Rosalinda, Rosa Linda
ROSALINDA, ROSA LINDA
Rosalinda, se tu fores à praia
Se tu fores ver o mar… (Fausto)
Rosalinda é uma rosa linda,
De olhos grandes como o mar.
E o mar é um campo grande, azul,
Com rosas brancas a ondular;
E Rosalinda, uma gaivota a descansar.
Música: Fado Corrido – Popular
Constrói castelos de areia,
Búzios, estrelas-do-mar;
Bonecos que a maré cheia
Vem, um a um, apagar.
Rosalinda é persistente,
Tem paciência de sobra,
No dia a seguir, contente,
Põe de novo mãos à obra:
Um golfinho, uma baleia,
Um barco p’ra navegar,
Mais um boneco de areia,
Que faz caretas ao mar.
Sente as carícias do vento
Olha o voo das andorinhas,
E esboça em cada momento
Um sorriso, que dá alento
Às almas que estão sozinhas.
O sorriso é uma semente,
Uma semente diferente;
Botão de rosa luzente,
Que desabrocha e dá flor.
Não num vaso ou num canteiro,
Não no campo ou num jardim…
Na boca de toda a gente!
Gosta do mar: cheira a vida,
A caranguejo, a luar;
Da subida e da descida
Das ondas, do baloiçar
Dos barcos, ali de fronte;
Da linha do horizonte,
Que divide céu e mar.
Rosalinda é decidida:
Nos labirintos da vida,
Nunca se deixa enredar.
Tem sempre as palavras certas,
E no peito, sempre abertas,
As portas de par em par.
Quando nasceu, Rosalinda
Levou mais tempo a nascer;
E foi esse tempo a mais
Que fez Rosalinda ser
Diferente das demais
Crianças ao seu redor:
Leva mais tempo a aprender.
Mas isso que tem, se tem
Todo o tempo para saber!?
Tanta coisa que Já sabe!
De amor, sabe ela tanto
Como qualquer um de nós.
Talvez até saiba mais!
Num olhar diz coisas tais,
Que nos faz perder a voz;
Tem tanta, tanta alegria
No seu sorriso feliz,
Que sem saber irradia
Uma luz que a todos diz:
(Aos presentes, indiferentes,
Ausentes e outros que tais),
Que embora sendo diferentes
Todos nós somos iguais.[/color]
1º Prémio no XX Concurso de Poesia da APPACDM de Setúbal
NÃO SEI NAMORAR A LUA
NÃO SEI NAMORAR A LUA
Vadia, de rua em rua,
Na minha não se demora.
Não sei namorar a lua,
A lua é que me namora.
A FLOR MAIS FORMOSA
A FLOR MAIS FORMOSA
(fado para a Maria, minha neta)
Traz os teus lápis de cera,
Vem desenhar uma pera
Bem gostosa, amarelinha.
Pega nos lápis de novo,
E desenha agora um ovo
E, ao pé do ovo, a galinha.
Traz os teus lápis de cor
E desenha, com amor,
Um coração cor-de-rosa.
Dentro deles, pai e mãe,
Tios avós e tu também,
Tu, que és a flor mais formosa.
Traz agora as aguarelas
Para pintares as mais belas
Roseiras do teu jardim.
Rosas de todas as cores,
Para os teus grandes amores,
E não te esqueças de mim!
(in Fado Maior, Ed. Lua de Marfim- 2016)
ESSE TEU JEITO DE ANDAR
Esse teu jeito de andar,
A graça do movimento,
Foi aprendido com o mar
Ou é capricho do vento?
MAR
MAR
Na concha do búzio,
habita todo o som do mar.
Encosto-a ao ouvido
e derramam-se ondas.
DEIXA LÁ GIRAR A LUA
DEIXA LÁ GIRAR A LUA
Música: Fado Perseguição – Carlos da Maia
Mandaste a lua espreitar
O que eu andava a cantar,
Agora, que tu não estavas.
Veio a lua e, por sinal,
Cantava um fado banal
Daqueles que tu cantavas.
Mandaste e lua depois
Perguntar se p´ra nós dois
Ainda haveria um fado.
“Ó meu bem não há maneira
Quer se queira ou se não queira,
Não se conserta o passado! ”
Quiseste ainda sabe
Qual era a razão de ser
Deste tempo sem futuro.
“Ciúmes desconcertantes,
Que os amores inconstantes,
Não trazem porto seguro”.
Quiseste saber por fim,
Se eu queria minha alma assim,
Virando costas à tua.
“À noite sucede o dia,
Meu amor, sem ironia,
Deixa lá girar a lua!”
(in Fado Maior, Ed. Lua de Marfim, 2016)