Os "lados" do poeta
Às vezes eu gosto de mostrar
o lado “nulo” do poeta;
o lado perdido,
o lado “exercício”...
Gosto de dizer
que poesia é um vicio:
quando não “tomo uma”,
o meu dia está perdido.
Gosto de mostrar
o quanto eu fico envolvido...
Para mim, sem envolvimento
não dá.
Gosto de sonhar...
De escrever à revelia...
Na verdade,
eu VIVO e morro,
na poesia.
A.J. Cardiais
14.05.2011
imagem: google
Sob o ritmo dos fonemas
Para entender-me
é preciso estar livre,
é preciso estar solto...
Não ser vinculado a nada.
Escrevo como uma ovelha
desgarrada,
que sai em disparada
à procura de uma rima louca
para meu aconchego...
Escrevo como um louco,
que não tem assunto,
mas "assunta" tudo
e não guarda segredo.
Danço sob o ritmo dos fonemas.
Faço um gingado com as palavras,
e traço meus poemas.
A.J. Cardiais
18.12.2010
Uma pessoa educada
As pessoas abusam da palavra EDUCAÇÃO, sem terem a “educação” de reparar que ela significa muito mais do que aparenta. Aí misturam educação com grau de instrução e com cultura. Uma pessoa pode ter pós graduação em um monte de coisas, mas não ter nenhuma em educação. Uma pessoa pode ser culta, pode saber sobre tudo, mas não saber nada sobre educação. E, ao contrário, pode ser analfabeta “de pai e mãe”, mas ser super educada.
Para mim, EDUCAÇÃO não é só conhecer as regras de bom comportamento; não é só saber usar os códigos de acesso: bom dia, boa tarde, boa noite, dá licença, por favor, obrigado etc. Uma pessoa EDUCADA, é muito mais do que isso. Tem gente que chega em um lugar, e dá um “bom dia” tão frio, que é como se tivesse chegado um “iceberg”. Tem gente que diz um “por favor” tão autoritário, que a pessoa se sente na obrigação de atender. Tem gente que diz um “obrigado” tão obrigado, que a pessoa não sabe se ajudou ou atrapalhou...
Uma pessoa educada “por natureza” ou “de alma”, diz bom dia com um sorriso, um muito obrigado com um olhar, pede licença pondo a mão no ombro da pessoa e esta, instintivamente, cede a passagem, porque sente a mão educada que a tocou ... Às vezes, sem pronunciar uma palavra. Uma pessoa educada respeita o próximo, até quando o próximo é “mal educado”. Ela nunca procura “descer”, para se igualar.
EDUCAÇÃO quer dizer: respeitar a tudo e a todos. Respeitar os códigos de trânsito, as filas, as diversas culturas, a natureza, as pessoas, os credos religiosos, as etnias... enfim, uma pessoa educada sabe entrar e sair de qualquer lugar, sem “fazer feio”. Sabe agradar sem ser falsa e sabe se impor sem oprimir nem humilhar ninguém. Uma pessoa educada tem a sensibilidade de saber o que o momento exige.
A.J. Cardiais
13.01.2012
Contra indicação ou vide bula
A doença humana é o progresso...
Progressivamente inventamos
novas destruições.
Por trás das melhoras,
vem as contra indicações
e precisamos encontrar
novas soluções...
Deus, lá de cima,
se entristece...
Dotou-nos de inteligência,
para quê?
A.J. Cardiais
Imagem: Google
O amador
Quem está aprendendo alguma coisa, deveria ser chamado de aprendiz ou iniciante, não de amador. Amador é quem faz algo por amor. Às vezes a diferença entre amador e profissional é só porque um faz por amor e o outro faz por dinheiro. Então o amador deveria ser mais valorizado, porque tem muitos “profissionais” que trabalham sem amor nenhum à profissão. Infelizmente o que faz alguém ser chamado de “profissional”, é só porque sobrevive daquilo.
Quantos escritores podem ser considerados profissionais? Poucos, não é? Uma vez eu li um escritor dizendo que o único escritor no Brasil, que vivia só de livros, era Jorge Amado. Isso naquela época, porque agora tem o Paulo Coelho e deve ter mais meia dúzia.
O que faz um escritor ser considerado profissional? É só publicar um livro? É publicar um livro, e fazer parte da Academia Brasileira de Letras?
No tempo de Drummond, Bandeira etc, quando a poesia era mais “consumida”, todos os poetas sobreviviam como cronistas dos jornais ou trabalhando com outras coisas. Nunca li algo dizendo que eles sobrevivessem de literatura. Será que eles eram considerados amadores, na época?
