amar assim
odeio essas coisas pequenas:
mentiras, poemas, palavras
ridículas e sem nexo quando
você afunda no meu sexo.
quero apenas o silêncio
das bocas unidas, as mãos
crispadas, as pernas para o ar.
amar deitada é o que me convém.
nada é mau ou bem.
depende apenas dos ângulos.
amar sempre com a língua
cheia de desejo, com aquela dor
feroz.
e depois, bem depois
esquecer de mim, de ti,
de nós.
Lan Lan
cegueira
quando o inverno mergulhar em mim
e as folhas não mais existirem,
estarei lá em cima, perto do sol frio.
talvez com pouca luz,
eu possa ver melhor que a solidão
não é estar só. Mas, estar na cruz
sem estar morta.
Lan Lan
Viver
Fico calada
e deixo a cobra dormir.
A pedra nada diz
e todo mundo bate palma.
Viver é uma tarefa
surreal.
Haja saco pra segurar essa cruz!
Escrevo e chego a nenhum lugar.
Umas participações especiais ali,
um sobrenome aqui, um blog acolá.
No final das contas, a poesia é uma
inimiga feroz.
Fico chamando de nós: ela e eu.
Pra quê?
Ela é uma egocêntrica filha da puta.
Olha pra mim, cruza os braços e me
manda ir à luta:
eu que me foda.
Pra crescer como poeta ou poetisa,
(grandes merda,não sou nenhuma Hilda Hilst mesmo!)
só daqui há mil anos luz.
Haja saco pra segurar essa cruz!
O desapego do vento
olho para ele
com ironia
olho para isso tudo
com tanto cansaço,
desobservando cada
traço.
nada cabe naquele tempo.
como é bom o desapego
do vento que varre tudo
para dentro de seus
ouvidos surdos,
inclusive as mentiras
e os absurdos.
Desejo
o desejo me aperta
em vestidos esculpidos
e amarrados na seda pura
e puta da alma
e se ora o vento acalma
é por causa da hora submersa
entre a verdade e as entranhas
quando nada estranha, quando
tudo quer, quando sou mulher
e tenho o prazer na ponta
dos dedos, nesses segredos
abissais que terminam
nos meus seios:
teus pontos finais.
sobre/vida
uma mulher
de mãos amarradas
espera a próxima
injeção com os olhos
furados
quarto puramente
branco, roupas
brancas, paredes
chatas, morbidez
uma mulher
com os pulsos
enfaixados
tentou matar
seus medos,
seus erros
in/sana
in/sanidade
fio tênue
normal/idade
quem é ela?
ela sou eu?
ela se achou?
ou foi você
que se perdeu?
ela pirou?
ou foi você
que se esqueceu?
nau dos loucos
lá vai ela
olhar pelo buraco
da janela
os mares in/conscientes
da sua sobre/vida
prece para um moço que já foi
ave moço
sem graça
-ela está convosco?-,
bendito sois vós
entre os homens
cegos e surdos,
bendito é
o fruto da
vossa perdição:
-a (tua) mentira-
santo moço,
pai das máscaras,
rogai por ti,
pecador
agora e na hora
da tua santa dor.
amém
Bela Adormedida
o teu amor é algo
que nunca coube dentro
de ti ou de tuas palavras-pedaços:
esses traços que me rabiscas, esses
poemas no precipício são apenas
gentilezas geladas, delicadezas
que apodrecem antes da meia-noite.
sou a bela que adormeceu, sou o
que não podes atingir com os teus
poemas de morte e solidão.
Nunca pudestes deitar no meu coração
sem veias, sem batimento, sem glória.
deixe-me dormir
e me perder nessa memória
que se desfaz quando não mais me conheço,
quando amanheço sem deus e sem paz.
o amor, o amor
deve ser muito mais.
deve estar no meu sapato perdido,
no castelo pintado de amarelo,
em algum modus operandis diferente.
o amor é quem já se foi
e continua aqui,
dentro da lua desenhada
apenas em mim.
Máscaras Sociais
lamento o ocorrido,
lamento
sinto tanto por você...
o que posso te dizer?
amanhã é outro dia.
tudo vai dar certo.
levanta a cabeça
e olha adiante.
eu sinto.
eu sinto muito...
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ai!como minto, como minto...