Poemas, frases e mensagens de Aline Lima

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Aline Lima

Padecer

 
Ausência sua, tristeza minha.
Solidão... Realidade covarde e mesquinha, vida a esperar.
Lamento no sorrir, conformidade em meramente existir,
poesia que se perde na estranheza dos dias
que passam dolorosamente devagar.
Indiferença no sentir, padecer disfarçado na frieza do olhar.
Encanto negado, irreparável pesar.
Sorrisos apagados, jeito mais triste de se chorar, pranto calado.
A ilusão do real que o sonhar silencia,
toda a agonia no sussurro do grito sufocado.
Amargura que tudo contagia e adoece,
sina sofrida, emoção contida que a alma
eterniza e jamais esquece.
 
Padecer

Sinapse do Desencanto

 
Do bem e do mal despertaram os meus desencantos.
Na escuridão do mundo vejo fantasmas,
demônios e santos.
Desalento em descrente oração.

Saudade descabida do não ser, do que não foi,
da palavra nunca dita.
É sempre noite no meu coração.

Obscuridade do viver sem vida,
quando quem deveria ficar
deixa-se morrer em despedida,
rostos vazios na multidão.

Existência de rastros
com os olhos rendidos ao chão,
sonhando com os astros,
mediocridade por devoção.

Portas fechadas, entrada somente para raros,
beco sem saída, pensamentos fora do fluxo,
sinapse em desconexão.
Alma se desmanchando por aí perdida,
sem nada de mim, solidão...
 
Sinapse do Desencanto

Entre Céus

 
Meu amor está além da cadência do tempo,
Ergue-se além das estações dançantes,
Está na urgência de um beijo que vem no vento.
Eternidade contida em um só instante.

Caminhamos juntos sob diferentes céus,
Contemplamos as mesmas estrelas, em margens distantes.
No mistério que o coração tece em seus véus,
Revela-se por trás do gesto em sutis nuances.

Meu amor está na respiração que acompanha o verso,
Na palavra que traz pra perto,
na inspiração dos dias e noites, além do improvável,
nas cores de um mar intenso.
Além do caos da vida e do inevitável.

Meu amor está numa música perfeita,
Na voz que abraça, excita e acalenta,
Na sua fé rebelde e inabalável, no toque ausente que oferta,
Transcende o espaço, desafia o aceitável e nos liberta.
 
Entre Céus

Outras...

 
Que Deus me proteja dos dias sem amor e sem poesia,
mas que não me livre totalmente deles.
É necessário um quê de feiura à retina
e um pouco de falta de rima para permanecer acordada.
Que a ausência dos versos ou vida comum me mortifiquem.
Se o medo aumentar, que cresça também a minha força para seguir em frente,
e a minha capacidade de ver a beleza e o encanto além da frieza da rotina.
Que eu possa encontrar novos hábitos e universos, desejar novos pensamentos e emoções.
Que eu me liberte de tudo mais,
e possa escolher seguir novas regras ou,
quem sabe, pela primeira vez não seguir nenhuma.
Que eu me permita ser eu mesma,
mas também ser muitas outras.
 
Outras...

Convite à Loucura

 
Mergulhada na frieza, poupando palavras
Me rasgo em versos
Nas folhas finas do papel.
Recolhendo fúrias,
Um universo inteiro saindo do meu peito,
Me pergunto, será que o teu infinito é maior que o meu?
Será que a tua alma é capaz de compreender e amar a minha loucura?
Na dúvida, para não deixá-la sozinha, convido-a para tomar um café, somente nós duas.
Falamos da vida, falamos do tempo e de você,
A variável não prevista,
Como um sonho que me acorda no meio da noite
Trazendo a resposta para minha procura.
Desperto e escrevo o que não acontece, engano a vida.
Então imagino, só isso mesmo, apenas imagino.
 
Convite à Loucura

O Amor E A Sua Solidão.

