Poemas, frases e mensagens de Marujo

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Marujo

Santos da Hipocrisia

 
Até quando se vai ouvir as vozes do lamento

Até quando aquele que tem poder avassalara seu semelhante

Chega de regozijo na iniquidade

Em tudo que e mau direccionado

O domínio do homem justo e recto em seus passos

Transformais flores em armas

Chega de sanguinárias inocentes

Em frentes de batalhas dominadas pelo ódio

Destruição de vidas e de almas

De jazigos prefabricados em jardins de falecimento

Os olhos não se abrem

Não olham em todas as direcções

Hipócritas da morte

Sanguessugas de inocentes

Que vossos lamentos sejam ainda maiores

Do que aqueles que não deixais dirigir seus passos

Sociedade de mentira

Com pátios largos e cheios do que é mau

Com ruas de intenções camufladas

Mas com muros altos para que os olhos não alcancem a podridão de vossas almas

Gritais ao mundo paz, no entanto fazeis guerras

Gritais ao justo liberdade e tirais o livre arbítrio

Matais nossos descendentes em proveito do vosso crescimento

Assassinos de almas justas

Sugadores de amor

Pregais o amor no entanto não sabeis amar

Não viveis nem deixais viver

Não entrais nem deixais entrar

Mudai vossas vestes

Limpai vossas condutas

Renascei na verdade

Fazei o que é justo para receberdes o que e justo

Pagai com amor para serdes pago com amor

Pensai em vossos semelhantes para também serem relembrados

Não julgueis para não serdes julgados

Parai de viver mortos

E renascei em verdade

Untai vossos corpos com sabedoria justa

Tornemo-nos novamente humanos

Pois o único valor que temos e esse

Não o que possuímos o cargo que ocupamos

Mas sim sermos humanos

Com capacidade de chorar

De reagir ao mínimo toque

Com capacidade de amar

Com sabedoria para construir

Crescer a seu tempo e modificar.
 
Santos da Hipocrisia

sinto falta

 
sinto falta do dia que me despedi de mim
sinto falta da amargura do dia da noite da ternura
falta do mar onde me encontrei
nas nuvens onde cedo me contemplei

sinto falta do sorriso
das lágrimas do sentido do improviso
o abraço carente uma mão por desflorar
do compromisso descontraído
sinto falta de cair e de seguida me levantar

memorias desejos guardados
armas por existir campos de flor em pleno elixir
falta de brincar de quem como somos soldados
amados perdoados entendidos portas por abrir

sinto falta do sabor a caramelo
das limonadas de verão
do amigo do escudo protector do elo
noites passadas em serão

e o sol brilha
mas não da mesma forma
sem a mesma intensidade
sinto saudades das cabanas dos putos em sua ilha
sem saberem que o bom da vida e a mocidade

sinto falta de partir espelhos
de arcos e flechas piões e berlindes
das brincadeiras nos recreios

saudades dos que já partiram
dos que ficaram e nunca mais encontrei
das canções que cantamos
palavras que partilhamos
sonhos que seguiram

passo a passo
tempo a tempo
sempre apreçado
sempre lento

cada golo uma vitoria
uma alegria ternura
cada defesa uma aventura
no fim de uma tarde no inicio da gloria

sinto saudades daquele olhar
da incerteza no amor
vontade de cuidar
o mistério a chama que nos envolve no mais estranho calor

sinto falta dos passeios de domingo
das gravatas cheirando a mofo
dos Invernos de guarda chuvas abertos
do bêbado mais um copo pedindo
 
sinto falta

E ressurge mais uma manha

 
Somos teclas de um piano
Que desafinado diz olá
Apanhando o tal comboio
Numa esquina desafinada
Na gare destinada

Somos a voz que se eleva no silêncio
Palavra calada
Somos rua pelos sapatos calcada
O horizonte do mar imenso

Somos a cadeira deitada
Que nos faz manter de pé
O suor perfumado de uma guerra lembrada
Os corpos marcados pela fé

E ressurge mais uma manha
Que nos amanhece
Sem nos perguntar
Se queremos acordar

E chega o beijo
Nas asas do vento
Leve nos lábios
Que perguntam como esta?

