Hoje morria sem medo!
Acredito ter já gastado toda a minha sorte.
Fi-lo em tempos e não soube colher os frutos.
Quem me dera ter guardado só um pouco
Para que a vida não me fosse, agora, tão pesada.
Dispendi, guloso, toda a confiança
Num curto espaço.
Eu, que era senhor da verdade
E inimigo da mudança…
Desbaratei, como um rei, tanta fartura
E agora não tenho nada!
E sei que ela não volta
Para quem não esteve à altura.
Disfrutei, qual intocável, dos melhores momentos,
Mas amei, como uma besta egocêntrica.
Desprezei, como quem não se julga besta.
E a triste conclusão é esta:
Actualmente, só foco o vazio e penso
Como a vida mudou.
E tento convencer-me que pensar nela chega
E que encerra um potencial imenso.
Segundos depois, descontraio, choro
E vejo a esperança desprezar-me.
Rezo um “Pai Nosso” egoísta
E despeço-me em mente dos que adoro.
Perante vós, começo a perder também a auto estima.
E o mais perdido, só me restam palavras,
Tristes, banais e, bem sei, infrutíferas.
Algumas, que já nem se dão à rima.
Por tudo isso, julgo que hoje morria sem medo!
Partia, lembrando a velha felicidade
Crendo num outro mundo com sorte renovada
E ainda dono de alguma dignidade.
Só o Essencial
Devemos evitar desgastar-nos
Com o que não é essencial.
Tudo o que lhe escapa
Causa irreparáveis danos!
Não queiram apanhar-se a pensar
Que viveram de banalidades,
De momentos que a idade
Fará olvidar…
Se “o essencial é invisível aos olhos”
Sejam cegos para o mundo!
Escolham as metas minuciosamente
E desprezem o instinto que vos mente.
O efémero partirá um dia,
Mas se ficar por muito tempo
Não restará alento
Para tomar uma outra via.
Só vale a pena o que não causa sofrimento!
Os outros animais são felizes. Pelo menos,
Não há registo que consultem psicólogos
Ou se dêem a estes monólogos.
Isto porque, vivem para o que interessa
Não pensam em pormenores e sequer
Pensam no essencial, porque não precisam.
Porque colhem do mundo, o que ele lhes der.
Lembras-te?
Lembras-te da magia
De uma manhã em que o frio
Gelava o nascer do dia?
Um silêncio encheu de brio
O momento em que te via.
Eu lembro-me!
Lembras-te da fixação
Do olhar naquela altura?
Do bater do coração
Inundado da ternura
De um cumprir da oração?
Eu lembro-me!
Lembras-te do sorriso
Trocado infinitamente?
O que surge por aviso
De uma alma que não mente
Nem mesmo quando preciso…
Eu lembro-me!
Lembras-te daquele beijo
Cansado de tanta espera
Cumprido por ser desejo,
Doce, numa mera
Paragem que revejo?
Eu lembro-me!
Lembras-te da mão dada
Pela primeira vez, suavemente?
Eu dos dedos por espada
Nomeei-te eternamente
Senhora da minha armada!
Eu lembro-me!
Lembras-te de mim, por acaso,
Uma vez ou outra, eventualmente?
Não importa com atraso,
Mas que fosse, de repente,
Na vida mais do que um caso.
Eu lembro-me de ti… e lembrar-me-ei pelo resto da minha vida!
Despertador
Nos últimos dois anos, o meu despertador
Toca, invariavelmente, às seis.
Antes disso, queixava-me da falta de espaço
Numa cama demasiado pequena.
Não mais o faço
Porque, agora, tudo na minha vida
Parece enorme.
Acordo cedo, se as noites estão
Cada vez mais longas…
E quero que terminem sem delongas.
Percebi tarde demais que, só podemos
Dar-nos ao luxo de permanecer na cama,
Quando já temos o que pretendemos.
Se o deixamos fugir, a incerteza do futuro
E a lembrança do passado
São um fardo excessivamente pesado
Para transportar no escuro.
Voltei a dormir com a luz acesa…
Porque temo os fantasmas
Da minha dureza.
Ainda que continue infeliz,
Preciso de um perdão sério e sentido,
Caso contrário, a inquietude
Com que tenho dormido
Perseguir-me-á, amiúde.
Ah… Se eu tivesse despertado para a vida
Antes do anoitecer,
Quando tudo era claro,
O Mundo perfeito e diminuto
O medo de adormecer…
O Outro Fim
Deveríamos poder escolher uma fase das nossas vidas
E apagá-la do livro da história.
Não tanto pelas que surgem de forma aleatória,
Mas por àquelas aos erros devidas.
Seria como que uma segunda oportunidade,
Uma margem para quem ousa ser humano.