 
No amor não há misericórdia
descanso, ou solução.
Não há derrota ou vitória,
pecado, e nem mesmo salvação.
Não há certezas, nem respostas,
O amor nada e tudo comporta
não cabe em si, transborda,
no imenso vazio do que não se define,
é preciso em sua inexatidão.
O amor não tem começo, nem fim,
mas imensidão.
Nele inexiste o bom ou o ruim,
culpados ou inocentes, castigo ou absolvição.
No amor há amor somente, e sua solidão.
 
O Amor E A Sua Solidão.

Topografia do desvio

 
Queimei os mapas,
    mas decorei os rios.
Sei onde a pedra afunda
    sem deixar redemoinho.
Deixei as cartas na mesa,
    como quem esquece a bússola
        do verso, guardiã do caminho.

Há uma arte que habita
    naquilo que não nos deram.
Um jeito de dizer “sim”
    e seguir com a alma acesa.
No instante que escorre,
    quando o destino hesita,
Sou o lugar onde o mundo
    se desvia de si mesmo,
        e encontra o corpo que me sonha
            com olhos de dentro.

Ninguém me prevê,
    às vezes, nem eu.
Ainda assim,
    não meço dores,
    não peço afetos.
Invento o verbo
        do meu rastro.

No silêncio que conheço
    das margens,
Crio universos.
    Não passo,
        Permaneço.
 
Topografia do desvio

Ecos ( Dueto HorrorisCausa e Aline Lima)

 
Palavras uníssonas voam projetadas na sombra de cada passo nosso dado.
Batem nas costas, abanam os braços, abrem-se em forma de leque
Para aquele abraço.
Voam pelos céus onde compõem musicais pensamentos migrantes, tal andorinha que anuncia um novo ciclo, planta sementes.
E não me sinto só , apenas estou só sem me sentir.
É o começo de um corpúsculo orbital que se propaga pelo oceano, ecoa no ar.
Forma moléculas químicas depositadas em tubos de ensaio que o tempo reagente fez brotar sucos cristalinos na pele da cumplicidade inexplicável.
Agora vejo-te, agora sei que existes, aqui e agora
E de tão longe estás e de tão perto ficas.
E não me sinto só, apenas estou só sem me sentir.
Desafiando limites da lógica e espaço sideral
esbarra duas almas irmãs que se reconhecem sem se saberem.
Singular e rara circunstância de um acaso predestinado,
Escrito certamente por um universo a conspirar.
Estou só, ou não mais estou,
Tento compreender esta unicidade ou então deixo que penetre a estranheza tão absoluta e real que vai além do racional ou qualquer expectativa inventada no caos do meu equilíbrio.
Pretensa paz que me cerca,
Dádiva da vida, reciprocidade na partilha,
Estou só, mas sinto-me mais completa.
 
Ecos ( Dueto HorrorisCausa e Aline Lima)

Elemental

 
Quando o sol toca o alto da montanha,
e o mundo todo acende em cores que cintilam e incendeiam,
neste instante, parece que uma faísca basta
para que o beijo entre eles aconteça.

Fecho os olhos e sinto o calor que derrete a neve,
num rio de água pura, que corre seu curso sem que nada o impeça.

Então, natural como tudo o que nasceu para ser,
o fogo do meu sangue responde à força tranquila da terra,
pois assim como ele queima e ela sustenta,
ninguém é só chama ou só pedra.

Intensidades que se reconhecem, elementos que se entrelaçam,
em céus que se misturam e se anseiam.
Equilíbrio que traz sentido e me completa,
o abraço que me faz inteira.

(Coisa de Áries com ascendente em Capricórnio- Fogo e Terra.)
 
Elemental

Escolha

 
Não é leve o que flutua,
mas o que decide pousar.

As mãos que bordam sem nó
sabem da lâmina,
da possibilidade do corte
mas seguem.
Entre o fio e o toque,
um quase.

Toda suavidade
já desenhou o risco
e se calou.
A delicadeza é traço do forte.

A flor que abre no abismo
não ignora o chão que falta.
Ela escolhe.
 