Sem saber esse nome
Escrevo entre a sorte
Tentando descortinar
Porque o sol queima
Quando ainda esta noite

Digo de onde venho
Mesmo sem saber onde pertenço
Tudo gira parado
Como o colorido de uma flor
Que nasce no fim do dia

E tu pagas o café
No azedo do açúcar
Mexendo os dedos fechados
Abrindo a alma pela primeira vez
Perguntas quem pode levar a mal?

Enquanto eu bebo
O resto do inicio
Do vinho em minha boca
Sonhando com o beijo
Que não te dei
E ressurge mais uma manha
Que nos amanhece
Sem nos perguntar
Se queremos acordar
 
E ressurge mais uma manha

Alma do povo

 
Oh alma que cedo de mim partiu!
Se partiste foi porque quiseste?
Aflorando meu corpo em prisão
Ferida que em mim abriu

Alma, alma!
Por onde escondes?
Não de encontrão
No sótão da minha solidão

Quão cedo te foste
Ao encontro do vazio
O alma que partiste
Em pés de abrote

Há esse silêncio em mim
Na alma que partiste
Esqueceste de mim?

Alma naufragada
Que nem pode ser salgada de salvar
A tristeza dessa certeza
É que não tenho a repesa
Nem se de mim te despediste

Oh alma, alma
Que cedo de mim partiste
Nem o José
Quando toma seu bagaço
Escuta teu cansaço
A porta do café

E a Dona Antónia
Ainda espera tua chegada
Relembrando tua partida
Qual bravo pescador

Oh alma, alma
Que é minha
Mas também do povo
No mar que nos Aguava

Se moras no meu centro
Porque não encontro
Teu suspiro
Quando a guitarra
Toca meu retiro

Ai Dona Antónia Dona Antónia!
Eu respiro, eu respiro
Respirada sem precisar
Chamando a alma
Para a nos se juntar
Ai Dona Antónia
Ainda ontem disse ao José
Que essa alma é tudo
Que se vê
Mas o José retorquiu
Viva Portugal!!!
Que a alma e banal
Tomei o café e sem abrir meu silencio
Me retirei do José
De saída desse café
Onda a alma não estava escondida
Me encontrei com a rua
Entre lampiões
Que só gastam e nada dão
procurei
Essa alma e uma pequena estalada

Alma, alma que me acalma
Levei essa estalada
Porque retirei uma
Palavra ancorada
E foi logo mal empregada
A uma garota de esplanada

Mas não tenho medo de me embalar
De construir a saudade perdida
Alma, alma
Eu só te quero encontrar
Podes voltar
Estas perdoada
E nem pelo povo
Serás censurada

E me embalo novamente
Por esse passeio
Por essa rua recorrente

O José sai de traz
Que eu também sou gente
Povo, povo
E neste lodo que se tornou Portugal
Que me afunda a alma em tal temporal
Que o mar se acalma
Pedindo essa alma

E se a lavadeira
Não serve para rouparia
O capitão perde a alma
no vinho da mascaria

E depois da garrafa vazia
Tal e qual o corpo
Quando cheio apreciado
Quando vazio desprezado
Agora porra que porra?
Porque também me faz falta
Que alguém possa animar a malta
Oh Dona Antónia
Por acaso se vir a alma
Peça-lhe com calma
Para me escrever
Porque vou viajar para a alma procurar
E assim me despeço da alma
Da Dona Antónia com um beijo
De muita calma
Sem lágrimas para recordar
Na alma que cedo de mim partiu
Se partiu foi porque quis
Que cá eu!! vou mas é ser feliz.

Porque a morte não sei se é grande ou pequena,
Mas!! A vida sei que não é eterna.