Vender livros hoje em dia está muito difícil... Além do povo não ser muito chegado à leitura, os livros estão muito caros e o povo não tem dinheiro. Como viver de livros? Conheço alguns poetas que se esforçam para publicar um livro, e depois saem vendendo de bar em bar... Tem muita gente que compra, só por comprar. Quando chega em casa joga o livro em um canto, ou fica usando para guardar contas.
Uma vez eu encontrei uma amiga, que eu sabia não ter a menor simpatia com poesia, com o livro de um poeta (conhecido meu) nas mãos. Aí eu falei: eu conheço esse poeta, nós já participamos de um grupo. Onde você comprou? Ela respondeu: eu estava em um bar com o meu namorado, aí ele chegou, perguntou o nosso nome, escreveu no livro e... dez reais. Eu ia até perguntar se ele te conhecia mas, desisti. Então eu falei: poxa menina, deveria ter perguntado. Eu queria saber o que ele iria dizer... Depois você me empresta esse livro? Ela prontamente tirou dois recibos de dentro do livro, perguntou-me se eu queria uma revistinha que estava em minha mão, eu entreguei-lhe a revistinha, ela botou os recibos dentro e entregou-me o livro dizendo: tome, fique.
Aí eu pergunto: quantas pessoas que ele vendeu o livro, fez essa mesma coisa ou pior? Esse livro pelo menos veio parar nas minhas mãos e está guardado. Mas quantos já se acabaram sem ninguém dar uma “olhadinha”? E o poeta chega em casa, achando que as tantas pessoas que “compraram” o seu livro, estão conhecendo o seu trabalho...
Será que vale a pena fazer isso?
A.J. Cardiais
07.01.2012
A simplicidade como opção
Infelizmente a Sociedade
só aplaude
quem tem dinheiro...
Quem opta por uma vida simples,
é considerado um covarde.
Eu optei por uma vida simples,
e só aposto na felicidade.
Este sim é o "grande jogo":
é o jogo da vida.
O Mestre Jesus nos ensinou
o valor da simplicidade.
Mas o mundo não aprovou.
O mundo só usa os ensinamentos de Jesus,
para dominar, para manipular
e fazer dos "pobres coitados"
uns alienados.
A.J. Cardiais
17.08.2018
Um novo alento
O amor me ilumina...
Então eu grito:
haja rima!
E a minha sina
é vagar e vulgar.
Caminho lento
e o vento
me faz lembrar
um amor...
Sinto que sou vulgar
quando penso
que o amor é como o vento:
passa, cessa, mas não pode acabar....
Um novo sopro,
um novo vento,
sempre tem que existir
para amenizar o calor.
E um novo amor,
um novo alento,
para esconjurar a dor.
A.J. Cardiais
Imagem: Google
Tudo longe
O título quase me sufoca, de solidão.
Entre estradas de barro,
poeira, mato e imaginação,
lá vou eu...
Como companhia,
só uns grilos cantando
ao sol do meio dia.
Alguém escuta esses grilos?
Ou é o som do sol
ardendo nas plantas?
Por que interrogo,
se não há ninguém
ao meu redor?
De repente,
os grilos silenciaram,
eu fiquei surdo,
ou a realidade se fez presente.
Olho em volta
procurando uma poesia
que me mostre
o caminho das palavras...
Um arbusto me acena
e, usando o código surdo/mudo,
me manda seguir
o cheiro da intuição.
E lá vou eu...
A.J. Cardiais
05.11.2019
Experimentações
Não... Não quero inventar...
Colocar o poema
de pernas pro ar,
não vai adiantar...
Assim não consigo passar
minha emoção...
O poema não é uma construção... (ou é?)
O poema é um sentimento. (ou não?)
O mais certo é: cada poeta
que faça o poema
como quiser...
Eu sigo minha linha,
você segue a sua...
E a poesia continua.
A.J. Cardiais
06.09.2015
O último dos moicanos
Talvez eu seja
o último dos moicanos,
tentando acabar
com este capitalismo selvagem.
Sei que sou uma gota,
lutando contra oceanos.
Mas minha voz
não quer calar.
Sei que eles podem
me esmagar,
sei que eles podem
ma ignorar...
Sei que eles podem tudo.
Eles já contaminaram a VIDA
com seus "pregões" de felicidade.
Eles já compraram as Faculdades.
Agora eles estão formando
seres capitalistas.
A.J. Cardiais