Poemas, frases e mensagens de Nazareth

Seleção dos poemas, frases e mensagens mais populares de Nazareth

O MENINO E O POETA

 
Um dia viu um menino um cristal
e pensou ter entre as mãos
uma estrela

Um dia viu o poeta uma estrela
e pensou ter entre as mãos
um cristal

Um dia viu o menino o poeta
e tinha entre as mãos
uma estrela

Então o poeta se viu menino
dentro de um cristal.
 
O MENINO E O POETA

ANTES ARTE DO QUE TARDE

 
Sobre a face
superfície
o esboço rápido
da silhueta que transluze...

Meio registro efêmero
de um tempo que transgride a virtude
meio lapso
colapso
que faz da memória
mídia história
em cada passo
entre aço
estilhaço

no brusco corte afiado
que lança no espaço
a sombra de cada imagem
miragem
e perda de integridade

Sobre a face
superfície
apenas o traço
o mito semântico
recolhido em cada parte
o nó no fio que tece
o verbo tecido
texturizado

1.11.99
 
ANTES ARTE DO QUE TARDE

Acalanto

 
Me nina
Me mima
Menina
 
Acalanto

POEMA ECOLÓGICO

 
À Geração da Palavra Proibida

Fartem-se, senhores,
neste banquete de misérias
aproveitem até as migalhas;
nós não precisamos de nada disso
temos de sobra idéias.

Aproveitem, senhores,
levem tudo e não deixem restos,
podem arruinar nossos sonhos,
nós ainda temos sonhos,
e os senhores?

Bolsos cheios de cédulas vazias
e cara de hipocrisia,
nós estamos livres para voar,
e os senhores?
Têm os pés acorrentados aos cofres.

Nossa bagagem é leve
carregamos dentro do cérebro
a dos senhores pesa toneladas e toneladas
de terra, objetos e detritos;
os senhores carregam a destruição
do planeta nas costas,

e nós somos muitos caminhando
na ponta dos pés sobre o planeta;
tomem conta, senhores, dos seus pacotes,
eles controlam tudo:a informação e a corrupção;
nós não fazemos acordos
somos de algum modo contra tudo isso.

Por isto, senhores,
fartem-se roendo até aos ossos,
esgotem a última gota do nosso suor,
depois calem-se, mas calem-se para sempre,
nós temos muito que fazer,
temos coragem.

Nazareth Bizutti - 1986

1º Lugar no Concurso "Crônicas e Poesia" da Associação Sul Mineira de Imprensa - 1991
 
POEMA ECOLÓGICO

Tecendo Elos entre Nós

 
Entre mãos entrelaçadas
Olhares lançados entre nós
Tecendo palavras...
Elos alados
Tecendo o céu com o brilho das estrelas
Entre elas e elos um véu luminoso
Que resplandece e cria um mundo novo
 
Tecendo Elos entre Nós

A casa da Dona Clarinda

 
Apenas uma casa na rua
tecia a paisagem nua
no alto da ladeira
destacada em tábua e palha
chão de terra batida
fogão a lenha, ferro em brasa
abrigava a vida da lavadeira

Entre a vinda e ida das trouxas
Dona Clarinda clara roupa quarava
No meio das flores do quintal
co'água do poço enxaguava
torcia e dependurava
no varal ao vento desfraldado
em cantigas e cores ao sol do cerrado

A casa da Dona Clarinda falava
um cochicho pelos cantos
na porta que rangia
na lida de todo dia, nos prantos
batidos dos tamancos.

Daquela casa vazava
pelo furo do telhado
no meio da escuridão
um fino fio de luz do lampião
que no pavio de óleo ardia
e alumiava a noite quente
esparramada em nostalgia
e com o céu de estrelas se confundia

A casa despertava ao cantar do galo
a janela se abria, entrava o sol
a água quente na chaleira
logo coava no pano o café fraco e doce
como se fosse feito
com o último grão no pilão socado

Daquela casa exalava
um cheiro de tempero
um gosto de arroz de rapa
e feijão cozido com carne seca
preparada no terreiro com sol e sal

A casa da Dona Clarinda era linda
uma rima no alto da rua que sumiu...
no meio da cidade que cresceu
cheia da vaidosa alvenaria
Sem mais nem menos
meu olhar perdeu o repouso
daquele recorte de paisagem
e a Dona Clarinda...
já tem máquina de lavar

A dona Clarinda era uma lavadeira que morava na minha rua....
 
