Poemas, frases e mensagens sobre sociedade

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares sobre sociedade

EU DURMO COM A MINHA MULHER

 
Cada um tem a sua
Sua maneira de viver,
Há os que vivem na rua
E que na rua irão morrer.

Há os que vivem com fome
Em estado de precariedade
A miséria os consome
Vivendo da caridade.

Outros vivem em Palácios
Nasceram em berço de ouro
Sendo já o prefácio
De uma vida ao miradouro.

Há os que são protegidos
Pela nossa sociedade
E os que são agredidos
Sem haver dó nem piedade.

Mas para pecados meus
Não consigo compreender
Que haja quem dorme com Deus
E eu durmo com a minha mulher.

A. da fonseca
 
EU DURMO COM A MINHA MULHER

O amanhã não é para sempre.

 
(#)

Ah esse tempo ingrato,
que resolveu materializar-se em mim.
Tatuando-me a estética da velhice,
descorando minha juventude.
Minando-me a resistência, a capacidade.

A desestruturar minha arquitetura.
Degenerando-me os desejos, as cartilagens.
Atrofiando minhas papilas, em vontades e sabores.
Embaralhando e deletando em lapsos meus conhecimentos.

A realçar minha consciência de finitude.
Cruelmente revelando-me quão ínfima
e obscena me foi sua quantidade.

Eu, perecível produto cultural.
Pessoa ignorada,até marginalizada,
Inútil e carente em minha senilidade.
A exalar cheiros de remédios,
tão orgânica como os sábios livros velhos, ácidos e morfados.

Cheia de rusgas e manias,
sem os ímpetos do entusiasmo perdidos na longevidade.
Na lentidão dos gestos, que não permitem-me apreender...
A beleza do sonho a tirar sons da lira.

E essa oculta insatisfação do espírito,
na contramão de um tempo não linear.
Tão repleto de espontaneidade,
como se ainda fosse criança.

Em contraponto minha franqueza desenfreada,
despindo-me da comum hipocrisia.
A dizer sinceridades, mesmo que seja aos ventos...
O liquido direito de não aceitar ser desrespeitada,depreciada,infantilizada
ser um peso, ou um nada.

O íntimo desejo de não ser apenas uma leitura inacabada...
Como a expressão do tempo, fases , ciclos inerentes a todos, de um amanhã que não é para sempre.

[Ou a absoluta certeza que viver é a melhor idade.]

Lufague .
 
O amanhã não é para sempre.

900.000 SEM ABRIGO

 
Parece que estamos no século XXI, parece!...
Quando andava na escola, criança, feliz vivia sem me aperceber das dificuldades da vida.
Sem pai desde os quatro meses de idade, minha mãe tudo fazia para que eu tivesse uma vida igual aos outros garotos
Atravessava-mos a segumda grande guerra mundial e em plena guerra civil de Espanha.
Na escola aprendi que o mundo desde que é mundo atrevessou sempre períodos de guerras constantes, aprendi as barbaridades desses séculos longíquos.
Cresci, fiz-me homem e pensava eu que todas essas atrocidades, com o progresso da civilização,
passaria-mos a viver, não digo num Paraíso, mas em paz, com casa para vivermos ao abrigo do frio, com as comodidades , pelo menos as essenciais para termos uma vida decente, fruto do nosso trabalho, que a paz viria reinar no mundo, certo, havia a bomba atómica, mas para mim nesse tempo até era símbolo de paz, com o medo que ela representava, ninguém ousaria a declarar guerra a ninguém, puro engano!
Na verdade, os Países que a possuem, não declaram guerra àqueles Países que também já a possuem, quanto aos outros, vivem sobre a ameaça desses mesmos Países. Invadidos, bombardeados, escravizados e a fome grassa, os sem abrigo são cada vez mais numerosos. Os povos manifestam e são recebidos com cargas policiais desumanas.
E estamos no século XXI, parece, já nem tenho a certeza, parece que ainda ando na escola a aprender que os povos de antanho, viviam muito mal, com fome, sem abrigo, escravizados e começo a pensar que ainda não saímos dessa época.
Não me engano. Estamos bem no século do progresso e de tal maneira ele é excelente, que temos , televisão, rádio, que todos os dias nos anunciam coisas horriveis.
Esta semana, na Estação de Televisão Francesa
TF1,no fim do programa, a jornalista despediu-se dos telespectadores em dizendo: ATÉ AMANHÃ! E EM SEGUIDA, HOJE, EM FRANÇA, 900.000 PESSOAS NÃO TÊM ONDE DORMIR!
É o Século XXI