PS:

José atenção às diabetes não bebas tanto café senão tua alma um dia perde a Fé.

Dona Antónia se a alma vir, lhe peça para me escrever a sorrir

Quanto ao povo vou-me embora porque já não a alma que te aguente.
 
Alma do povo

Para sempre

 
Agora que pausadamente
Recordo vazios em mim
Para sempre na saudade
De em ti existir

Ser fatalista
Batalhando o amor em mim
Porque gostar assim
Rasgando a mão
Que se ergue
No esquecimento
Planando no Livramento
Da força que se abre
Sem me dissolver
No que esqueci
Em tanto que me entreguei

E que agora?
No agora que me espera
Agora que pausadamente
Recordo vazios em mim
Para sempre na saudade
De em ti existir

Sons agudos
Nas varandas da vida
Gritos mudos
Sobre a cidade adormecida
Recorrendo ao recorrente
Pela brisa de veludo
Que me abraça
Em corrente forte que me segura
Partindo para uma nova morada
De uma razão ancorada
No rio que flui
Como um rio
Que segue na vida
Quando o sol
Se juntar ao mar
E eu de novo
Em uma vez mais te abraçar

No agora que me espera
Agora que pausadamente
Recordo vazios em mim
Para sempre na saudade
De em ti existir
Para sempre
 
Para sempre

Eu apenas rasguei as palavras

 
Eu apenas rasguei as palavras

De alguns livros

E pintei as fotografias

Que tu realmente não te importavas

Deixa-me saber agora

Do que estava errado

Que o nome que chamavas

Era do coração que não era meu

E tu servias palavras

Saídas de uma noite normal

Com o luar

Acompanhar o beijo matinal

E eu apenas rasgava

Cada nome, cada palavra

Rasgava cada lembrança

Cada memória em mim tua

Deixa-te saber agora

Que o meu eu

Já não tem coração

Nem despedida de onde mora

Eu que sou eu

Que rasgo palavras antigas

De livros modernos

Eu que sou teu

Mesmo não sendo

Eu que me deixei saber agora

Que esse coração

Era de alguém que não sou eu

Eu que sou eu

Que apenas me rasgo

Entre palavras

No coração

Que nunca foi meu

Apenas rasguei as palavras

De alguns livros

E pintei as fotografias

Que tu realmente não te importavas

E vi um mundo sem igual
 
Eu apenas rasguei as palavras

A porta continua aberta se quiser voltar

 
Hoje te vou falar do tempo da felicidade. Descobri que esse tempo é agora sem retardar sem retaliar ou até fazer perguntas. Saiba que deixei de fazer perguntas e o sol lentamente voltou aquecer minha face, me senti como andorinha fazendo os voos rasos por entre o deserto sabendo que amor tudo supera.

Te trago boas novas! Encontrei algo precioso e nem foi preciso mergulhar no mar, encontrei no cimo da terra sorrindo ao vento, eu perguntei seu nome a medo ela respondeu baixinho sussurrando, sua face ficou vermelha e eu sem palavras. Fica feliz por mim? Talvez não! Mas já não me importa. Os amigos te mandam saudades acho que já perdoaram você, por nos ter abandonado, apenas agora tem um certo ressentimento. Ontem Talita,me chamou de tio fiquei todo babado que momento lindo!!! Lembra Talita? Ela esta grande muito engraçada e tem sido a minha alegria.

Tenho aprendido a ser feliz a saltar de nuvem em nuvem, a rebolar na relva. Tenho passeado no mar de mãos dadas tentando agarrar as ondas enrolando nossos corpos nas areias que nos abraçam. Sim é verdade acho que ela é especial, seus olhos são calmos como as águas límpidas que quero caminhar, sua vida simples como suas tranças e seu vestido branco. Desconfio que seja algo do mar, mas ainda não descobri. Se estou me despedindo de você? Claro que não você é que se despediu a muito tempo atrás e deixando tudo que pode para eu me lembrar da sua despedida. É que as vezes o amor chega sem avisar como o ladrão da noite assaltando toda nossa alma, chega como a brisa quente na manha no cheiro primaveril de uma nova chegada.