Escolha

Fatos e Obviedades

 
Doçura não é falta de firmeza, sensibilidade não é fraqueza,
sinceridade não precisa ser sinônimo de grosseria e ser bom, não é o mesmo que ser tolo.
Silêncio não significa concordância. Compreensão está longe de ser subserviência.
Intuição, graças a Deus não é loucura !
E paixão, por ser intensidade , não deve ser confundida com falta ou qualquer tipo carência.
O amor inevitavelmente rima com dor,
traz em si contentamento, encanto
e também uma certa tristeza, mas por ser profundidade
e generosidade em essência, nunca,
mas nunca mesmo, nasce da vaidade, do orgulho e certamente não combina com superficialidade
ou falta de inteligência.
Estar perto nem sempre é estar junto, há saudades que são bem mais que uma ausência.
Viver passa depressa demais ... O tempo como um vendaval tudo traz, tudo leva, tudo desfaz.
Por sermos tão breves , sejamos leves.
O melhor que podemos fazer é nos deixarmos em paz.
É... A vida de vez em quando pode até ser doce,
mas assim como uma boa *rapadura, definitivamente, não é mole não.

*rapadura- doce de origem açoriana ou canária , produzido a partir do caldo de cana-de-açúcar de massa bem sólida, muito conhecido por ser uma sobremesa típica da região Nordeste do Brasil.
 
Fatos e Obviedades

Vento

 
Gosto do vento porque ele não tem forma,
porque ele pode ir e vir de qualquer lugar,
sem que ninguém possa vê-lo,
e ainda sim, ter a certeza de que ele está lá.
Aprecio o sentimento de liberdade
que somente o vento é capaz de me dar,
a sua capacidade de constantemente mudar.
Admiro que ninguém possa tê-lo, e que a todos ele possa tocar.
Vento que transforma, que traz e que leva , que me faz voar .
Me arrebata num vendaval, ou me acaricia numa suave brisa.
Seja sopro ou ventania...
Vento que me hipnotiza... Que me faz sonhar.
Na sua lógica natural e intangível, prova que nem tudo o que é real,
é necessariamente visível.
Gosto do vento porque ele me faz crer no impossível.
Que existe mais do que os meus olhos podem ver.
Gosto do vento, porque ele me lembra você.

Reescrito, pois a direção do vento mudou.
 
Vento

Umbigo

 
Há um tambor que não se cala
mesmo quando o ventre não verteu.
De lá vêm os passos,
desnorteados, como se dançassem
em volta de um berço que nunca houve, uma fogueira que não ardeu.

Às vezes acordo jovem,
com o corpo suado de um parto sem filho.
Às vezes velha,
com os seios cheios de uma fome que não sei saciar.

Fui todas,
a que rompe, a que afoga, a que gira,
a que ouve a música dentro da terra
e a mastiga, sem engolir.

Não me dei, herdei,
pari e sangrei.

E tu, que assistes de fora,
nunca saberás se danço para chamar ou para cuspir o mundo.
 
Umbigo

Vaga-lumes

 
Vaga-lumes se acendem a parecer magia,
iluminando a escuridão nos campos.
Luzes voando em sincronia, dançam os pirilampos.
Estrelas com asas que brilham no chão.
Vaga-lume, vaga lindo, vaga livre,
despertando o ciúme dos astros na imensidão.
Eternas velas, pequenas faíscas do céu esquecidas
que sem queimar cabem na palma da mão.
Vaga-lumes, riscando a noite... Vagam muito e vagam tão pouco,
lâmpadas acesas no ar que num piscar de olhos se resumem e
se apagam diante de todos.
 
Vaga-lumes

Filhos da Noite

 
Filhos da noite, almas perdidas,
dançando e rodopiando sob o luar.
Andarilhos insones de muitas vidas
que em sonhos estranhos costumam vagar.

De épocas distantes, em ruas reconhecidamente percorridas,
repetindo os mesmos passos que levam sempre ao mesmo lugar.
Sem rumo, voltando ao início, labirinto sem saída.
Acendam a chama do coração e no escuro caminhem sem tropeçar.