A. da fonseca
 
900.000  SEM ABRIGO

Ainda somos Seres Humanos

 
Que vergonha de viver neste mundo;
Que vergonha de ter nascido um ser humano;
Que vergonha de ter que pagar para me alimentar;
Vergonha sim, de fazer parte deste ciclo doentio chamado sociedade; ciclo este que fazem os seres humanos quererem ser mais ou melhores uns que os outros;
Vergonha sim, de ter que provar que eu sou melhor que você;
Vergonha sim, de me alimentar e ver outro ser humano revirando sacos de lixo;
Mas, lixo na verdade, é a sociedade em que vivemos, sociedade esta que nos força a sermos piores que nossos próprios medos;
Medos estes que nos forçam a sermos os piores seres humanos;
Vivemos em tempos modernos, razão pela qual foram alcançadas grandes conquistas;
Em um mundo de abundância, ainda somos pobres, ainda somos podres.
Ainda somos seres humanos.
 
Ainda somos Seres Humanos

Sociedade tecnológica

 
O Computador
Prende o “viajante” diante de uma tela
Onde ele se sente “livre”
Para “navegar” horas intermináveis.
“Comunica-se” com todo o mundo
É quase sempre um “poliglota”,
Que se fecha com sua “tribo”
E nunca sai do seu país,
Às vezes, nem do seu bairro.
Vive em um mundo virtual
Porque não conhece a realidade
Que pensa viver através da tela.

O automóvel
Exemplo de dependência e ilusão
São as rodas da vida
Símbolo de status
Mas, que só é possível
Para pequena parcela da população.

O celular
Com seus fones a encher os ouvidos
São os fios da vida.
Possibilita comunicar com pessoas de outros continentes
E dificulta saber
Quem é o vizinho do lado.

Todas essas necessidades supérfluas
Angustiam o homem moderno.
Como ser feliz
Com todos os vícios
Produzidos pela decadência
Moral dessa sociedade?

Poema: Odair

Odair José

http://odairpoetacacerense.blogspot.com
 
Sociedade tecnológica

Preconceito

 
Alvoroço,
Calabouço,
Eu não ouço,
Eu não ouço.
As palavras,
Que me tentam dizer,
Os azares,
De 30 andares.
Acabo,
Amasso,
Num abraço,
O pão
Que foi feito,
Com o sal do preconceito,
Da palavra que não existe.

Poderá o preconceito acabar?
 
Preconceito

Sociedade desalmada

 
Sociedade desalmada
 
Sou um ser muito sensível...
E ser sensível é horrível,
no meio desta Sociedade
desalmada.
Viver torna-se uma ferocidade:
tem gente matando
a troco de nada.
Tem gente prejudicando
o próximo,
simplesmente pelo prazer
de ver
a vida do próximo desandar.
Poucos procuram ajudar.
Muitos só querem se “dar bem”.
Sendo assim, ai de quem
se puser em seu caminho,
rumo ao “sucesso”.
Fama, dinheiro e poder,
viraram sinônimo de “felicidade”.
Se fosse assim, na verdade,
famosos e endinheirados
não se drogariam,
nem se matariam.
São todos uns “pobres coitados”,
que não sabem de nada.
A verdadeira felicidade
vem da Alma,
e não da fama ou da riqueza.

