O passado não cresce
O passado não cresce asilo
De fronteiras em bosque
Invade torto o descompasso
Lembrar evade
Sumo verte
Desgarra e senhor
Como balanço
Cru definido
Decreto sacro matador
São olhos rentes baços
Carrascos, atiçam os cães
Murmúrio ardil
Rosnado, por acertar
Quando te mexes
Por encontrar
Em ti desces
Desconhecido
Sem lembrar
O passado não cresce
Melancolia
Texto integrante do Livro "E É Só e Não É Poesia" editado pela WAF.
Funeral
Nunca tinha ido a um funeral... Penso, tremo, ganho coragem... Era o funeral duma mulher... Uma mulher nova... As pessoas, que abrigavam o caixão na sua companhia, eram-me familiares... Alguns são mesmo meus amigos, poucos... Os outros nem sei quem são... Dizem-me que o cadáver da mulher está irreconhecível... O caixão, por isso, fechado está... Ninguém chora... Estranho... Penso para mim... O pai dela não chora, a mãe também não... Porque será que ninguém chora?... O padre começa... Não... Não consegue falar... Engasga-se... O negro veste todos, chove e ninguém fala... Ninguém chora esta morte... Perguntam-me... “Porque vieste aqui? Tu nem a conhecias”... Respondo... “Queria vir a um funeral e resolvi começar por este”... Sim, a manhã trouxe-me a notícia deste alguém... Desta mulher que eu não conhecia... Resolvi despedir-me dela... É mais fácil dizer adeus quando não conhecemos... Mas, ao mesmo tempo, penso comigo que vida foi esta que ninguém a chora... Todos parecem cumprir uma espécie de obrigação... Olham para o caixão com um ar entediado... O padre conclui o que não começou... “Ámen”... E alguém diz... “Finalmente, já estava farto de estar aqui”... Continuo sem saber quem era, apenas que se tinha suicidado...
Palhaço
Palhaço prometido à dor, à ironia do mistério... Choro de cara pintada, náusea cómica... Amarga numa gargalhada azeda e acre, aplaudem todos eles de pé... Urra o público, estão felizes as crianças... Vénia à oferta, compromisso de sapatos coloridos... Andar arrastado, riso falso... Cabeleira velha, fato gasto pelo enigma... Há que honrar a promessa, sempre... Essa que lhe embalou o berço e lhe deu de mamar, sim essa... Há que honrá-la... Carpir num vazio de felicidade, pagando a vida com a arte de uma alegria dissimulada... Padece ele, anima-nos com piadas gastas... Todos se sentem contentes com o preço pago, as famílias até voltarão... Mas a dele não, nunca a conheceu...
Eu não sou profundo
Texto integrante do Livro "E É Só e Não É Poesia" editado pela WAF.
Verão
Ser Verão em ti, beijar-te solstício anéis de pele... Estio desnudo de sombras, soprar-te todo o tempo assim... De sorrisos e histórias deles, resplandecendo pela tua linha equador... Trópicos alvos de espanto, olhos de verdade diamante... Trovoada sem chuva, este mundo meu desconhece as horas de equinócio... Este mundo meu é Verão por ti...
Ansiedade
Texto integrante do Livro "E É Só e Não É Poesia" editado pela WAF.
Furtar a Lua
Texto integrante do Livro "E É Só e Não É Poesia" editado pela WAF.
M.
Texto integrante do Livro "E É Só e Não É Poesia" editado pela WAF.
Estou
Incorri, querendo contar-me... Dizer-te chegaste, um olá e um é... Fui, trazendo-te mais... Levar-te um dia e ouvir-me em ti... Escrever à mão rosa-dos-ventos, passos lábios norte ao mar... Desencontrar-me de vez, perdido ser musicando este estou...