Filhos da noite esqueçam a proteção humana prometida,
atendam ao chamado da centelha divina no seu sangue a queimar.
Testemunhem o sagrado e ao mundano, sabedoria convertida num único pulsar.

Filhos da noite ouçam a música profana que rompe a realidade entorpecida,
e sem temor venham a sua glória reivindicar.
Liberdade, utopia de outrora não consentida...
Expiem os pecados do mundo nesta triste madrugada com seu inebriante valsar.
 
Filhos da Noite

Instruções para não chegar

 
Não há como fugir do vazio
sem primeiro tocá-lo com as próprias mãos.
Quando a matéria se quebra e se desfaz,
como se só existíssemos nas pequenas frestas
entre a intenção e o gesto.
Onde o corpo desaprende a entrega
e navega sem guia ou paz.
Sem margem, resta apenas um ponto onde o som se afoga.
A mão pousada, ou quase.
O instante em que o passo recua,
sem saber se era avanço, e se perde.
De resto, o tempo faz o que sempre fez:
desenha ausências.
Como se ver fosse sempre tarde
e o sol, um equívoco que repetimos.
Ainda assim, às vezes, a água alcança e toca.
 
Instruções para não chegar

A Flor de Ícaro

 
De vez em quando esqueço as sombras que me ocupam
e me recuso a aceitar o fim.
Se no silêncio houver a palavra,
sinto tudo à flor do sol,
e, para ele, mesmo sem asas, quero voar,
talvez derreter-me e cair, cair...
E, na queda, saber que
a morte não está no ontem, nem no futuro; está no agora,
nada mata mais do que a vida mal vivida, meu amor.
Rego jardins de pedra, não espero flores,
quero quebrar regras, ser a espada,
desafiar os deuses e o mar,
e somente então... florescer.
 
A Flor de Ícaro

Taciturno

 
Na quietude profunda, lá está ele, taciturno.
Com os seus olhos de gelo e semblante noturno.
Existência feita de luz e de sombras onde se esconde,
Nos cantos ocultos, sua dor e alegria ao coração respondem.

Seus pensamentos, estrelas na névoa, reluzem.
Sua pele feita da noite, na escuridão tem acesso.
Refletindo segredos, onde as trevas em açoite seduzem.
No silêncio, ele suporta sozinho o peso.

Caminha pela vida com passos sérios e lentos,
Um observador solitário, nos seus olhos, tormentos.
Tão distante e quieto, atrai e afasta com seu encanto singular.
Superfície calma, tempestade na alma a brilhar.

No palco da existência, ator enigmático,
Desperta em mim o destino sonhado.
Talvez um dia, a prudência se desfaça,
E a paixão que há em ti seja enfim seu destino e nossa casa.
 
Taciturno

Por Trás do Vento

 
Sobre a vitória do silêncio,
o sortilégio no som do vento
e a coragem das palavras que nunca acabam.
Dor de quem se doa sem domínio ou verbo,
letras de um corpo em fragmentos,
vazio de abalos, sem febres,
sem preces e de alma sendo incêndio.
Compondo o pranto feito um pássaro,
pairando no limite entre o delírio e o razoável.
E no seu canto, faz-se livre ao que arde,
ao que sofre e ao que vive.
 
Por Trás do Vento

O Nada

 
Com asas envernizadas de piche, ambivalente,
voa o tempo, denso e escorregadio que não me pertence.
Senhor de tudo e de todos,
da eternidade do universo e dos instantes que somos.
Ceifador e maestro de uma sinfonia
de batimentos pesados e frios,
em marcha constante e fúnebre.
Marcando o sofrimento do viver
insuficiente e vadio
e o rito sombrio do morrer que precede a própria morte.
Ontem mesmo, no absurdo da existência,
senti que morri...
Nas diferentes dimensões da morte,
na erosão das horas, nos dias que desaparecem,
nem a covardia, nem a coragem nos salvam.
Morremos todos, observando a vida que passa.
 
O Nada