Não vou perguntar como esta, o vento me tem trazido todas as notícias de você, as legiões me traduzem cada palavra.

A porta continua aberta se quiser voltar, apenas eu já não lá estarei, por isso quando sair apenas fecha a porta os fantasmas são seus não os quero mais.

Talvez seja a última carta que escreva, a carta que talvez te envie.

E que estou aprender a ser feliz e isso requer tempo.
 
A porta continua aberta se quiser voltar

Entre em minha casa

 
Que se apaguem as luzes

Que se sentem os ouvintes

Os de sede de verdade

Que levantem as vozes dos fieis

Eu trago minha esposa

E meu filho em seu ventre

Tu trazes amor

E eu te digo entre

Entre em minha casa

Este é meu templo

Onde o menino ganha asa

Onde a menina brinca com o vento

Minha árvore aquele que você vê

Dessa pequena janela

Plantada a direita

Da rosa sofrida

Meu fruto

É esse que você vê

Minha alma transparente

Meu amor latente

Que te ofereço

Sem nada cobrar

Meu fruto é este ombro

Que te dou para te apoiar

Este sorriso para te alegrar

Não chore agora

Primeiro escute

Chegou em boa hora

Se sente

A comida ainda chega

Ainda esta quente

Te abraço irmão

Abraçando e dividindo

Com você esse seu sofrimento

Me prostro de joelhos ao ancião

Você que chega pelo tempo

Batendo em minha porta

Procurando curar esse sofrimento

Suba as escadas e se recosta em meu patamar

Preparei esse sentimento

Uma paixão

Que se você regar

Se tornara um simples amar

Sacie sua sede

Tenho essa água da vida

Que de sede não deixa sua vida perdida

Pode chorar

Pode, ate sorrir

Pode, ate reclamar

Mas se lembre a sempre algo bom

Algo que se deve amar

Mandei preparar seu quarto

Mesmo sem saber de sua chegada

Mandei cravejar seu nome em sua porta

Mesmo sem saber seu nome

Que nome cravejei?

Cravejei. Seu nome!

Mas você nem sabe meu nome?

Sei, sim! seu nome é AMIGO.
 
Entre em minha casa

São vinhos de verão

 
Me deixa dizer
Isso são amoras
São sonhos de verão
São ideias
Quando namoras?
São vinhos de verão
Que eu carrego em tua boca
Cerejas que te entrego
No beijo da primavera
Quem será?
Quem me bate a porta
Será voce? Pelo bater de toque levemente
Meus olhos te escutam
As palavras que você não consegue falar
Sim serei eterno
E você também
Pois sou poeta
Tenho o dom
Mas não a razão
E meu vinho de verão
E de esporas de prata
Pois sou cowboy de verão
Sem chapéu no sol que me queima
Eu tenho o rebanho
E você me tem a mim
Eu sou o burro do estábulo
Você a lavadeira
Eu beijo
Você abraça
E agora?
Que me diz
Chove sim
E eu sem roupa te sigo na praça
Na chuva molhada
Em que você dança
E eu?
Eu apenas te olho!!!
 
São vinhos de verão

Eu estou aqui

 
Entro por sua porta

Mesmo sem ter o convite

Subo suas escadas

Tento lhe falar

Mas você nem me ouve

Não me responde a meus apelos

Ferida pela paixão

Você se joga ao vento

Voando em asas que você própria criou

Eu sussurro

Eu grito seu nome

E você me vira as costas

Eu choro, eu imploro

Mas você já nem escuta o som

Aquele som que você tinha no coração

Eu colho das flores

Aquelas que você cuidou

E te entrego minha plantação

Enraizada na próxima vindima

Nas uvas do amor

Me transformo em abelha

E sugo sua flor

E fica assim amor feito mel

Em seu doce beijo meu doce paladar

Será que agora

Você pode

Você tem

Tempo para me escutar?

