúrio
Pousando ternamente.
O sopro suave do vento…
Demorei a entender…
Não há como calar o coração.
Deixa-me ser o teu abrigo,
Aconchega-te no meu abraço.
Eu estarei aqui…
Sempre que te sentires só.
Esta é maneira de te dizer…
Eu amo-te.
Quando as palavras
já não chegam…
CA
Ser-(me)
Ser poesia solta
palavras espalhadas
revolta de letras
em suspiros de vento
Ser pétala esculpida
em mãos de nada
que me deixam
apenas a poeira
Ser ou não ser
definições ou complicações
ser apenas
um existir efémero
o corpo á espera
prece muda
morte concedida
cinza plena
Os meus gritos
em silêncio...
Nem susurros
se lembrará o tempo...
CA
O poema tem...
O poema tem o perfume….
As flores doces d’amores
Espalhando em fina pétala
O coração rolando de calor
O poema tem as tintas…
Tingem de cores quentes
Rostos sorrindo apaixonados
Vermelho nos lábios d’amar
O poema tem a sensação….
Consome o verso da nossa pele
Toque delicado das palavras
Vestindo apenas o verbo amar
O poema tem ligeira inspiração….
Sente o forte do meu querer
Onde escrevo-te com a alma
Sem ti… vivo a morrer.
CA
Adoçadas lembranças
A passagem do tempo que nos percorre,
Ao ver os anos a passar á nossa frente,
E depois a vontade em nos esconder,
Num lugar onde não houvesse passado.
As lágrimas que teimavam em cair,
Percorriam a face,
Terminando no canto da boca.
Tinham um gosto doce.
Doce como recordações.
Agora,
Tinha as memórias como seu refúgio,
E pensava que era o que a dor tinha de melhor...
As tão adoçadas lembranças.
A lembrada promessa…
Aquela que se sussurra ao ouvido,
Querendo-a eternizar,
No intuito de chegar mais perto do coração,
E a selar…
A vida...
Podia ser feitas de despedidas,
e de encontros…
Que aquele podia ser o adeus,
Mas não seria o seu último olá.
Manteria debaixo da língua,
A reserva daquele sentimento
Que não era ela,
Nem ele,
Mas sim….
O nós quando estavam juntos.
CA
Orvalho
Percorres os cabelos molhados
Beijo-te a parte do teu pescoço
há um luar cremoso a invadir
a toalha que cai pelo meu corpo...
Procuras minha pele com os dedos
Pétalas de um de lírio germinando
Beijas os seios em perfume de flor
andando pela passerelle do meu ventre...
Abraço-te na chama que envolvemos
Afundo-me no prazer de nos ter-mos...
Veloz, desbravando o horizonte que nasce
Amanhecemos no orvalho do nosso ser...
CA
Chaves do coração
Numa vaga de nuvens em formas difusas
Vejo o teu sorriso marcado no horizonte
Vestígios de tempos das palavras trocadas
O teu amor suspira cócegas no meu peito…
Respiro-te interiormente na minh’alma
Pulsa o teu alento nos passos do vento
Desfaço as fronteiras entre o sol e a lua
A tua presença no azul vasto, flutua…
Nas linhas dos sonhos procuro-(te) descansar
Disponho uma cama na encruzilhada do tempo
Piso luares no colchão á procura de tranquilidade
Adormeço com a chaves do teu coração nas mãos…
CA