A.J. Cardiais
20.01.2014
Imagem: Google
 
Sociedade desalmada

O Óbvio

 
O óbvio: made in Angola

Numa Escola muito heterogénea na cidade de Luanda, onde estudam alunos pertencentes a várias Classes Sociais, durante uma aula de português, a
Professora perguntou:

- Quem sabe fazer uma frase com a palavra "óbvio"?

Rapidamente, Luana Gourgel Pereira dos Santos Van-Dunén, menina Rica, uma das mais aplicadas alunas da turma, respondeu:

- Prezada professora, hoje acordei cedo, depois de uma óptima noite de sono no conforto de meu quarto. Desci as escadas da nossa vivenda no condomínio em Tala-Tona e dirigi-me à copa. Depois de deliciar-me com o pequeno almoço de frutas e sumos naturais, fui até a janela .
Percebi que se encontrava guardado na garagem o automóvel BMW-X6, V8 do meu pai. Pensei com meus botões:
- É ÓBVIO que meu pai foi para o trabalho com o AUDI-Q7.

Sem querer ficar para trás, Luiz da Silva Kitumba, um rapaz de uma família da Classe Média, acrescentou:

- Professora, hoje não dormi lá muito bem, mas consegui acordar, porque coloquei o despertador na mesa de cabeceira, perto da cama. Levantei-me meio zonzo, comi pão com manteiga e tomei chá.
Quando saía para ir para a escola, reparei que o Toyota "Rabo de Pato" do papá estava no quintal. Logo imaginei:
- É ÓBVIO que o papá não tinha dinheiro para ir abastecer gasolina e foi trabalhar de transporte público.

Embalado na conversa, Domingos Bemba Bumba, um menino originário de uma família da Classe Baixa (é óbvio), também quis responder:

- Senhora professora hoje quase não dormi nada , porque a polícia estava a girar e a disparar muito para agarrar os bandidos lá no bairro, até altas horas. Só acordei de manhã porque estava a morrer de fome, mas não tinha nada para comer... Quando olhei pela janela, vi a minha avó com o jornal debaixo do braço e pensei:

- É ÓBVIO que ela vai à retrete!!! Não sabe ler...

Autor Desconhecido...
 
O Óbvio

PUTA DE VIDA

 
Puta de vida, puta de sociedade
Não é só a puta que é fodida
Mas também a nossa dignidade.
Mesmo a dignidade da puta
Nem ela mesmo é respeitada
Ninguém é ninguém, não somos nada.
Tenho vontade de ser kamikas
Fazer explodir tudo em palavras
Das mais rudes às mais malcriadas
Pois que há gente sem sentimentos
E nada servem os lamentos
Daqueles que são feridos de morte
Que andam no Mundo sem Norte
Que tudo fazem para o merecer
Mas esse Norte nem sequer dá para ver.
Um véu negro se levanta
Se reagem logo alguém se espanta 
E dizem-lhes, vão-se foder.
Se estou revoltado? Ah pois estou
Gostava de viver num mundo sem hipocrisia
Sem o cinismo das guerras
Mesmo que sejam só de palavras
E essas fazem na verdade doer.
Porquê, porque quero a paz 
E contrariado não posso responder

A. da fonseca
 
PUTA DE VIDA

SEM AMOR, SEM FUTURO

 
Trilhei tantos caminhos na vida
Ruas e Avenidas do desespero
Ruelas e becos sem ter saída
E um destino amargo e severo.

Andei de rua em rua procurando
A felicidade que tanto desejava
Mas só escolhos fui encontrando
Mas do bem estar, nada de nada.

Sem forças, sinto-me ninguém
Sem amor, sem amizade, sem nada
Sinto no coração esse desdém
De vida vivida sem alvorada

Tudo dentro de mim é sempre noite
Vivo dentro de casa assombrada.
Por mais que queira ou me afoite
Não consigo ver felicidade dourada.