Eu estou aqui
 
Eu estou aqui

Incandescente, eu me apresento

 
Foram entregues ao desapego
Segredos que não querem guardar
E pela sombra eu trejeito vontades
Parapeitos entre o vento que não podem resguardar

Incandescente, eu me apresento
Me preceito entre o segundo
Que se segue onde entro
Sem vontade qual vagabundo
Eu desnudo entre o pecado
E sombreio o testemunho
E sem saber o que faço
Me deleito no abraço
De um novo ser
Criando uma forma
Única de viver

Guardo o que não quero guardar
Soltando tudo que não quero soltar
Em tamanha imperfeição
Meus olhos não ousam chorar

E fica mais uma
Uma mais
Lágrima por derramar
No poço que me acolhe bem fundo
No desejo de não me libertar
Eu te minto
Eu escuto sem escutar
Eu digo que não estou
Quando na verdade
Estou amar

Esse teu lugar
Que me transforma em nada
Que me deixa vazio
De tanto cheio
E sem saber explicar
Me sinto a viver

A nascer um dia
Enquanto não nasço
De novo para o amor
Enquanto não morro para a dor
E fica mais uma
Uma mais
Lágrima por derramar
No poço que me acolhe bem fundo
No desejo de não me libertar
 
Incandescente, eu me apresento

nunca adeus direi

 
Hoje é dia

Que invade meu peito

De novo uma suave alegria

Que na partilha aceito

E nesse nascer

Onde o sol quer de mim saber

Ele me envia aquele raio

Para a minha alma poder aquecer

E nesse conforto

Me deito na rua

Pode estar suja

Mas nela me sinto vivo

Nem sei mais que sou

Ou serei apenas isso

Anjo caído queria eu

Mas nem tenho como saber

Nesse parapeito

Onde me debruço

E escuto o mundo

Um pequeno soluço

Um passo minúsculo

E radiando chega a noite

Como homem vazio

E com ele

A sombra da lua

Qual mulher nua

Para me arrepender

E escuto com anseio

Esse silêncio da vida

Não contorno mais

Essa rua sem saída

E não conheço a despedida

Que palavra e essa do adeus?

Falta de coragem

Pé no acelerador

Que pisou a embraiagem

Que palavra é essa do adeus?

Tão fria

Tão vazia

Tão esquadria

Tocando corpos meus

Tenho uma mascara em minha face

Entre ser um ser ou me querer de arraste

Não o quero mas também não se afaste

Ter um amigo e sempre o melhor contraste

E que minha palavra ouviu?

E que a mão me deu

E quem minha dor sentiu

Tentando entender meu eu

Não me entrego a facilidade da saída

Na palavra despedida

O amor e de Deus

E como pode falar adeus?

Pode ser sentida

Rasgada

Pisada

Humilhada

Mas será sempre querida

Procuro sempre procurar

Mais tarde me lembrar

E nesse momento brincar

Sorrir se for preciso para me enganar

Se tiver que chorar

Chorarei

Me prantearei mas nunca adeus direi
 
nunca adeus direi

eu apenas deslumbro meu cigarro

 
Eu apenas me esviscero

E vislumbro

Acendo apenas

Mais um cigarro

E eu fumo descontraído

Junto a um poste qualquer

Que me ilumina a noite

Ouvindo os berros de uma criança

Que questiona a dor

Eu apenas fumo meu cigarro

Entregue a rua

A nébula que a noite

Ao céu trouxe

Ouvindo os berros

De mais uma mulher agredida

E eu apenas fumo meu cigarro

Mesmo ao grito do socorro

Que me importa

Tenho mais cigarros para acender

Em frente uma casa sem porta

De janela derrubado

O velho roga por não ter telhado

A velha por não ter o filho assalariado

Mas eu apenas deslumbro meu cigarro

Esviscero

Desgarrado

Eu subo ao telhado

E sem ser mal educado

Apenas pergunto

Queres um cigarro?