Quem nunca teve um engano?
Quem nunca falhou, na verdade?
Ninguém! O certo é que, por vezes,
Aqueles se devem à agonia…
E que bom seria regredir uns meses
Para decidir com mestria.
As “pequenas” maldades que cometi,
Quase sempre sem noção da gravidade,
Hão-de atormentar-me, porque perdi,
Com elas, toda a vontade.
Actualmente, dou-me à letargia
Porque resta pouco do que profundo havia em mim.
Olho à volta e sinto que merecia
Conhecer o outro fim!
Não sei se sou poeta!?
Não sei se sou poeta, não me acho
Dotado de tamanho dom divino.
Não é lugar comum em que me encaixo.
Na arte de expressar sou pequenino,
Como é singela a letra do meu hino...
Minto, porém, se digo que não queria
Saber mais do que sei, ser como vós.
Memórias de um País cuja harmonia
Quebrou, como se quebra a "frágil" noz.
Poetas... sem vocês estamos tão sós!
Nos versos que escrevestes há magia,
Há todo um “savoir faire” já invulgar.
Sons mudos, carregados da alegria
Daqueles que não encontram jamais par...
E seja sempre o Céu vosso lugar!
Num golpe de ousadia, invoco a musa
Que inspira a minha simplicidade
E elevo-me perante quem acusa
Meus versos de inferior qualidade.
Não é menor a paixão que me invade!
Perdoa por melhor te não cantar,
Do meu coração dona até à morte.
Merecias muito além deste vulgar,
Merecias outro ser, de um outro porte...
Ah, e eu nunca mereci tamanha sorte!
Demónios
Há demónios que não deixam
Simples marcas numa alma.
Ficam, sorriem e na calma
Da noite, com fervor, nos esquartejam.
Há demónios que não sabem o que são
(Acreditam na sua angelicalidade),
Mas o certo é que connosco cresce a idade,
Só de alguns, porém, o coração.
E demónios não lhes chamo por acção,
Porque a acção na nossa vida é só metade.
O resto é... passividade
Que conduz este Planeta à escuridão!
Porém, os demónios não se fecham
Numa jaula, nem se acalma
A sua ira na deposição da palma.
Porque eles não morrem... onde quer que estejam...
Circunstâncias
O som era impar e o corpo estremecia,
Como se quisesse falar comigo e não pudesse.
Entendi um “grita”, um “cresce” e um “vive”.
Senti um corpo que em mim não se revia.
Inspirado, jurei que mudaria!
Fiz planos no momento, e tomei por garantido
O esperado resultado.
O certo é que ficarei, de novo, pelas intenções…
E bastar-me-ei na vontade e, se for caso,
Direi palavras que me façam parecer ambicioso
Aos olhos de quem não se dá ao conformismo.
Tudo, para que me não julguem no abismo.
Certo é que tenho potencial!
E digo-o com a modéstia
De quem vos revela uma angústia…
A de saber que o usa invariavelmente mal.
Ah, se eu acordasse um dia e fosse, como devia,
O corpo e a alma que me sustentam
E não a mente que me atrofia…
Ah, quão menos “Ah” eu diria!?
Força Soldado!
Força soldado!
Pega a arma.
Vive a vida
Mata a calma.
Vai em frente.
Torna crente
Quem não crê.
Sê guerreiro
Para quem vê
Perceber
Que o viver
Está primeiro!
Força soldado!
Tem coragem.
Torna o tédio
Só miragem.
Faz do amor
Estalagem
Para a passagem
Ao fulgor
Que deve ser
Viver
Num mundo
Que é rotundo
De sofrer!
Força soldado!
Sempre nobre,
Sê amigo
Do que é pobre.
Sê esperto
E descobre
Que se és bom
Ganha tom
O que fazes
Nesta vida,
Que é perdida
Se a paz
For perigo
Para o inimigo.
Força soldado!
Sê feliz
E esquece
Quem te diz
Que o não sendo
Deus o quis.
Pois serás
O que queres.
Um conselho:
Jamais esperes
Que algum ser superior
Tome cor
E te torne afortunado.
Vai por ti,
Força soldado!
Gaivotas
O som de uma gaivota quebra o silêncio
De quem reflecte, porque precisa.
Pelo fim da tarde, corre uma leve brisa
Ao seu voar.
Ela fá-lo como eu queria, com graça,
Inspirando cada árvore e planta
Com uma naturalidade que invejo,
Porque me encanta
Tudo o que passa.
Se passa tem destino!
Ainda que seja a morte
Por electrocussão
Ou outra qualquer colisão.
Triste mesmo é não ter asas
E invejar gaivotas.
Ter vontades,
Vê-las mortas,
E provar o mundo com lágrimas.