As crianças têm fome, têm frio
E o que é que a sociedade lhes dá?
Nada de nada, que de vê-las é calafrio
Sem amor, sem futuro, abandonadas.

A. da fonseca
 
SEM  AMOR,  SEM  FUTURO

Sóbria de mim

 
Sóbria de mim
 
Vá lá alguém fazer de si próprio confidente
Dar um voto de confiança à propria sombra
Há uma instância onde corre um grito infecto
alma ou comarca que atraiçoa toda uma esperança

Já me evadi, sou foragida, fora de lei
faço valer a minha voz aos quatro ventos
Essa sou eu, sem máscaras, sem subterfúgios
Resido só no vale da alegria e autenticidade
no respeito por mim mesma e pelo alheio

Se saio ilesa de tamanha mesquinharia
da subtileza das palavras vãs e amorfas
É porque não me importa a imagem que têm de mim
tudo o que eu quero, é ser sóbria de mim
e ler a paz nas alegações finais

Maria Fernanda Reis Esteves
50 anos
natural: Setúbal
 
Sóbria de mim

ESQUELETOS ELÉTRICOS

 
ESQUELETOS ELÉTRICOS

Alterno-me em devaneios apáticos
Entre as compras do açougue
E os carrinhos do supermercado
Afundo-me aos passos no corredor
Badalando sinos, empurrando desavisados
Abusando dos pés espalhados, erráticos
Divido-me franco entre o liquidificador
E os milhares de potes de plástico
É tudo de um rico brilho aterrador
De design moderno, intergaláctico...
Os pensamentos fogem do pensador
Formando seus próprios negros buracos
Incorporando os conceitos do mundo
Em dores vendidas gôndolas ao lado
Digiro tudo dietético, estratificado...
Nas filas destes calmos seres epiléticos
Encadeiam-se elementos fantásticos
Empurrados por esqueletos elétricos...
O tempo corre em blocos de intervalos
Flutuando entre os cabides das roupas
E os brancos dos aparelhos domésticos
Na espera rezo baixo uma prece rouca
E escôo cibernético, prático, em ondas.
 
ESQUELETOS ELÉTRICOS

Máscaras

 
Máscaras
 
Máscaras

Canso-me depois de me cansar, gasto-me depois de me gastar…
Acalma-te coração, não vale a pena a inquietação.

Não deixes as rugas chegarem e se enraizarem,
Respira fundo, na transpiração do rubor em desatino
No desalinho das mentes cansadas das máscaras
Se desmascaram a si próprias, constantemente.

Ouvem-se vozes em harmonia, dia a dia,
Vêem-se rostos de tristes criaturas contentes,
Enchendo os bolsos, cantam, riem, dançam,
Na virtualidade da vida vivida sem existência.

Nessa senda de existência sem vida, na mentira
Mentem ao sabor do ar que respiram,
Ouvimos nós boquiabertos, sem resposta
Ao devaneio louco do embuste aceite pela sociedade.

E assim acaba a história, pois assim se quer
Pensar cansa a beleza, da inimputável gente
… que somos no mundo… mas que mundo?!
Que gente, que futuro, que moral, que valores?!

Permaneço na inquietação de ter que me acalmar.

(imagem retirada da net)
 
Máscaras

RUSH

 
RUSH

Apopléticos, descombinados
Trajados em diáfanos tons nus
Andam pelos dias rebobinados
Das manhãs claras em caos

Desferem os pés às ruas atribuladas
Esboçam descaso, discrepância
Cimentam sorrisos, viajam recatos
Param esquecidos de seus queridos destinos

Sobem, descem, acolhem, engolem
Pensam no que são, são pensados
Emocionam-se do dia de ontem
Imaginam, animados, o dia que não terão

Andam, passeiam de cá para lá
Voltam a presenciar o depois, de antemão,
Correm para chegar, ou não...
Entregam-se. Para nunca mais parar
 
RUSH

A simplicidade como opção

 
Infelizmente a Sociedade
só aplaude
quem tem dinheiro...
Quem opta por uma vida simples,
é considerado um covarde.