A casa da Dona Clarinda

EPOPÉIA DA MARCHA PARA O OESTE

 
O portal da aurora translúcida foi aberto
No ponto mais alto da Serra do Roncador
Auriverde pendão fincado
Pela Bandeira Piratininga,
Dourado céu, púrpura-anil respinga,
Germina o porvir, Semente do Sol,
Transcende a civilização no crisol.

Um pouco antes... Xavantes,
Pouco depois, Bandeirantes
do Século XX
Seguem o traçado de memória,
Lei maior que determina
Novo rumo na história.
Tempos de sonho-realidade,
Eldorado, entre constelações
O manto azul bordado,
Cruzeiro do sul ... Três Marias,
O caminho todo estrelado,
Via láctea do elo reconhecido
Entre o presente e o passado
De povos que, de repente,
Têm um encontro marcado.

Sombras toscas da noite descem
Sobre o mistério revelado,
Rompem estalos no limite possível
do imaginário,
Onde o cerrado retorce o tronco
E brota do chão uma flor...
Mãos, botas e facas abrem picadas,
Avançam os pioneiros no sertão,
Deixam marcas, cinzas, braseiros
E passos ...
Na pista do desconhecido atalho,
Segue a expedição, inicia o trabalho...

Do Roncador ao Xingu
Penetrar a Amazônia,
Pelo Brasil Central
Demarcar nova estrada,
Antes que seja tarde... Liberdade...
Vai nascer a capital,
Brasília ... A Cruz Bendita,
No Planalto Central...
No coração brasileiro, criar vilas e cidades,
Expandir o celeiro, avançar no ideal.

Segue o homem o rastro do cometa sideral
Qual estrela anunciadora,
Nova manjedoura da mistura racial,
Raça Cósmica anunciada
Pelos modernos profetas,
Fruto das dores e esperanças
De toda a humanidade.

Entre as colunas das Serras
Do Roncador e Mantiqueira,
Ergue-se, bem alto, a fogueira
Da vida que se fermenta
Após a última tormenta,
Antes do próximo final...

Gira o tempo...
A ampulheta registra
Nova conquista,
No tilintar dos metais
Confundindo enxadas e bateias,
Ganância de ouro nas areias,
No rastro do século XVII
Garimpeiros moendo a rocha do Araés,
Veios que indicam riqueza e peste
Na Marcha para o Oeste.

Antes, luta de descobertas,
Hoje, luta de posse das glebas.
Cresce o Vale do Araguaia,
Última cruzada que indica
O lastro do sagrado que edifica,
O Santuário do vir a ser.
Além da última fronteira,
Após a travessia do Rio das Mortes,
Da ponte que religa tantas sortes,
Água verde-esmeralda purifica
O vislumbre celeste das hostes.

Reencontro de ambições e festas,
Soma de lições de um povo que atesta
A coragem desses homens
Que abraçaram esta missão
De abrir caminhos novos de civilização.
Pioneiros destemidos
Caminhando no sertão,
Rompendo a fronteira do desconhecido,
Realizando a Expansão

Avante, Geo-Centro!
Avante, Brasil Central!
Ergue bem alto esta tocha,
Faz brilhar esta estrela!
Revive o sonho-celeiro,
Alvorada de luz ...
Vitória da vida que reluz
No Centro-Oeste Brasileiro.

1991
 
EPOPÉIA DA MARCHA PARA O OESTE

MADRIGAL PIMPILANTE

 
Chuvinha fina
afina meu olhar
perdido no seu crespingar

Chuvinha a chuviscar alegria
rega a paisagem

Dissolve meu pensamento líquido
a entender no acinzentado matinal
seu flutuar

Chuvinha fica
purifica o despertar
lava a alma da manhã
leva seu brotar de semente
às entranhas da terra
O coração do gênio das águas habita seu farfalhar