Porque aqui em baixo

Esta tudo abrigado
 
eu apenas deslumbro meu cigarro

café

 
você queria só uma noite
só uma loucura
uma aventura
de sexo
depois acordaria dizendo que não presto!!!
me desculpa mas de manha café por café tomo o meu e não seu!!
 
café

memória

 
Na verdade essa voz que oiço
Do longe que não vem
O silencio que me acerca
Em muralhas pelo medo
Eu me espelho ao mundo
De peito aberto
Em cada vez que pensei que seria feliz e não fui
Em cada plano que planeei e fracassou
Em cada caminho que extingui
Na verdade deixei de procurar
Para me deixar ser encontrado
Deixei essa voz falar
Deixei de ficar calado
Resto eu no silêncio que a recordação me traz
Recolhendo as cinzas do passado
Entre as nuvens carregadas de intempéries
Quando me torno esquecimento
Mesmo lembrado
Onde tu permaneces sem mim
Numa morada incerta
Um sinal de memória em memória
Num mundo desgastado pelo homem
Quem reserva quem?
Para a ceia final
E a memória ainda é recente
Assim como a vida é curta
Para tanto amor
A mentira é a mesma
Na verdade em jazigo
Com serenidade
Te digo, tenho a esperança ainda viva
No sopro que em mim reside
No sangue que corre em minhas veias
Que até ao fins dos tempos te vou amar
Na esperança que em mim vive
 
 memória

loucura minha talvez

 
Minha querida,
As noites estão cada vez mais frias e nem aquele cobertor velho que tantas vezes nos aqueceu no inverno. Lembras-te do velho cobertor? Ainda o guardo religiosamente. Na verdade ele já não me aquece mais, descobri agora que não era ele mas sim você que me aquecia. Gosto de pensar que ele ainda tem teu cheiro, quando na verdade eu gosto é de imaginar essa sensação, pois seu cheiro agora é de saudade.
Sei que estas bem, e isso me deixa feliz, que encontraste no silencio das montanhas na felicidade eterna, que plantaste uma árvore de amor e dela colheste uma nova paixão.
Quanto a mim será que pergunta? Quanto a mim passo as noites remexendo o corpo coçando a cabeça relembrando cada segundo teu sem esquecer cada momento que ainda vive em mim. Acabei de pintar a tela que você tanto queria ver, pintei também os dias que não mais tivemos, para dar um ar mais fresco a casa, abri as janelas e deixei arejar. Não me condenes, ou condenas? Mas tenho que ocupar a dor, por isso deixa-me falar! Queres ouvir? Na verdade já não me lembro como é teu rosto, apenas como era, já não sei como era teu corpo mas mantenho na memória tua alma bem latente. O tempo só leva o tempo, deixando o resto tudo igual. Esta noite o nevoeiro descia dos céus qual legião escura tapando minha visibilidade para o mundo, na solidão que a muito me acompanha cada passo fazia o soalho ranger, o vento estava presente, tentando me falar mas não conseguia entender. Tentei te procurar em cada estrela, loucura minha talvez, mas nenhuma reluzia como tu nas noites quentes de verão. Eu sei de ti, mesmo sabendo que não sabes de mim, apenas te escrevo para poder continuar o sonho.
As flores que plantaste no jardim já cresceram, as chuvas tem tratado bem delas, como eu queria que visses sua beleza, o jardim esta cada vez mais a teu gosto, tratei de tudo como querias. A laranjeira cresceu, como careceu dando laranjas doces, como queria que visses isto tudo. Ainda me lembro tu no alpendre de olhar sincero comendo laranjas. O forno a lenha ainda espera teu pão fresco, eu tenho cortado a lenha, mas desculpa já me esqueci como ligar o velho forno pois isso era tarefa tua
Deixei a porta entre aberta pois mudei a fechadura, os fantasmas ainda me visitam aquele que viviam em ti.
Talvez um dia te envie esta carta. Me despeço minha querida na esperança que a vida te perdure, pois sei que ganhaste ar nas montanhas e que plantaste amor colhendo uma nova paixão.