Eu optei por uma vida simples,
e só aposto na felicidade.
Este sim é o "grande jogo":
é o jogo da vida.

O Mestre Jesus nos ensinou
o valor da simplicidade.
Mas o mundo não aprovou.

O mundo só usa os ensinamentos de Jesus,
para dominar, para manipular
e fazer dos "pobres coitados"
uns alienados.

A.J. Cardiais
17.08.2018
 
A simplicidade como opção

Clausura

 
Nada mais entendo
Da realidade desta vida fugaz.
Tudo, tudo, me parece desconhecido!

A obscuridade prevalece?
O mundo tornou-se um abismo perdido
Um buraco negro que sangra,

Vísceras são expostas ao vitupério
Levando inocentes a baixar a cova
A critério da perversidade humana (Cemitério).

Oxalá que a pobreza
Da alma se convertesse
A riqueza do amor de Deus...

Sinto saudades dos tempos de outrora
Quando criança brincava feliz
Uma fortaleza havia dentro de mim
Meus pais passavam segurança.

Disciplina, limites,
Éramos tão livres infantis
A cantarolar como pássaros.

Hoje as crianças, os jovens vivem...
Num cárcere isolado cada um em seu
Refúgio desconectado dos pais.

Aonde deveriam ser seu porto seguro!
Dessa forma, a alma se sente desprezada
Rejeitada contrariada passando a viver...

Em conflito, - vem a clausura devaneios
O adversário da nossa alma logo entra
Em ação, sagaz, astuto encontra presa fácil

Que já não se sente amada nem
Pelo os seus e nem pelo mundo levando-os
As piores atrocidades algo assim.

Irreparável que ficamos perplexos...
O que dizer? O que fazer?
Rever os nossos conceitos em relação
A família seria o primeiro passo!

Eu acredito: Que um simples eu te amo,
Você consegue, porque é capaz ....
Isto sim, faz uma diferença!

O mundo pode dizer que não,
Mas você mãe pai jamais! ...
Mesmo que tudo lhe pareça contrário.

22/10/17
Mary Jun,
Guarulhos,
Às 01:20hrs

Refletindo quanto ao ocorrido em Goiânia!
 
Clausura

(Des)digo!

 
(Des)dita recebe quem deseja sorte
(Des)amor, aquele que mais o distribui
(Des)apego, aquele que mais se entrega
(Des)elegante é quem escolhe cultivar a alma
(Des)abilitado quem não conhece a arte de enganar
(Des)acertado quem não disfarça os sentimentos
(Des)ajustado, aquele que não fomenta lobbies
(Des)entendido aquele que se faz de tolo
(Des)iquilibrado quem tem o coração na boca
(Des)ventrado quem pariu a aberração que antes de nascer já estava moldada à sociedade
(Des)digo tudo o que disse, não vá ser censurada!
(Des)ilusão!


Maria Fernanda Reis Esteves
49 anos
Natural: Setúbal
Email: nandaesteves@sapo.pt
 
(Des)digo!

Forma Pronta

 
Enganados por pensamento de outrem
Acreditam nas crenças alheias
Sem ao menos escutar a voz que os anseia.
Pobre! Humano que não peleia...

Viver em sociedade,
Sem almejo diverso da vontade,
Evitar o ser curioso,
Por preguiça ou medo de algo enganoso.

Não adentram nos males do universo,
Estão cegos diante dos versos
Impostos por seres ditos “corretos”
Que os convencem por decretos.

Cada cabeça uma sentença,
Sendo assim, cada crença uma cabeça,
Cada corpo uma unidade,
Cada qual com sua singularidade.

Não deixes que a forma pronta
Te convences com tua afronta.
E quando vier de escolta,
Mostres toda a tua revolta.