Chuvinha não vacila
Pimpila
Pilimpimpala
seu crespingar
 
MADRIGAL PIMPILANTE

Medit'ação

 
Se me’dito
Dito-me algo
inaudito
 
Medit'ação

A TERCEIRA INTENÇÃO

 
De segundas intenções
O mundo está óbvio demais...
Está na cara dura do salve-se quem puder
Do salvar a própria pele e sair liso e ileso
Pisando em quem pode e chutando
O que vem pela frente...
Ética... pra quê?
Se é melhor levar vantagem

É assim que muitos... os mesmos de sempre
Sempre e todo dia agem...
E saem rindo como se tivessem
Vencido todas as batalhas e engolido a paisagem
No entanto, já perderam as lutas maiores
No seu vôo rasante rumo à mediocridade

São obedientes desnecessários
Pensam que enganam todos os otários
E vivem de favores dos seus proprietários
Já entregaram a própria alma...
E o troco que recebem se reverte na miséria
Que espalham por todos os lados

Ganham as paradas e paralisam as verdades
E essa paralisia é tão irreversível
Que se volta contra eles, mas não percebem
Mais nada... pois estão viciados
Nos seus pobres domínios de maldades...

Sanguessugas de si mesmos
Solapados de si próprios
Meros meliantes do passado
Defendem o que há de mais retrógrado
E lutam com unhas e bicos... feito urubus
Disputando a carniça fedorenta
Das suas intrigas

Assim vão destruindo por onde passam
Deixando no seu rastro os restos
Repisados dos seus atos desnorteados
Sem reflexos... circunflexos...
E ensimesmados

23/24/06/99
 
A TERCEIRA INTENÇÃO

Arara

 
Rara cor azul
coberta de céu

Esconde debaixo das asas
raios de sol

Enfeita o galho seco
no cerrado arado
arranhado de gritos
e ronco de serras

rasteja o vento
sibilante cascavel
e o sapo em baixo
da pedra coaxa

acha o buraco o tatu

e tu?
 
Arara

As Fiandeiras

 
Fiando e Descon'fiando

Fiando...
Fiam e tecem
Con'fiam descon'fiando
os fios do destino

Se descon'fiam
anoi'tecem
e tramam
o fino tecido
com que vestem
as horas do dia...

Jan.200
 
As Fiandeiras

Alma Gêmea

 
Éramos nós
Um só coração
E' ternos laços
 
Alma Gêmea

Tirania versus Rebeldia

 
Tiranos
Mandam... desmandam
Tiranos tiram-nos
Atirando misérias por toda a parte
Ditadores
Ditam dores e riem de tudo e de todos
São desesperados de uma esperança maior
São doentes atormentados
pelos fantasmas que os perseguem
e os derrotam todo dia
na obscuridade das suas entranhas
mas continuam desafinando a harmonia
desafiando o amor
e atrapalhando a evolução das sociedades

Resta aos rebeldes
o canto da liberdade
ainda silencioso e solitário
mas que em breve vai ecoar
em todas as praças
no grito uníssono
da cidadania contra a tirania
 
Tirania versus Rebeldia

Ilusão

 
O oculto boia na superfície
A superfície é mole e funda
Espelho de reflexo côncavo e convexo
 
Ilusão

CONGRUÊNCIA

 
Ciência quer transparência
Transcender a forma
Tocar a essência

Arte quer inspiração
Construir a Divina proporção
Fazer conspiração

Filosofia quer utopia
Realizar poesia
Transcender em Sabedoria

Três eixos do conhecimento
Contemplando-se face a face
E diante do maior impasse
Construir a consciência
E conter
A Cósmica Ciência
No humano ser

A intelectualidade organiza o saber
Classifica, divide, analisa, quer provas científicas
Levanta hipóteses...
Cria teses e antíteses
Na grande busca de síntese

Faz leituras e releituras
Esmiúça a mínima parte
E reparte-se em realidade
Para a real idéia
Edificar
Com lógica, analógica, dialógica, metodológica

Constrói, des’constrói, reconstrói
Dialéticas, trialéticas
Teorias e práxis
Conceitos, ações
Conceituações...

Para assumir a maior de todas as incógnitas...
Saber que nada sabe...

14.01.2002 – Nazareth Bizutti
 
CONGRUÊNCIA

Ausência

 
Congelei o tempo n'alma
Meu coração derrete aos poucos
Em lágrimas-orvalho
 
Ausência

Controvérsia

 
Disse me disse
Diz que condiz
Visse ou’visse
 
Controvérsia