Sempre teu,
Marujo das palavras
 
loucura minha talvez

Os gritos dos aflitos

 
Reclamas sem pudor
Sobre meu corpo despido
Nas raízes que em ti viste crescer
Reclamas do meu amor
Tão forte não querias tu que fosse

Asas de quem quis voar
Sem se entregar a dor
As passagens nuas
Por cumprir

Os gritos dos aflitos
Que caminham para alem do ser
Onde me perco sem razão
Onde me vi nascer

Recantos e súplicas
No convite da alma que te viu crescer
Ela não duvida
Que teu corpo sangra
Em vida
No amor alem de quem dor

Reclamas porque o ceu e azul
E o norte do sul
Será sempre o sul do norte
Reclamas porque a noite e muito escura
E o dia muito claro

Expoente onde eu sou pendente
Nas graças de quem me quer
Eu colho frutos sem fim
Tu recolhes beijos por dar

Eu ressurjo
Tu te escondes
Eu me incendeio
Tu te tornas cinzas

Eu apenas amo
Tu apenas dizes amar
A areia sempre morna
Para tanto deserto escaldante

As tempestades que cá ficam
São aquelas, que não deixaste partir

A muito
A muito do tempo
Em que eras apenas uma criança
Com um sonho
E eu um pequeno balão

Escutei teu ar
Teu vento
A sombra do mar
Criamos segredos
Entre nossos medos
Planos secretos para o mundo enfrentar
Tu eras o escudo
Eu a lança
Eu o amargo
Tu o doce
E nisso tudo
Na verdade que já passou
Construímos nosso nome
Na base nos claustros
De nosso amor
E sempre soubemos escalar
A vida de mão dada
E sempre o céu olhar
Agora para de reclamar
 
Os gritos dos aflitos

Em ti estou pronto

 
A vida passagem secreta
Gritante
Escorregadia em cada pedra gigante
Tropeção em cada paixão
De palavra concreta

Quem não aceita o perdão
Se o sol ainda ilumina os afogados
Entre a morte que nos separa da vida
E tu caminhas
Caminhando pela estrada
Sem morada
Onde fica esse abrigo
De porquês
De incertezas
Nos rompantes
Que circundam sua mente
E se o agora te é pouco
O que será o depois

Voando pelos teus sonhos
Em asas sem fim
Presos pela garganta
De um soluço
Que se quer soltar

Hoje talvez seja
Em si
Em mim
No mundo
Em qualquer lugar
Um bom dia para amar

Relembrar o sorriso
A alegria passada
Presa ao eterno
Onde a felicidade existiu

A vida o mistério
Em busca constante
Aflito pelo mar que acolhe
Em ondas que me adormecem
Embalando uma alma de menino
Que se solta para te amar
Em mãos singelas
De corpo humilde
Erguendo a razão
Em esperança
De um dia
Ser uma pomba e voar
De conquistar esse teu coração
Numa noite
Num luar

Rompendo roupas gastas
Em remendos por remendar
Me debruço
Em teu olhar
Contemplando
Um único
E só teu
Esse olhar

Que me faz acreditar
Que do céu sai o azul
Cobrindo a terra
Pintando o mar

E em cada pergunta
Que respiro
Soltando tudo
Sem guardar nada para recordar
Eu me preceito
Em não mais aguardar
Para te amar
 
Em ti estou pronto

Na memoria de quem guardo

 
Na memoria de quem guardo,

Que se levantem agora os ventos contra mim,

Não são lágrimas que te entrego,

Nesta hora de tristeza,

Não assumo planos nem futuros que não construi,

E entro no desgosto profundo,

Limitado a nada, sem alturas para subir,

E no limiar do que me é oculto,

Rasgo meu corpo entre sangue e ossos de po.