Tudo é distinto, modelo de visão,
Podemos e devemos divergir opinião,
Entendas o que para você é, e pode ser verdade,
Cogite sempre inúmeras possibilidade.

Talvez, pelo ócio ou falta de orientação,
Fantasmas oriundos da sociedade,
Que não presenciam o prazer da contestação
Que encaram tudo como pronto,
Perdem todo o encanto e dissipam descobertas,
Singelas, belas e incertezas,
As quais, fornecem o sustento para a curiosidade,
E fazem com que a vida seja vestida de autenticidade.
 
Forma Pronta

Amanhã é dia

 
Daniel foi sempre descrente de tudo. Era como se lhe estivesse no sangue o desencanto. Ele tinha consciência de que, no fundo, ou no fim de contas, nada valia a pena mesmo que a sua alma fosse grande, mas sentia-a pequena.
Viveu sempre rodeado de pessoas convictas, crentes e entusiásticas das causas que lhes interessavam. Ninguém, à sua volta, andava perdido, ou simplesmente desorientado. A Gina era astróloga especialista. O Antímio era ateu inveterado. A Eva era católica e o Adão era cientista, cristão.
Daniel relacionava-se com estas pessoas, por diversas razões. Para elas, Daniel não era nada. És do Benfica? ÉS do Porto? Não. Eu quero que vocês se fodam, dizia ele. Não tendes mais nada que fazer/dizer?, perguntava ele. Não., respondiam-lhe eles.
A vida era uma merda.
As coisas, o mundo, a natureza, a música, o ar que respiramos, o sono… eram maravilhosos, mas as pessoas, quando entrava em certos questionamentos, eram, nas suas próprias palavras, uma merda, ou pior. E ter que trabalhar, em determinadas condições, era odioso e revoltante.
Mas o mais odioso e revoltante era ver o que se passava entre o poder e os que não têm poder.
Daniel não tinha poder e gostava de ter, mas nada fazia por isso, porque era descrente até do ódio, que não levava a nada.
«Um tipo assim não devia ter nascido», comentava o Afonso Henriqueto, numa palestra promovida pela Sociedade contra a apatia, subordinada ao tema «Como distinguir os frutos do ódio e do amor?»
Daniel sonhava.
«Se ele acreditasse, tentava realizar o seu sonho», dizia o padre Américo à irmã Francisca.
«Mas Daniel não acredita que possa realizar o seu sonho», respondia a irmã.
Daniel sonhava com uma sociedade sem partidos políticos e sem governantes, porque estes eram os representantes daqueles que todos devemos recear. Os que têm poder são sempre uma ameaça e um perigo. A qualquer momento impõem a sua vontade. Numa sociedade desorganizada politicamente também isso aconteceria.
Qual era então a vantagem?
A vantagem era que numa sociedade politicamente desorganizada os que têm poder não poderiam contar ainda com o favorecimento das instituições.
 
Amanhã é dia

VEM DEPRESSA

 
Todos nascem com esperança
De viver em igualdade
Mas nos pratos da balança
Nunca se encontra a verdade.

O peso capitalista
Não é igual ao do pobre.
O primeiro, é egoísta
O segundo, é o mais nobre.

Há tanta vida perdida
Neste Mundo de ilusões.
É vida sem avenida
Mas vida de privações.

Há os que matam pelo poder
E têm o mundo na mão.
Os que lutam até morrer
Para terem direito ao pão.

O Sol nasce e brilha
Mas para muitos não tem cor.
É viver no meio de ilha
Com roseiras sem flor.

E neste Mundo selvagem
Universo de Barões
Ser igual é só miragem
Em deserto de ilusões.

Já não há mais esperança
Como havia antigamente.
O Mundo está em mudança
Andam a enganar toda a gente.
Ninguém sabe onde está.
Ninguém sabe como é.
Vladimir Ivitch volta já,
Vem depressa e traz o "Ché".

A. da fonseca
 
VEM DEPRESSA