Cansada
Entre tudo o mais acresce o lugar do sossego
Onde eu sou eu e a minha alma cansada
Este lugar de despe e veste.
Despe tanto
Outro tanto agradece
E
Demasiadas vezes
Não adormece
Depõe do dia o grilhão
Meia confusa anseia o silêncio
a reclusão
Despe o colete da ingratidão
num bambolear de habituação
Descai pelos ombros a camisa da acusação
Solta capaz espirro
Alergia ao tecido que fedia
a mundo
e
à sua frustração
Liberta-se da saia que ao dia doou a cor
com todo o ardor.
Batalha ganha em grande questão
Atira-a ao chão
Com primor
Não perca os traços de rigor
Retém sem expensas
No torpor vagaroso da repetição
o fruto, a lição
com ou sem agrado da razão.
A razão que agradece
O trapo despido, o pensar convertido
Cada pedaço cerzido na nudez do vestido
Agradece a respiração
O sangue que aperta o coração
E na volta do sono,
- o que se faz rogado a seu dono,
Agradece a bondade dos que tudo dão
No pano de fundo a ironia do mar,
Diz que sim…Desenrola o não
Como se, o tonto, a quisesse embalar
E até
a moinha do corpo em desesperação
é
vida que remexe
é
motivo de prece
é
Inquietação
E lá para as tantas,
De horas esgotado o longo dia
nos braços da noite se atira
Num refugio de fadiga
Num lugar de sossego
Que já não veste nem despe
Nem agradece
Ah, pobre alma cansada
Sem saber quem é
Sonha a manhã
e
Docemente
Adormece.
A.m.o.R.o.m.e.u
Vem, vem me descobrir
Aventuras sem fim quero repartir
Deixar o silêncio dos cúmplices fruir
enrolado de nós, histórias sem fim construir
Vem, vem me encontrar
Em mar de carícias quero me afogar
Comungar a alma par a par
doces anelos emanar… respirar
Vem, vem me ver
Despojar a solidão deste viver
Travar idílios da imaginação de não te ter
roubar meiguices que tenho a te oferecer
Vem, vem meu amor
Perder-te em minha paixão com ardor
consumir com sofreguidão e calor
este fado que me corrói, sem ti de dor
Vem, só vem
Vem de mansinho
Apraz meu carinho
de ter-te em meu ninho
Trapaceia a íris do destino
rasga-lhe o leito em desalinho
com atino, … num suave murmurinho
Porque não me encontras
se me quero rebelar?
Adivinho o teu olhar
Doçura que anseio beijar
De meiguice te devorar
E para sempre me perder
Em teus braços eternos,
beber o amor, desfalecer
em feliz adormecer
Vem, vem sem medo
que o mundo é pequeno
ínfimo para abranger
outro amor de tamanho igual
Embevecido o meu pode morrer
prezando o teu a sobreviver
em sonho de amor imortal!
Doce ilusão
Estou onde não estou.
Estou no suspiro do tempo
Na carícia doce da lua
No leito que a recebe todo o dia
Estou oculto no pensamento
No sonho, no devaneio
No beijo que não veio
No planger do sofrimento
Estou onde não estou
Porque estou aí…
No beijo da manhã
No anseio do espelho
No despertar das flores
Em abraços multicolores
Estou onde não estou…
No exalar ressentido
No suspiro contendido
Estou onde não estou...
Estou com a alma que me deixou
Tão-somente para te amar!
Candura na palma da mão
Bom dia Vida!
Bom dia sol que rifas o céu
esburacando o cinza do teu véu
enfeites tímidos meio luz meio breu,
Bom dia...
Bom dia alegria!
Sem que me estejas prometida
deixa-me prender-te neste dia
Fazer-te minha, dar-te guarida
Vem regar suave alma florida
Bom dia amizade!
Rocha preciosa de sinceridade
Em cultura singela de bela arte
montas sensível baluarte
agasalho do tempo, vem,
vem... eternizar-te.
Bom dia palma da mão!
extensão de vida
aquecida de alegria
do sol amiga querida
de sonho revestida
Agradece por mais um dia...
Um dia ...de Vida...
E com vida! Convida...
Descortina por mim...
A luz da noite esquecida,
que não seja por demais perdida,
sem a dor do amor
nem o carmim da paixão.
Enleia-te com fervor
derruba-me no teu leito de perdição
Seduz-me no ardor da volúpia.
Com corda de solidão, tece o desejo
e amordaça teu coração de afeição...
E agradece por mais um dia...
Agradece por mim,
palma da minha mão.
Rebeldia da esperança?
Até que idade podemos sonhar?
Um sonho de amar…que não se faz chegar
Até que tempo se permite a ilusão
De nos alcançar o coração?
Diz o testo em teoria que será por toda a vida
Por toda a vida ….
Acreditar ou não eis a questão!
E se recebemos do querer
Os dias a viver
Não será a duvida um segredo a manter?
Se resposta não me dão
Se não alimento a questão
porque brilha então,
a Esperança
vestida com pele envelhecida,
no fogo da imaginação?
Por toda a vida….
desabrida
Sem desejo ou mantida,
A esperança escondida
com vida própria,
Por toda a vida…
Ludibria com mania
O tempo em magia
Com sol com lua com
Ventos de fantasia
Em pura alucinação!
Por toda a vida…
Vórtice
Coração que choras as
lágrimas do mundo...
São consolo do teu sofrer?
Ou são penas que lavam
a angústia do teu ser?
Não te feches no olhar
Fita o medo de frente e
lava com teu penar o que
ao alcance de tuas mãos
puderes e tiveres a abraçar!
Coração morto vivo,
deixa que em teu peito ferido,
o choro trace o trilho
do que é o belo e com sentido.
Parte... parte renascido
para teu calvário conquistar
que o mundo tão sofrido
tem bastante para te sarar!
Lágrimas
Chora se teu choro for…
De calor, com paixão com ardor
Sal do tempo, voo de condor
Palpitando ensejo, cruzando
ares de inquietação,
ou tão simplesmente
planar em ondas de emoção.
Chora se teu choro for..
De sonho de sentimento explorado
Versejado ou até encarcerado
Em baú secreto de inspiração
Chora…
Chora de dor o amor por antecipação
Em bilros empoeirados corroídos
Passivos que devem...
Mas temem de ser esquecidos
Porque me importar
Que sonhes
Que chores
Que te encontres
Em atalhos de interrogação?
Ilude-me o interior do teu singular
O beijo perdido da imaginação
Dado na face do tempo que
Morre… em solidão
Ludibriado pela ilusão em fúria
Em templo de contemplação
NÃO…Não chores!
Se teu choro for o tempo…
O tempo a passar por vielas
De quem tem tempo
Tempo a matar!