No silencio que me revela o grito

No amanhecer que nunca será meu

Porque ninguém é de ninguém,

E só podemos fazer parte ou não da vida de alguém,

E são nessas encostas que caiu no pilar da vida,

No meu cemitério da sorte,

Soltando gritos de guerra entre sinais de fumo,

Tiro a corrente que me prende ao mar,

E entrego a flor que plantei nos espinhos que a vida me deu,

Nunca aprendi a ganhar mas aprendi a perder,

Nunca aprendi a receber mas aprendi a dar,

E me afogo sem luz no espírito que me consome a alma,

Agarrado ao patamar do sonho,

Sentindo o que nunca senti,

E meu corpo imoral agarrado ao pecado,

Envelhece na dor desenfreada a não envelhecer na morte,

E se chegares entre passos leves sem avisar,

Se clemente com minha alma

Que arde na fogueira que queima em mim

E se me entregares ao solo para ao pó voltar,

Guarda meu nome escrito em um pedaço de papel,

Recorda meu sorriso espalhado na brisa do sol,

No tempo em que havia gloria e um esplendor, no tempo em que havia respeito e amor

Meu olhar esta gasto nas intempéries que o mundo causa,

Meu corpo esta doente pelo pecado,

Minha boca se afasta do veneno da serpente,

E já caminho nas memorias esquecidas,

Parado no tempo sem pressa para andar,

Pois não tenho para onde ir,

Grito mas ninguém me consegue escutar,

Na rouquidão que me tira a voz,

E cada palavra solta, destrói segundos de silencio brando de mares e desertos,

Crescendo entre pautas de violinos com cordas gastas,

Ofuscando minha boa vontade,

Solta meu ar que não respiro,

Dá-me um sorriso falso se assim for,

Mas não me negues a verdade,

Nem destruas a alma marcando um coração para sempre.
 
Na memoria de quem guardo

se me permitir farei os voos rasos

 
Tenho a palavra que Deus me deu
Habitada em minha alma
No dom que me concedeu
De escrever com a palma
Na mão da alma
Que me transcende
Ao mais intimo ser
Sabendo que tudo é pequeno
Em cada alma em expansão
Onde os horizontes não conhecem limites
Onde a vida quer ser vivida
Amada em cada razão
Descaída de cada sensação
Me permita fazer os voos rasos
Que as gaivotas também fazem
Por entre desertos escaldantes
Me permita superar isso com amor
Perfumar o teu peito
Onde me seguro para não fundear
Me permita a palavra
Criar um novo leito
A palavra pode ser abordada
Mas nunca retardada
Pode ser encontrada
Mas estar retirada
Onde chega a dor
E o choro
Das lágrimas de um passado
Por viver
Eu reconheço então
Se é sonho, que seja para ficar
Sabendo que tudo é pequeno
Em cada alma em expansão
Onde os horizontes não conhecem limites
Eu vou-te conquistar
Na mais bela e nobre vitoria
Não o vou fazer com glória
Mas com humildade
De quem de verdade quer amar
Vou-me transportar a ti
Em cada carinho
De momento em momento
Respondendo ao toque
Perfumando teus passos
Amenizando tuas dores
Vivendo a teu lado novos paladares
Novos sabores
Agarrando teu corpo a cada dissabor
E eu serei teu e tu serás minha
E eu serei tu e tu serás eu
E seremos o vento
Que caminha descalço sobre o mar
E nasceremos em cada luar
Onde tu me quiseres encontrar
Para de novo me amar
E se me permitir farei os voos rasos
Que as gaivotas também fazem
Por entre desertos escaldantes
Se me permitir superarei isso com amor
 
se me permitir farei os voos rasos